Todo o roteiro de "Amor²", filme polonês da Netflix, depende da premissa de que há algo muito errado e vergonhoso em ser modelo na Polônia. Com formato que em muito lembra as comédias brasileiras produzidas pela Globo Filmes, o longa de Filip Zylber é um festival de clichês e situações improváveis que até poderiam render uma comédia romântica confortável, mas, mal amarrados, falham em tornar o filme uma experiência agradável.
"Amor²" conta a história de Monika, uma tímida professora que leva uma vida secreta como modelo sob o nome de Klaudia para ajudar o pai a pagar dívidas. Em um desses trabalhos, ela conhece Enzo, um modelo/influencer famoso e mulherengo. O primeiro contato, claro, é negativo - Enzo confunde Klaudia com uma garota de programa pouco antes de se encontrarem novamente em uma filmagem.
Em outra reviravolta do destino, Ania (Helena Mazur), sobrinha de Enzo, é aluna de Monika. Assim, à medida que o estranhamento com Klaudia se transforma em afeto, cresce também a relação do modelo com a professora. Isso tudo sem ele saber, obviamente, que as duas são, na verdade, a mesma pessoa.
Com o cenário posto, “Amor ao Quadrado” pouco explora esse jogo comum em comédias de dupla identidade. O texto se preocupa mais em desenvolver as “duas” relações de forma paralela, com poucos embates, até preparando bem as peças para o clímax, mas o conflito nunca surge de fato. Essa escolha praticamente tira o lado “comédia” do filme, transformando-o apenas em um romance com pouco tempero.
O roteiro também falha em suas soluções e viradas, todas são muito repentinas e às vezes não fazem sentido algum mesmo que compremos a ideia de que é impossível distinguir Monika de Klaudia. Há, ainda, uma subtrama pouco atrativa na escola em que Monika trabalha - às vésperas de um exame de avaliação do ensino, a protagonista é perseguida pelo diretor que, por algum motivo que nunca é explicado, busca algo para justificar sua demissão. Outra subtrama de nenhuma relevância é a da mãe de Ania, que parece ter sido picotada durante a edição do filme; a personagem é citada diversas vezes, inclusive perto do clímax, mas nunca ganha importância nem mesmo como pano de fundo.
Voltando à questão do primeiro parágrafo deste texto, há uma vergonha inexplicável de Monika em sua carreira como modelo, mas esse sentimento não é só dela, visto que um dos conflitos do filme inclui até uma chantagem para não revelar como a professora realmente ganha seu dinheiro - esse conflito, assim como todos os outros, também não é desenvolvido além de uma ou outra cena.
“Amor ao Quadrado” opta pela caricatura que o aproxima da narrativa de filmes brasileiros como “Qualquer Gato Vira-Lata” ou “S.O.S. Mulheres ao Mar”. Desde o início o público sabe o que vai acontecer, mas espera ao menos ser surpreendido ou cativado pela maneira como as viradas acontecem. Não é o caso.
Quer dizer que não há nada bom em “Amor ao Quadrado”? Bem, Varsóvia poucas vezes foi fotografada tão ensolarada e bonita quanto no novo filme da Netflix. No geral, o filme é totalmente descartável e mais parece um encadeado de esquetes retiradas de outras comédias bem mais eficazes.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.