Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"B.O.": Série de Leandro Hassum na Netflix é policial com boas piadas

Uma espécie de "Brooklyn Nine-Nine" brasileira, "B.O." tem Leandro Hassum como novo chefe de uma delegacia. Série não reinventa a roda, mas rende boas risadas

Vitória
Publicado em 05/09/2023 às 08h30
Série brasileira
Série brasileira "B.O.", da Netflix, é estrelada por Leandro Hassum e Luciana Paes. Crédito: Julia Rodrigues/Netflix

Primeira série de Leandro Hassum na frutífera parceria que já rendeu o ótimo “Tudo Bem no Natal que Vem”o razoável “Vizinhos” e o péssimo “Amor Sem Medida”, “B.O.” tem sido vendida desde o início como uma “Brooklyn Nine-Nine” brasileira. A comparação coloca na nova série da Netflix um peso desnecessário, afinal, a série estrelada por Andy Samberg faz um sucesso gigante no Brasil, mas não é totalmente desmerecida.

“B.O.” é uma comédia de ambiente de trabalho que tem Suzano (Hassum) como o novo delegado de uma delegacia na Tijuca, no Rio de Janeiro. Acostumado à vida na pacata e fictícia Campo Manso, o novo delegado encontra um ambiente diferente no novo trabalho. Ao lado de seu braço direito, o escrivão Estevão (Jefferson Schroeder), ele representa um novo elemento, que mudará tudo a partir de sua chegada. O problema é que a 8ª DP é uma máquina de moer delegados, que sempre acabam mortos pela máfia dos caça-níquéis – quanto tempo Suzano aguentará no novo posto?

Leve e divertida, alternando boas piadas com outras de gosto bem duvidoso, “B.O.” é uma série confortável e de fácil consumo. Os episódios são curtos, com pouco mais de 25 minutos cada, e têm arcos individuais enquanto desenvolve a trama principal. Boa parte do charme e do humor da série está no conflito de personalidades e costumes de Suzano e Estevão com os novos colegas. A inspetora Montovani (Luciana Paes), por exemplo, é focada, obstinada e cumpridora de regras; ela é também o interesse romântico de Suzano, rendendo algumas boas piadas.

A série ainda traz outros personagens como o “herói de ação” Rabecão (Digão Ribeiro), a confiante Guerra (Babu Carreira), o jovem Wi-Fi (Cauê Campos) e o vovô-garoto Pardal (Taumaturgo Ferreira). Nenhum deles tem muito tempo de tela, mas todos com papéis definidos na série, nem que seja para servir de alívio cômico. Há ainda alguns convidados com bom tempo de tela, como Leandro Ramos e Fábio de Luca, que, mesmo em breves aparições, dão um respiro à série e uma alternância de dinâmicas.

Série brasileira
Série brasileira "B.O.", da Netflix. Crédito: Julia Rodrigues/Netflix

“B.O.” não preza pela originalidade, com boa parte de seus arcos e conflitos derivados de outras comédias policiais, mas tem o mérito de não se levar tão a sério, abraçando o ridículo e a galhofa em diversos momentos. Quando parte para esse caminho, a série depende da boa vontade do espectador de “comprar” a graça dessa ideia. Tudo o que envolve “Sandy & Junior” no texto, por exemplo, é intencionalmente ridículo.

A série concentra em Hassum praticamente toda sua ação, com praticamente todos os arcos paralelos girando em torno dele – seria interessante conhecer mais sobre os coadjuvantes como Mantovani. Luciana Paes é excelente, sempre séria, mas com ótima química ao lado do protagonista; é na sisudez da personagem que Paes faz graça, como nas duas cenas de interrogatório, uma ao lado de Hassum e a outra, acompanhada de Bruno Cabrerizo.

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Série brasileira "B.O.", da Netflix, é estrelada por Leandro Hassum e Luciana Paes. Crédito: Julia Rodrigues/Netflix

O texto é inteligente ao potencializar seus atores. Enquanto usa a “cara de brava” de Luciana como uma das piadas, se aproveita também no talento de Jefferson Schroeder para fazer vozes diferentes em alguns momentos. O recurso não é usado em exagero, o que dá um charme à série, principalmente para quem acompanha o ator em suas redes sociais. Da mesma forma, usa o charme de galã de Cabrerizo, o esterótipo de vilão que Pedro Wagner (“Irmandade”, “Cangaço Novo”) tem abraçado, e a imagem de garotão que Taumaturgo Ferreira construiu ao longo da carreira. Ao brincar com isso, por exemplo, a série brinca com as expectativas do espectador para aqueles personagens, o que é sempre uma boa ideia.

O real vilão de “B.O.” é o risco de o humor soar genérico e desinteressante para o público da Netflix, uma cópia de “Brooklyn Nine-Nine”, mas o sucesso recente de “A Sogra que te Pariu” na plataforma mostra que o público da Netflix está aberto ao humor brasileiro. “B.O.”, ao fim, é uma experiência interessante, uma ideia que seria normalmente transformada em um filme, mas que funciona como sitcom e como uma narrativa episódica graças a seu elenco, que parece ter se divertido nas filmagens.

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