Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Bac Nord: Sob Pressão": bom policial da Netflix tem drama e tensão

Policial francês "Bac Nord: Sob Pressão" se baseia numa história real ocorrida em Marselha para criar um filme cru, tenso e com boa carga dramática

Vitória
Publicado em 17/09/2021 às 19h30
"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação
"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Marselha, na costa mediterrânea da França, é uma cidade complexa. Cheia de belezas naturais, mas também um grande centro de distribuição de drogas para o tráfico internacional, a cidade vive ainda uma grande efervescência social com a forte presença de imigrantes de países ex-colônias francesas que acabam relegados às periferias da cidade, nas quais existem grandes condomínios populares.

A cidade, não por acaso, já foi retratada no clássico “Operação França” (1971), de William Friedkin, e no bom “A Conexão Francesa” (2014), de Cédric Jimenez, que agora volta a explorar Marselha no bom “Bac Nord: Sob Pressão”, que chegou nesta sexta (17) à Netflix. O filme também marca mais uma parceria do diretor com o excelente ator francês Gilles Lellouch, um dos protagonistas do já citado “A Conexão Francesa”.

Coescrito por Jimenez e a esposa, a jornalista e roteirista Audrey Diwan, “Bac Nord” se baseia em acontecimentos reais para contar a história de uma equipe policial formada por Greg (Lellouche), Antoine (François Civil) e Yass (Karim Leklou). Responsável pelo combate ao tráfico, o trio quer fazer algo além de prender consumidores e pequenos traficantes para bater metas, os policiais querem chegar aos cabeças e, para isso, precisarão realizar uma ousada e arriscada operação em um conjunto conhecido como “a fortaleza”.

“Bac Nord” é um filme de narrativa interessante. Durante sua primeira metade, ele se prepara para a grandiosa operação e apresenta a dinâmica da cidade e da polícia para o espectador. Passeamos pelas ruas de Marselha com o trio de protagonistas e entendemos como eles funcionam, como uma parte da engrenagem da cidade mais por incapacidade de fazer algo além de prisões insignificantes. Greg, Antoine e Yass atuam na margem da lei, entendendo que é preciso se misturar para integrar aquele ecossistema.

"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação
"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

A alardeada operação é realizada em uma sequência excepcional. A ação é caótica, filmada sempre com câmera na mão e colocando o espectador no meio da ação. Como o texto já havia passeado pelo local antes e apresentado o perigo representado por uma invasão a ele, o espectador entende os riscos da missão e o roteiro cria um clima de tensão constante - basta uma fagulha para iniciar o incêndio.

Ao apresentar seu clímax no meio da narrativa, Cédric Jimenez opta por dar mais importância aos desdobramentos da operação. A estrutura padrão, vale ressaltar, teria a invasão como terceiro ato e as consequências dela quase como um prólogo. Em “Bac Nord”, porém, é no terceiro ato que nos aprofundamos na vida dos protagonistas.

O filme policial de ação dá espaço a uma trama de politicagem, traições e sofrimento - ainda mais quando lembramos que as histórias dos policiais é real. Jimenez entende o ator que tem em mãos e dá espaço para Gilles Lellouch se destacar de seus pares. O roteiro gasta boa parte de sue primeira parte fortalecendo o vínculo entre os policiais e tem o trunfo de três atores carismáticos nos papéis. Assim, nos momentos de mais drama, entende-se o que eles representam um para o outro.

"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação
"Bac Nord: Sob Pressão", drama policial francês da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Bac Nord: Sob Pressão” é curiosamente um filme de crime sem um grande vilão. Os traficantes usam máscaras que cobrem seus rostos, não sabemos seus nomes e tampouco quem são os grandes comandantes do tráfico. A discussão do filme é muito mais sobre as forças policiais do que sobre o crime na região da Marselha. Ironicamente, essa possibilidade é pouco explorada; percebemos como a roda gira, mas nunca chegamos a quem a está fazendo girar, ou seja, entendemos haver corrupção na polícia e em altos escalões, mas, provavelmente para dedicar mais tempo ao drama de cada um, o filme apenas arranha a superfície do assunto.

Exibido em Cannes, festival em que a Netflix adquiriu seus direitos de distribuição internacional, “Bac Nord: Sob Pressão” é um filme cru e intencionalmente duro. Com a câmera na mão e muita correria, Jimenez confere um aspecto quase jornalístico à história de três policiais, três amigos que tiveram suas vidas afetadas pelo combate a algo que nem exatamente sabem o que é, um inimigo sem rosto que se expande pela sociedade de Marselha.

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