Houve uma época, ali no final dos anos 1990 e na primeira década dos anos 2000, antes de a Marvel se consolidar como uma gigante, que os filmes de heróis eram mais simples. “X-Men” já havia feito sucesso com dois bons primeiros filmes e um terceiro que não funcionou tão bem, o mesmo aconteceu com o Homem-Aranha, e a ideia era aproveitar esse mercado em uma época ainda de oportunidades. Assim, filmes com personagens poderosos pululavam pelas telas, de obras-primas como “Corpo Fechado” (2000), que só foi ser devidamente explorado mais de quinze anos depois, a outros de qualidade duvidosa, como “O Vidente” (2006)”, “Heróis” (2009) e “Jumper (2008), além do sucesso inicial da série “Heroes”. Havia a demanda e o vácuo do mercado, mas poucos se aproveitaram disso.
Recém-lançado pela Amazon Prime Video, “Awereness: A Realidade é uma Ilusão” se assemelha tanto a esses filmes que parece deslocado no tempo. Dirigido e escrito por Daniel Benmayor, cujo maior crédito é a medonha série “Bem-vindos ao Éden”, da Netflix, o filme espanhol acompanha Ian (Carlos Scholz, de “Toy Boy”), um jovem capaz de criar ilusões e fazer as pessoas verem coisas. Ao lado do pai, Vicente (Pedro Alonso, o Berlim de “La Casa de Papel”), Ian aplica pequenos golpes para sobreviver, mas está cansado dessas “pequenices” – Ian quer mais, quer dar um golpe maior, roubar um banco, uma grande empresa, mas seu pai sempre veta a ideia, pois “chamaria muita atenção”.
Um dia, após um pequeno roubo sair do controle, Ian usa seus poderes em maior escala e acaba sendo notado por autoridades. Ele se torna, então, alvo de um grupo fortemente armado e também de um misterioso sujeito que aparenta ter os mesmos poderes que ele. No meio disso tudo, o jovem não sabe em quem pode confiar ou como descobrir a verdade sobre seus poderes e sua família.
“Awareness” é um filme de bom gosto, ciente de suas limitações orçamentárias, e que não mira nada além de seu alcance. A ideia de Daniel Benmayor é clara: criar algumas boas cenas de ação, uma ou outra reviravolta em um clima de conspiração e, quem saber, conseguir fazer mais filmes nesse mundo. O diretor, porém, esbarra em um problema comum para obras do gênero, o texto.
O roteiro do filme do Prime Video não chega a constranger, mas tampouco torna a narrativa interessante. É possível identificar algumas viradas desde o início e os personagens são pouco interessantes. Para que o espectador seja surpreendido pela última revelação do filme, ele precisa ter comprado uma ideia muito mal vendida pelo texto. É curioso que, quando essa virada finalmente se apresenta, ela já estava na cabeça do público, e tudo é resolvido de forma covarde, com medo da subjetividade ou de um final aberto.
Mesmo sem um primor de texto, “Awareness” tem alguns méritos. O filme faz muito com pouco, criando boas cenas de ação com algumas boas ideias, como sequência do terceiro ato em que corpos se levantem. Benmayor utiliza bem movimentos de câmeras e efeitos sonoros para criar seus poderes no imaginário do público – não há raios saindo pelos olhos ou computação gráfica com personagens voando, por exemplo. O diretor opta por efeitos práticos sempre que possível e o resultado é bom, salvando o filme da mediocridade.
“Awareness: A Realidade é uma Ilusão” vende bem a ideia de que tudo é possível e nada é o que parece ser, criando um clima eficiente de paranoia na trama apesar de um roteiro raso e derivativo. Não há novidades, mas há algumas boas ideias e uma execução que garantem ao filme o mínimo de interesse. Se tivesse sido feito há 20 anos, o filme do Prime Video se tornasse cultuado, mas talvez a facilidade do acesso na plataforma da Amazon garanta a ele esse mesmo status.
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