Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Caça Invisível": terror da Netflix é uma grande perda de tempo

Filme alemão "Caça Invisível" coloca cinco amigos sendo caçados por um atirador misterioso em uma aventura na floresta

Vitória
Publicado em 13/09/2021 às 20h05
Filme alemão
Amigos vão para uma trilha na floresta e acabam caçados em "Caça Invisível". Crédito: ANKE NEUGEBAUER/Divulgação

“Caça Invisível”, lançado pela Netflix, é um filme curioso. Ele tem menos de 90 minutos de duração, mas parece ter mais de duas horas. O thriller alemão de sobrevivência tem uma boa ideia e uma ambientação interessante para um filme produzido durante a pandemia: cinco amigos partem para uma despedida de solteiro na forma de aventura de trilha no meio da floresta, mas não demora e são surpreendidos por um misterioso atirador sniper aparentemente disposto a eliminar um por um. Eles aparentemente estão sendo caçados.

O cenário é uma atração desde o primeiro momento, com a tranquilidade inicial da floresta posteriormente contrastando com o desespero do grupo, mas pouco se salva além disso. Roman (David Kross), seu irmão Albert (Hanno Koffler) e os amigos Peter, Vincent and Stefan (Robert Finster, Yung Ngo e Klaus Steinbacher, respectivamente) são pouco ou nada interessantes, se encaixam em diversos clichês do cinema de terror e não têm profundidade nenhuma - eles estão em tela para serem alvejados e, no momento em que o primeiro tiro é disparado em direção ao grupo, tudo se transforma.

“Caça Invisível” tem protagonistas irritantes, pouco desenvolvidos e que não funcionam bem juntos. Nunca parece, por exemplo, se tratar de um grupo de amigos. Assim, não nos preocupamos nem um pouco com quem será a próxima vítima - na verdade, às vezes até torcemos pelo atirador - e eles também não parecem se importar uns com os outros. A opção por uma ameaça invisível deveria criar um clima de tensão constante, mas o roteiro descarta essa possibilidade ao logo revelar quem está atirando no grupo. O texto nunca aproveita também para explorar o luto dos personagens ou a culpa de verem um amigo sendo morto e ainda assim terem que seguir em frente.

A narrativa do filme escrito e dirigido por Thomas Sieben é inconstante e nem sempre faz muito sentido. Em alguns momentos, “Caça Invisível” dá mostras de que poderia ser um bom suspense de sobrevivência, tenso e com todos os personagens em risco constante. Na maior parte do tempo, porém, é um filme cansativo, que parece andar em círculos pelo meio da floresta apenas esperando o próximo tiro. O texto ainda tenta dar pistas ao espectador sobre o que está acontecendo por lá, mas o recurso não funciona.

Filme alemão
Amigos vão para uma trilha na floresta e acabam caçados em "Caça Invisível". Crédito: ANKE NEUGEBAUER/Divulgação

O filme recorre a alguns flashbacks para conferir uma suposta profundidade a um dos personagens e deixa subentendido que ele é o elo entre tudo o que ocorre em tela. O problema é que os flashbacks nada acrescentam e tampouco se conectam à história - parece uma trama particular, mas é mal construída e serve apenas uma virada de roteiro pouco interessante.

“Caça Invisível”, durante a maior parte de seus quase 90 minutos, é irregular. Há alguns bons momentos quando o atirador resolve aparecer e algumas mortes são impactantes. Em contrapartida, além da já citada repetição, o filme de Thomas Sieben termina com deixando no espectador a sensação de ter sido enganado, de ter acompanhado a jornada daquelas cinco pessoas e não obter nenhuma recompensa no final.

Isso acontece em função da falta de conexão entre as tramas e principalmente pela forma superficial como o antagonista é construído. O roteiro não faz questão de esconder por muito tempo as motivações do atirador e as revela em uma cena que, se friamente analisada, não faz sentido.

“Caça Invisível” é um filme razoável, mas que deixa um gosto amargo e uma certa revolta após o término. Os personagens são irritantes, mal construídos e fazem escolhas nada inteligentes o tempo todo; o vilão, por sua vez, é onipresente quase como em um filme slasher dos anos 1980, mas é difícil saber se a referência é intencional, visto que "Caça Invisível" se leva bem a sério. Ao fim, o lançamento da Netflix é uma grande perda de tempo. Se o objetivo é enganar o público, ao menos o faça de modo a não subestimar a inteligência de quem assiste ao filme.

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