Após o sucesso de “Amor²”, em 2021, e “Amor² Outra Vez”, no início deste ano, a inevitável continuação “Amor² Para Sempre” chega sem muito alarde à Netflix. A série de filmes (seria uma franquia?) de comédia romântica polonesa segue o que se espera dela em um filme ainda pior que os outros dois, mas que facilmente encontrará sua posição entre os mais vistos da plataforma.
Quando tem início, “Amor² Para Sempre” tem Monika (Adrianna Chlebicka) e Enzo/Stefan (Mateusz Banasiuk) estão juntos, felizes, e ele está prestes a pedi-la em casamento, planejando uma grande surpresa para o pedido. Para que tudo saia perfeito, ele, que não é um sujeito muito religioso, mas quer fazer tudo “certinho”, dá um jeito de aceitar que a igreja que sua família frequenta desde que ele era uma criança, aceite realizar a cerimônia mesmo que ele tenha se afastado da religião.
Por algum motivo estranho, o padre exige uma contrapartida de Enzo, que ele encontre uma ex-namorada chamada Ewa (Ina Sobala) e a reconduz à igreja. O problema é que Enzo sempre foi um sujeito namorador e se relacionou com mais de dez mulheres chamadas Ewa. Ele, então, parte em busca da ex-namorada em questão para que possa, enfim, se casar com Monika na igreja.
“Amor² Para Sempre” coloca Monika no lugar de coadjuvante e praticamente a deixa de lado enquanto Enzo busca por Ewa. Abusando de estereótipos e de piadas de gosto duvidoso, o texto tem dessa breve montagem sua única parte cômica; de resto, tal qual o filme anterior, “Amor² Para Sempre” é um drama romântico de pouquíssimo impacto. O roteiro cria os conflitos esperados para o gênero, mas nunca os explora para criar um arco em torno deles ou tampouco os resolve.
O filme dirigido por Filip Zylber, também responsável pelos anteriores, parece um apanhado de ideias saídas de uma sala de roteiro sem muita conexão entre elas ou até mesmo com a realidade. Assim, “Amor² Para Sempre” subestima a inteligência o espectador, exigindo que ele releve comportamentos e atitudes dos personagens, principalmente de Enzo e Ewa, uma das pessoas mais irritantes e artificiais já criadas pela dramaturgia. Em uma cena, por exemplo, ele não quer que ela saia com o carro, mas tampouco se preocupa em levar a chave consigo; da mesma forma, ele passa a dar mais atenção para a ex do que para a noiva – e o texto trata a reação de Ewa como um exagero. Essas escolhas nos levam de volta aos conceitos equivocados presentes desde o primeiro filme, que via o trabalho de Monika como modelo (algo totalmente esquecido depois dali) como algo absurdo, que não combinava com uma mulher “correta”.
“Amor² Para Sempre” parece não confiar em sua protagonista para conduzir o filme. Resta a Monika um arco bobo na escola em que trabalha e o processo de condução da relação de Enzo com Ewa. É irônico como o filme parece se entender como progressista em algumas posições, como ao colocar Monika como nova diretora da escola, mas, na maior parte do tempo, ela é uma mulher fria, quase um incômodo para Enzo. O filme traz ainda outros arcos, como o do pai de Monika, vivido por Miroslaw Baka, e o filho de sua namorada, mas eles nada acrescentam ao já vazio lançamento da Netflix.
Apesar do sucesso que, aos olhos da plataforma, justifica que os filmes “Amor²” continuam sendo lançados, todos eles parecem ser produzidos em uma linha de produção, sem alma, com robôs ou inteligências artificiais não muito boas requisitados para escrever uma história sobre sentimentos. Ao fim, “Amor² Para Sempre” consegue a façanha de ser pior do que “Amor² Outra Vez”, que, por sua vez, é inferior ao original, que já não é muito bom. Quem estiver atrás de uma boa história romântica na Netflix pode optar pela ótima minissérie “Um Conto de Fadas Perfeito” ou até mesmo por algum drama coreano como “Sorriso Real”, que não é bom, mas pelo menos tem identidade própria.
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