Nos anos 1990, um grupo de jovens resolveu invadir e roubar casas ricas nos subúrbios de Estocolmo na Suécia, e em outras pequenas cidades. Foram mais de 50 invasões e furtos de muito bom gosto: quadros famosos, joias valiosas, vinhos raros e carros (mais de 20). A atuação deles se deu por anos e o produto dos roubos ultrapassa a astronômica casa dos R$ 120 milhões. Como começaram a agir em Lindigö, foram apelidados de os Lidingöigan, mas eles também atuavam em outras vizinhanças como Djursholm, onde se passa “Barracuda Queens”, série da Netflix levemente baseada nesses acontecimentos.
Criada por Camilla Ahlgren, roteirista da ótima “Gente Ansiosa (também da Netflix), “Barracuda Queens” tem início após um final de semana de festa. Lollo (Alva Bratt), Mia (Tea Stjärne) e as irmãs Klara (Tindra Monsen) e Frida (Sandra Strandberg Zubovic) acordam num hotel do belo balneário de Barracuda com um prejuízo gigante de bebidas e estragos causados nos quartos. De volta à cidade, precisam dar um jeito de conseguir o dinheiro sem ter que pedir para seus abastados pais – apenas Mia não vem de uma família rica. Como diz o ditado, “a oportunidade faz o ladrão…”.
Após Klara furtar um relógio e penhorá-lo por uma boa grana, as meninas decidem invadir a casa de uma família que eles sabiam estar fora para pegar algumas joias. Claro que não param por aí (ou não teríamos uma série) e ainda adicionam Amina (Sarah Gustafsson) ao grupo.
Em seis episódios de 30 minutos, em média, “Barracuda Queens” retrata a desesperança da juventude dos anos 1990, principalmente em uma cidade pacata como Djursholm. Elas não demoram a pagar a dívida, mas invadir casas se torna um hobby, uma injeção de adrenalina em uma vida em que pouca coisa acontece. É interessante como a série retrata os adultos como bobos, hipócritas, sem nunca fazer questão que nos identifiquemos com eles. Dessa forma, o texto nos empurra para simpatizar com as meninas, cada uma com um mini-arco fora da trama principal para dar a elas um mínimo de profundidade.
“Barracuda Queens” faz questão de ressaltar as ações de suas protagonistas como libertadoras, quase como uma vingança contra a sociedade. É irônico, assim, que duas das ações justificadas funcionam quase como recurso cômico: a contra o sujeito que estuprou uma delas e a contra o chefe que assediava outra – dão uma zoada com eles e fica por isso mesmo?
Ambientado nos anos 1990, o filme se esforça para se conectar ao movimento feminista, mesmo que de um jeito meio torto. Todas as personagens principais têm momentos de “quebrar as correntes”, de se livrarem de um relacionamento, do controle dos pais, dos padrões impostos pela sociedade.
Narrativamente, fica a impressão de que a série, mesmo curta, demora a engrenar. O texto usa a muleta delas quase serem pegas várias vezes, praticamente em todo roubo mostrado com mais tempo, o que faz o espectador questionar um pouco a inteligência das meninas e, principalmente, como elas conseguem fazer tantos outros roubos sem serem pegas. Isso leva também à atuação da polícia, que não demonstra a menor intenção de encontrar os responsáveis pelos vários roubos. Uma edição melhor traria um ritmo mais frenético e interessante a “Barracuda Queens”, que opta por uma estrutura pouco ousada que, aliada ao texto já convencional, tira o apelo pop da série.
Ao fim, “Barracuda Queens” é inteligente em sua tentativa de ligar as ações das meninas a uma espécie de emancipação, mesmo que isso nem sempre funcione. Ainda, a série acerta muito ao criar uma ficção a partir de uma história real, mas cruzar as duas histórias em determinado ponto. O resultado é uma história que entretém durante todo o tempo, mesmo que pareça nunca alcançar a totalidade de seu potencial.
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