"Esquadrão Suicida" (2016) foi um dos raros filmes que me fizeram questionar o que eu estava fazendo naquela sala de cinema e lamentando que jamais teria de volta aqueles 123 minutos de vida - e não era trabalho, pois assisti a ele durante as férias. Assim, as expectativas para "Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa", um derivado daquele filme, eram as mais baixas possíveis.
A boa notícia é que o novo filme da DC é o filme que o de 2016 deveria ter sido. A história de Harley Quinn (Margot Robbie) é uma aventura cheia de estilo, algumas boas piadas e com uma trama que sabe o tamanho que o universo da personagem tem, ou seja, nada de raio azul descendo do céu e uma ameaça que pode acabar com a humanidade. O filme dirigido por Cathy Yan entende sua protagonista e o roteiro de Christina Hodson ("Bumblebee") cria uma trama à medida ideal.
Desde o primeiro momento, com desenhos apresentando uma breve história da Arlequina, "Aves de Rapina" mostra que tem identidade. Em seguida somos levados diretamente à protagonista contando detalhes do término de seu relacionamento com o Coringa e tudo o que isso significava para sua posição no mundo do crime de Gotham - de protegida e intocável, Harley se tornou alvo de todos a quem já fez mal.
O filme não demora a engrenar sua trama e entregar seu vilão: Roman Sionis (Ewan McGregor), um mafioso com ambições de ampliar seu domínio para toda Gotham. Claro que Harley entra em seu caminho, assim como a detetive Renne Montoya (Rosie Perez), a ladra Cassandra Cain (Ella Jay Basco), a cantora Dinah Lance (Jurnee Smollett-Bell) e uma misteriosa assassina que usa uma besta como arma (Mary Elizabeth Winstead).
Ao contrário de "Esquadrão Suicida", que tentou se tornar mais "moderno" após o sucesso de "Deadpool" (2016), "Aves de Rapina" tem estilo desde o início, mesmo repetindo algumas fórmulas supostamente descoladas como a quebra da quarta barreira. Margot Robbie domina a tela com ótimas coreografias de luta e muita cor - toda a cena da invasão à delegacia é fantástica e até inventiva. O filme também resgata muitos elementos do cinema de aventura urbana e até um clima de perseguição meio "John Wick" (Chad Stahelski, diretor da trilogia estrelada por Keanu Reeves, ajudou com as cenas de luta).
Girl Power
O ponto mais importante de "Aves de Rapina" é como ele trata não só a protagonista, mas todas as personagens femininas, que encaram qualquer coisa sem homem algum. Com o filme escrito e dirigido por mulheres, a trama toda gira em torno de libertação feminina, seja de relacionamentos tóxicos como Arlequina ou de homens controladores e machismo no ambiente de trabalho, caso de Montoya e Lance. O filme de Yan é pura sororidade.
Apesar das excelentes cenas de ação e da força da mensagem que carrega, "Aves de Rapina" tem problemas. A narrativa é uma bagunça que pode ou não ter sido intencional - a narradora, afinal, é esquizofrênica. De qualquer forma, a escolha prejudica o filme com tantas idas e vindas o tempo todo, criando diversos flashbacks que atrasam o caminhar da trama.
O roteiro também demora muito para reunir suas personagens em torno de uma causa. Assim, quando o faz, mesmo que a cena exploda em uma grandiosa sequência de ação, a impressão que fica é de que poderíamos ter visto mais daquilo. Ainda, algumas escolhas e decisões de roteiro no terceiro ato quase comprometem a reta final do filme.
Ao fim, "Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa" é leve, louco, divertido e importante. O filme traz algumas das cenas de lutas mais criativas do cinema recente e serve como veículo para Margot Robbie mostrar sua versatilidade. A conclusão abre possibilidades para spinoffs que podem tanto ir para a TV, mídia em qual funcionariam bem, quanto ter ambições na tela grande. As duas escolhas seriam ótimas para vermos mais das coadjuvantes, pois é impossível sair da sala sem achar que elas foram subaproveitadas.
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