“O destino só pode ser destino se decidirmos que queremos que seja”. Dita lá pelo meio de “Amor à Primeira Vista”, a frase se torna a força condutora do filme lançado pela Netflix. E se encontrássemos o amor por acaso e o deixássemos ir embora por simplesmente não agir? Dirigido por Vanessa Caswill a partir do roteiro de Katie Lovejoy (“Para todos os garotos: Agora e para sempre”), que adapta o livro “A probabilidade estatística do amor à primeira vista”, de Jennifer E. Smith, o filme manipula o espectador disposto a ser conduzido por uma história de amor.
“Amor à Primeira Vista” se inicia com o encontro de Hadley (Haley Lu Richardson, de “White Lotus”) e Oliver (Ben Hardy, o Roger Taylor de “Bohemian Rhapsody”) em um aeroporto. A caminho de Londres para o casamento do pai, ela perde seu voo e acaba sendo colocada no mesmo voo que Oliver. O filme apresenta os dois personagens rapidamente, com agilidade e linguagem pop, mostrando seus medos, suas particularidades e destacando as distinções e as semelhanças entre eles. Neste ponto, o filme de Caswill lembra muito o hoje clássico “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet, principalmente no ritmo acelerado e ao destacar as características mais “únicas” de cada um dos protagonistas.
O filme da Netflix busca o conforto, é um filme sobre amor idealizado, mas também uma dose de ousadia narrativa. É interessante como o texto oferece alguns pequenos clímax durante os 90 minutos de filme, criando arcos curtos e resolvendo esses conflitos sem apelar para o melodrama. Esses pequenos problemas reforçam um dos aspectos que o filme busca explorar, a necessidade de agir e não apenas esperar que as coisas se resolvam milagrosamente.
É irônico, diante de uma vontade de enfatizar a necessidade de agir para criar seu destino, que o filme utilize Jameela Jamil (“The Good Place”) como narradora e uma espécie de agente do destino, uma entidade disposta a dar uma forcinha para os protagonistas ficarem juntos. A personagem dá a “Amor à Primeira Vista” um tom fantasioso, quase irreal, mas também oferece à trama a força da contação de história, permitindo exageros e coincidências pouco prováveis.
O filme de estreia da diretora Vanessa Caswill é inegavelmente uma história de amor com protagonistas definidos, mas, enxuta, ela encontra força fora de seu arco principal. A trama paralela da família de Hadley é pouco interessante, apesar de essencial à trama; já o arco familiar de Oliver é ótimo, com personagens complexos e merecedores de mais tempo de tela – a vontade é ver mais daquela família. A montagem ágil e o bom texto possibilitam que o público se envolva com o drama mesmo mantendo uma certa distância, mais como observadores, quase como Hadley diante daquela realidade pela primeira vez.
“Amor à Primeira Vista” é moderninho, com pegada pop, trilha sonora indie pop e trechos prontos para viralizar. O filme se encaixa bem ao catálogo de comédias românticas da Netflix – é fácil pensar nele quase como a primeira obra natalina (há diversas referências) da temporada e imaginar a personagem de Jamil (que até ilustra a prévia do filme na plataforma) como um espírito de Natal.
Como não é estranho às comédias românticas, o filme abusa de alguns clichês em busca de conforto e de algumas conveniências para movimentar o roteiro. A diferença é que o texto de Katie Lovejoy (e o livro de Jennifer E. Smith) parecem ter plena ciência do que fazem; é como se elas fizessem um pedido “sim, é clichê, é uma coincidência boba, mas nos permita brincar com isso para que nossa obra funcione e você possa desfrutar dela”.
“Amor à Primeira Vista” é um filme bonitinho, que sabe misturar bem a comédia, o romance e um pouco de drama realista para que o público se aproxime daqueles personagens. Não é incrível, mas nem sequer tenta ser. Além disso, o filme da Netflix tem boas atuações e uma linguagem que mistura o pop atual com o que os millenials consideravam cult há 20 anos, uma receita que normalmente funciona bem.
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