Vendido como uma história “real” (as aspas são importantes), “Assombrosas”, filme espanhl lançado pela Netflix, depende muito do limite do espectador em acreditar o que é ou não real. O filme de Carlos Theron acopanha o grupo Hepta, criado pelo padre Pilón, em 1998, para investigar casos para os quais a ciência não tem resposta. Desde o início o filme faz questão de se apresentar como baseado em fatos, com a utilização de algum material de arquivo para introduzir ao público quem são o padre Pilón (Emilio Gutiérrez Caba) e seu grupo hepta, formado por Sagrário (Belén Rueda), Paz (Gracia Olayo) e Gloria (Toni Acosta).
Após uma breve introdução dos personagens, o filme tem início de fato quando o padre vai investigar um antiquário com relatos de acontecimentos estranhos e onde um crime brutal aconteceu. As coisas saem do controle e o padre acaba em coma, deixando para as mulheres do grupo Hepta o peso de desvendar o ocorrido para, quem sabe, conseguir fazer com que o padre acorde.
Cada uma das personagens é apresentada com uma questão particular para conferir certa profundidade aos personagens, mas são Sagrário, que tenta se comunicar com o marido morto, e Gloria, doida para largar a “profissão” e virar farmacêutica, que ganham mais destaque - Paz, responsável pelas imagens dos eventos, funciona como alívio cômico e para colocar o enxuto roteiro em movimento.
O filme apresenta seu universo, suas regras e possibilidades de maneira didática, mas sem exagero. Na primeira “missão” que presenciamos, o grupo tem a companhia de Pablo (Óscar Ortuño), um jovem estudante de física que faz as vezes do espectador na trama. Tudo é devidamente explicado ao personagem e, consequentemente, ao público, num esforço de deixar a trama perto do possível, de algo que se possa crer ser baseado em fatos.
É interessante como Carlos Therón filma essa primeira sequência de terror de forma sóbria, com muitos efeitos práticos, jogo de luzes e maquiagem, com a ação baseada em objetos voando e o medo estampado no olhar das personagens. É curioso, no entanto, como o diretor opta por um caminho mais fantasioso na segunda parte de “Assombrosas”, deixando ainda mais difícil crer que o filme tenha alguma conexão com a realidade.
Do meio para o fim, “Assombrosas” se perde em uma ambição por ser mais grandioso. A principal virada do roteiro é previsível, mas não é isso o que incomoda. Quando se aproxima de sua conclusão, o filme abusa de elementos fantasiosos realizados com efeitos visuais de baixa qualidade, afastando totalmente qualquer possibilidade de alguém realmente acreditar estar diante de fatos ocorridos.
Na tentativa de se tornar menos um filme de terror sobrenatural, “Assombrosas” assume um estilo de narrativa fantástica que não faria feio em obras como “Doctor Who”, por exemplo, o que não funciona para o filme. Ao fim, não há recorte de jornal ou fatos apresentados em letreiros após o fim do filme que façam alguém acreditar no que viu.
Mesmo com problemas de roteiro (Pablo é tirado do filme com uma justificativa horrível), “Assombrosas”, talvez até pela sua curta duração (90 minutos), é um bom passatempo e funciona durante algum tempo. A construção do terror da primeira “possessão” é boa, mas todo o resto é muito canastrão e novelesco para ser levado a sério.
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