Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Bastidores de Uma Conspiração", da Netflix, é um bem amarrado suspense

Sucesso na Netflix, minissérie alemã "Bastidores de uma Conspiração" tem personagens bem construídos e temas com os quais é fácil se relacionar

Vitória
Publicado em 27/06/2023 às 17h25
Série alemã
Série alemã "Os Bastidores de uma Conspiração", da Netflix. Crédito: Anne Wilk/Netflix

“Bastidores de uma Conspiração” é um sucesso. A minissérie alemã da Netflix desbancou grandes lançamentos, como a quarta temporada de “Titãs”, a sexta de “Black Mirror” e o novelão mexicano “Laços Maternos”, para ocupar o posto de série mais vista da plataforma, posto que ocupa desde seu lançamento até o momento que este texto é escrito.

Mesmo inesperado, o sucesso não é injustificado. “Bastidores de uma Conspiração” adapta a série israelense “The Exchange Principle”, de um dos criadores de “Fauda”, em uma história curta, confortável, de fácil consumo e, principalmente, de envolvimento com os personagens.

O texto acompanha Mike Atlas (Max Riemelt, de “Sense8”), um policial que, após um evento traumático, se afastou da carreira, da família e passou a morar isolado do mundo. Quando o conhecemos, Atlas mora em um trailer, mas, após um homem que ele ajudou a colocar na prisão pela morte de um juiz cometer suicídio, alguém incendeia o trailer de Atlas, que acaba morando nas ruas. Em paralelo, a jovem Jule Andergast (Luise von Finckh), auxiliar da promotoria, recebe a burocrática tarefa de investigar o suicídio em busca de um gatilho; Jule, porém, quer mostrar trabalho e acaba vendo no caso algo que ninguém havia visto. Ela descobre um possível alibi que inocenta o homem morto e transformaria tudo em algo maior.

“Bastidores de uma Conspiração” coloca o espectador em meio ao caos que é a vida de Atlas e de suas memórias. Toda construção do caso central é feita aos poucos, com peças se encaixando à medida que Jule descobre novas informações sobre os envolvidos. O evento traumático de Atlas é inicialmente mostrado apenas em recortes, flashes que indicam a perda de memória do ex-policial sobre o ocorrido.

Série alemã
Série alemã "Os Bastidores de uma Conspiração", da Netflix. Crédito: Anne Wilk/Netflix

Se por um lado essas escolhas funcionam para colocar o espectador como parte da investigação, por outro, ela torna tudo um pouco menos convencional. Ainda assim, a série funciona bem ao lidar com temas com os quais o espectador pode facilmente se relacionar. A xenofobia com imigrantes recém-chegados e até com pessoas nascidas na Alemanha, mas de origem africana, é presente desde o primeiro episódio. O texto também lida com a homofobia e com questões familiares que o levam ao limite tolerável do melodrama, mas escapa de um tom mais brega justamente ao não desenvolver bem esses arcos.

O roteiro é inteligente ao não se apressar em suas revelações, fazendo bom uso das quase seis horas de narrativa para introduzir reviravoltas lentamente. Atlas e Jule vão conectando pontos e descobertas para chegar a uma possível conspiração com conexões a um atentado terrorista recente

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Série alemã "Os Bastidores de uma Conspiração", da Netflix. Crédito: Anne Wilk/Netflix

“Bastidores de uma Conspiração” é mais uma obra que só funciona a partir de um trabalho policial muito ruim – se a polícia se esforçasse um pouquinho que fosse na investigação, não haveria série. É curioso, assim, que a minissérie surpreendentemente entenda essas falhas de seus personagens e trate disso com a devida importância em seu terceiro ato.

Como dito na abertura deste texto, o sucesso de “Bastidores de uma Conspiração” é uma surpresa, mas é difícil considerá-lo injustificado. Mesmo sem ser surpreendente ou original atinge um público que às vezes nem percebe estar mais envolvido com os personagens do que com a tal conspiração. Ao lidar com temas universais como família, solidão, ganância e principalmente culpa, a série amplia eu escopo e facilita a identificação do espectador com o bem construído texto que, mesmo confuso em certos momentos, amarra tudo em sua conclusão.

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