Lançado no início de 2022, “Através da Minha Janela” é um drama teen bem filmado, mas que carece muito de desenvolvimento de personagens. O foco da adaptação do romance de Ariana Godoy é claro: a sensualidade e a tensão sexual constante e crescente entre Raquel (Clara Galle) e Ares (Julio Peña). O filme dirigido por Marçal Dorés com texto adaptado por Eduard Sola opta por ignorar toda a construção da relação presente no material original para priorizar a estética e o apelo sexy do texto. Essa escolha rende boas cenas, mas compromete os personagens, e cobra um preço ainda maior em “Através da Minha Janela: Além Mar”.
Enquanto o primeiro filme apresentava os personagens e “construía” (as aspas são importantes) o relacionamento deles, o segundo teria o trabalho de desenvolvê-los. Reencontramos Raquel e Ares distantes, ela estudando Letras em Barcelona e ele, Medicina em Estocolmo. O incômodo da distância é apresentado logo nos minutos iniciais, trecho em que o filme deixa claro que a vida de ambos não anda lá essas maravilhas.
Finalmente as férias chegam e o casal vai para um paradisíaco balneário para onde todo mundo resolve ir também. Assim, Yoshi (Guillermo Lasheras), Daniela (Natalia Azahara), Artemis (Eric Masip), Claudia (Emilia Lazo) e mais uma galera aparece na casa da família de Ares sem um devido convite.
“Através da Minha Janela: Além Mar” obviamente se preocupa muito com a estética. O filme é bem trabalhado e faz bom proveito das belas locações, mas se perde ao transformar tudo em uma grande sequência de montagens intercaladas por cenas de sexo e alguns diálogos de qualidade duvidosa. Logo de início, por exemplo, para demonstrar o interesse de todos os jovens por sexo, Forés faz praticamente um vídeo clipe intercalando “sensuais” cenas com eles chupando sorvetes. Talvez, na cabeça do diretor, isso tenha parecido uma boa ideia, mas, na prática, parece uma sátira, algo pensado para uma esquete cômica.
É curioso como o primeiro filme dava indícios de que a continuação mergulharia na hipocrisia dos Hidalgo, mas a relação de Artemis com Cláudia, funcionária da família, é superficial, apenas um conflito extra para dar estofo à trama. O filme tem seu óbvio foco nos protagonistas e nas dificuldades deles manterem uma relação saudável. Todas as pessoas ao redor de Raquel e Ares, no entanto, parecem querer sabotar a relação, uns com interesses particulares no fim dela, mas outras parecem apenas não respeitar o namoro.
“Através da Minha Janela: Além Mar” é notavelmente o meio de uma história, o segundo ato de uma história que irá ser concluída com “Através da Minha Janela: Olhos nos Olhos”, terceiro filme da série. Assim, o filme tem a função de levar a história de um ponto a outro, de conectar filmes, mas nem sempre tem a ciência disso. Para ser justo, o texto até movimenta o relacionamento, mas tudo é artificial – talvez se houvesse mais história e menos montagens, haveria alguma profundidade.
Quando se aproxima do fim, já em seu terceiro ato, “Através da Minha Janela: Além Mar” traz também uma interessante e até ousada mudança de tom. O desenrolar dessa virada, no entanto, é muito ruim, entregando alguns dos piores diálogos já registrados em qualquer filme ou série do gênero. Mesmo não sendo bem construído, parecendo pouco natural e exagerada, o terceiro ato pelo menos parece indicar bons caminhos para a confirmada conclusão da trilogia.
“Através da Minha Janela: Além Mar” falha ao não entregar mais sobre os personagens do primeiro filme, mas pelo menos movimenta a história e a coloca no caminho do terceiro filme. A direção de Marçal Forés ainda sofre com a ingenuidade do material original, mas parece não se incomodar com isso, muito pelo contrário, ele potencializa essa característica. O diretor está muito mais preocupado em criar belas sequências de Raquel com os seios à mostra do que em discutir quão saudável é a idealização do que seria um romance perfeito.
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