A primeira temporada de “Castlevania”, na Netflix, era quase um prólogo. A breve trama de apenas quatro episódios tem seu charme, mas serve apenas para reunir a trupe formada por Trevor Belmont, Alucard e Sypha Belnades. É na segunda leva de episódios que a série em animação escrita por Warren Ellis (dos excelentes quadrinhos “Authority” e “Transmetropolitan”) engrena, com o trio caçando Drácula para impedir seu plano de vingança contra a humanidade.
Adaptando com brilhantismo a série de jogos, Ellis criou um universo que caminha bem pela área cinza - ninguém é essencialmente bom ou ruim, humanos, vampiros ou outras criaturas. O Drácula de Ellis é uma figura trágica, que buscou se humanizar apenas para conferir de perto que os humanos são capazes das piores atrocidades. O escritor adapta algumas histórias dos jogos, mas cria seu próprio universo para “Castlevania”.
Em sua terceira temporada, a série parte de um ponto que parecia sem volta (spoilers da 2ª temporada a partir de agora) - como, afinal, manter uma trama sobre a caçada ao Drácula sem o lendário vampiro? Não se trata apenas de uma questão de roteiro, de desenvolvimento de história, mas também de lidar com a ausência de seu personagem mais bem desenvolvido ao longo das duas temporadas anteriores.
A história recomeça alguns meses depois dos acontecimentos da batalha no castelo, com os sobreviventes em busca de novos objetivos. Enquanto Alucard toma conta do “legado” de seu pai, Trevor e Sypha se tornaram viajantes caçadores de monstros. Do lado dos vilões, Carmilla retorna para casa dom Hector. Já Isaac dá início à sua própria jornada de vingança contra aqueles que mataram seu mestre.
Com uma temporada de 10 episódios, dois a mais que a leva anterior, “Castlevania” aproveita seu tempo para apresentar novos personagens como as irmãs de Carmilla e os Trevir e Syha encontram durante a viagem. Alucard também ganha novos companheiros de tela - dois jovens caçadores de vampiros interrompem sua paz no castelo.
A história agora se divide em várias frentes e é conduzida com mais calma. Não há mais, por exemplo, a sucessão de eventos engatilhados para mover a jornada. Há mais diálogos e significado além da ação, que continua boa como sempre. O que muda é que não sabemos par onde o texto caminha - há, claro, algumas dicas, mas não é, por exemplo, o sempre iminente conflito da temporada passada. O roteiro prepara o espectador para o que está por vir, uma guerra maior; assim como Trevor, Sypha e Alucard, o público também busca um sentido, um ponto para onde olhar.
O texto de Ellis continua incrível, sempre deixando clara as motivações de cada personagem. O universo levado por ele às telas é rico em detalhes em todos os lados. A humanidade é, com o perdão do trocadilho, humanizada; e o mesmo acontece com seres mágicos e vilões, inclusive os recém-chegados e alguns outros que antes pouco somavam.
A terceira temporada de “Castlevania” é genial por desconstruir não só o modelo pré-estabelecido pela série nos episódios anteriores, mas por levar profundidade a uma trama focada na ação e a uma atração de animação. Não me entenda mal, há muita ação, principalmente nos episódios finais, mas ela não está ali apenas para agradar fãs dos jogos, e sim para levar a história a outro ponto, a outro patamar. Mesmo que seja uma temporada de preparação para um grande evento, ela transforma “Castlevania” em uma série obrigatória no catálogo da Netflix.
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