Uma comédia romântica razoável não exige muito de seus criadores, bastam alguns personagens carismáticos e situações com as quais o espectador se identifique e se projete em tela. A ideia é fazer com que o público acredite que, se aquela história de amor é possível para aqueles personagens, a de quem os assiste com certeza está guardada, esperando o momento certo para acontecer.
Lançada há dois anos quase exatos (fevereiro de 2021), a comédia romântica polonesa “Amor²” (ou “Amor ao Quadrado”) se tornou um sucesso na plataforma com um texto cheio de problemas e com alguns conceitos estranhos. O filme, porém, trazia uma protagonista minimamente carismática, Monika (Adrianna Chlebicka), uma professora de crianças que faz um trabalho como modelo às escondidas, para ajudar o pai, mas se torna uma celebridade e conquista o bonitão Enzo (Mateusz Banasiuk), um popular jornalista/influencer de carros esportivos.
“Amor² Outra Vez” dá sequência ao filme de 2021 no modo piloto automático. O filme tem início após as férias de Monika e Enzo; quando eles retornam a Varsóvia, tudo mudou: ela se tornou uma celebridade e ele, um pária para o mercado, o que nunca é muito bem explicado. Após perder um contrato, Enzo se torna persona non grata em todos os cantos por onde circulava. Paralelamente, Monika retoma as atividades da escola, mas logo é convidada para apresentar um show de talentos infantis na TV ao lado do arrogante bonitão Rafal Wisniewski (Mikolaj Roznerski), introduzido de forma brusca, como se já o conhecêssemos. Quase toda a trama do filme se desenvolve nessa dualidade de Monika alcançar o sucesso enquanto o namorado mergulha no ostracismo.
Tudo isso é apresentado rapidamente, como em uma montagem de passagem de tempo, sem respiro. Quando a narrativa finalmente toma um ar, o filme tenta criar um possível triângulo amoroso entre Monika, Rafal e Enzo. Mergulhada no trabalho, a protagonista passa tempo demais com seu parceiro de cena enquanto seu namorado, em busca de apoio, fica sozinho. O texto inicialmente força uma situação de desentendimento entre Monika e Rafal para depois tentar desconstruir o apresentador e torná-lo mais atrativo aos olhos do público. Esse esforço até funciona, mas um possível relacionamento entre eles é forçado pelo roteiro, nunca surgindo como uma possibilidade natural.
Tal qual o primeiro filme, “Amor² Outra Vez” se esquece do lado “comédia” e entrega apenas um drama romântico enfadonho. O arco do triângulo amoroso é totalmente esquecível, com conflitos forçados e pouco interessantes, o que fica claro pela maneira como se dá a virada. O diretor Filip Zylber e os roteiristas Natalia Matuszek e Wiktor Piatkowski quase parecem entender que o filme a fragilidade do arco principal e, por isso, buscam algumas tramas paralelas.
Há, por exemplo, uma trama envolvendo o personagem de Miroslaw Baka, que vive o pai de Monika, e ela é tão superficial quanto poderia ser adorável; outro arco subaproveitado é o da busca de Enzo por se recolocar no mercado. Talvez até de forma não intencional, o roteiro esbarra na questão da fragilidade masculina de ser sustentado pela mulher bem-sucedida. O filme também ensaia explorar o talento de Enzo em novas mídias e linguagens, mas se esquece totalmente dessa possibilidade na cena seguinte, deixando claro que ela está ali apenas para ocupar algum tempo de tela. Até o diretor da escola (Tomaz Karolak) tem um mini-arco, mas ele é muito ruim, desaguando na constrangedora sequência de encerramento de “Amor²”.
Fiel à fórmula e não assumindo risco narrativo algum. “Amor²” é caricato na construção de seus personagens - perceba, por exemplo, como os “vilões” mudam penteados e a forma de se vestir para se contrapor à bondade da impecável Monika. O filme tampouco desenvolve seus possíveis conflitos; para os envolvidos, basta uma Varsóvia ensolarada e pessoas lindas e sorridentes. Justamente por isso, o filme polonês talvez caia no gosto de espectadores em busca de 100 minutos de distração tão inofensiva quanto esquecível.
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