Nos primeiros momentos de “Cabras da Peste”, uma versão de “Heat is On”, de Glenn Frey, embala a ação policial. Famosa pelo filme “Um Tira da Pesada” (1984), a música ganha guitarras e teclados típicos da música nordestina, embalada pelo baixo de Junior Bass Groovador e com Gaby Amarantos aos vocais cantando “Ai que calor do cão”. A inusitada e divertida versão dá o tom do filme dirigido por Vitor Brandt e que agora chega à Netflix: uma comédia policial mergulhada no regionalismo brasileiro.
No filme, Edmilson Filho (“Cine Holliúdy”) é Bruceuilis Nonato, um policial de uma pequena cidade no Ceará. Após a cabra da cidade ser “sequestrada” por um caminhoneiro, Bruceuilis descobre seu paradeiro, a megalópole São Paulo. Ele, então, parte para lá pra levar a mascote da cidade de volta antes do tradicional Festival da Rapadura.
Chegando em São Paulo, ele encontra Trindade (Matheus Nachtergaele), um policial de escritório que sofre bullying pela morte do ex-parceiro e por fugir do estereótipo do policial truculento, disposto a resolver tudo na força bruta. Logo Bruceuilis e Trindade se tornam parceiros, pois o sumiço da cabra do primeiro tem ligações com a organização que matou o ex-parceiro do segundo.
“Cabras da Peste” tem uma característica interessante - o filme pega o humor regional de “Cine Holliúdy” (2012) e “Shaolin do Sertão” (2016) e o leva para um grande centro. Edmilson Filho tem um tempo de humor impecável, o que é reforçado pela edição e pelo texto de Brandt e Denis Nielsen (“3%”). O roteiro abusa de todos os clichês do gênero, mas não se leva tão a sério. O resultado é um filme ao mesmo tempo confortável e com o frescor trazido pela regionalidade, pois tem uma estrutura narrativa convencional e situações a que o público está acostumado contrastando com um humor diferente do normalmente visto nas grandes produções nacionais.
No melhor estilo “buddy cops”, filmes de duplas policiais, “Cabras da Peste” brinca com as diferenças de personalidade de seus dois protagonistas. O filme também aproveita muito os talentos de artes marciais de Edmilson Filho, que possibilitam que Vitor Brandt crie cenas de luta pouco vistas no cinema brasileiro. Assim, no melhor estilo comédia de ação, “Cabras da Peste” se sai bem nos dois gêneros em que se encaixa.
A maneira como o texto cria seu universo é interessante. Os protagonistas são os elementos diferentes dentro de um universo de clichês. Os policiais paulistas são caricaturas de esquadrões de elite, sempre sisudos e dispostos ao sacrifício em nome da corporação. A frágil figura de Nachtergaele, com sotaque paulista e comportamento que destoa daquele ambiente, é o que oferece a “Cabras da Peste” o conflito. Em uma relação que não é muito de troca, mas sim de puro aprendizado, Bruceuilis faz com que Trindade se transforme.
“Cabras da Peste” é divertidíssimo, um filme que pega uma fórmula americana e transforma em uma comédia mais brasileira impossível. Edmilson Filho é ótimo e a química com Matheus Nachtergaele funciona. O elenco ainda tem nomes como Evelyn Castro, Juliano Cazarré, Leandro Ramos, Letícia Lima e Falcão, todos em bons papéis e normalmente utilizados como escada para o protagonista. O filme de Vitor Brandt é leve, engraçado e mostra ser possível fazer comédia com estereótipos sem ser ofensivo.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.