“Nem sei quanto ganho em um dia. Essa é a vida de uma influencer com mais de um milhão de seguidores”. A frase, proferida por Seo A-ri (Park Gyu-young) logo no início de “Celebrity”, da Netflix, dá o tom da série, que tenta abordar o deslumbramento e a artificialidade na construção de celebridades enquanto desenvolve uma história de vingança cheia de reviravoltas.
Como é de se imaginar, “Celebrity” acompanha Seo A-ri, uma vendedora de produtos de beleza daquelas que vai de porta em porta. A-ri vem de uma família muito rica, mas viu seu pai perder tudo e foi obrigada a largar os estudos em uma universidade da Ivy League (grupo das oito universidades mais renomadas dos EUA). Ela não usa redes sociais e nem sequer sabe quem são as influenciadoras mais poderosas da Coreia, mas, um dia, quase por acaso, esbarra com uma amiga de infância, Oh Min-hye (Jun Hyo-Seong), influenciadora popular e parte da Sociedade Gabin, a elite das influenciadoras de Coreia do Sul.
A série tem duas linhas narrativas. Em uma delas, acompanhamos a jornada de Cinderela de A-ri para se tornar uma celebridade das redes sociais mesmo em um universo cheio de inveja. Em um mundo artificial, a protagonista constrói sua fama tentando se manter com os pés no chão, sem a necessidade de atropelar ninguém ou de se vender como um produto enganoso.
“Celebrity” lida com a cultura das celebridades como algo intrinsecamente conectado ao capitalismo – em uma montagem, um empresário explica para A-ri (e para o espectador) como funciona a engrenagem que torna as jovens celebridades, como cada foto é planejada para vender absolutamente tudo o que existe naquela imagem. Nada, absolutamente nada, é natural. Diante desse cenário, A-ri oferece um contrapeso, alguém que é famoso, que circula nos mesmos ambientes, mas com quem seja mais fácil se relacionar.
Em outra linha narrativa, no futuro, A-ri inicia uma live na qual promete entregar todos os podres do mundo das influenciadoras coreanas, para o desesperado da Sociedade Gabin, claro. A grande questão é que, para o mundo, A-ri estava morta; como ela poderia, então, estar apresentado aquela live e, mais importante, o que teria acontecido com ela?
Em 12 episódios, uns quatro a mais do que o necessário, “Celebrity” não tem pressa em apresentar sua protagonista e seus passos para chegar ao topo. A série também introduz vários coadjuvantes, inclusive o “príncipe encantado” da história, o herdeiro Jun-Kyoung, além de várias influenciadoras poderosas que teriam motivos para matar a protagonista, algumas com mais destaques do que outras.
Como a própria A-ri diz, em sua narração, “Celebrity” é uma longa história “terrivelmente escandalosa e brutalmente glamorosa”. Como é de praxe nos dramas coreanos, há um melodrama e uma linguagem quase novelesca em alguns momentos, mas o foco da série acaba sendo a futilidade das redes sociais e o assassinato de sua protagonista, uma trama que se desenrola bem melhor do que o que se espera dela.
É quase irônico que uma série que promete lidar com a artificialidade das redes (o Instagram, no caso) acabe, de certa forma, sucumbindo a suas armadilhas. Durante boa parte do episódio, quando acompanhamos a ascensão de A-ri, é fácil entender todo o vislumbre que a fama causa, o acesso, a fama e, principalmente, o dinheiro, e não é esse o ponto criticado por “Celebrity”. Para o texto, o problema nunca é o excesso, as pessoas presas o tempo todo à tela do telefone, mas que elas estejam consumindo algo que não é real. O fato de A-ri surgir como uma heroína e como um contraponto a essa aspecto só reforça o significado talvez não intencional. Apenas como observação, é curioso para nós, brasileiros, os números de seguidores que levam os influenciadores à “fama” na série, número que não faria o mesmo por eles por aqui.
“Celebrity” tem ótimas atuações e um roteiro que prende até os instantes finais com boas viradas. O texto lida com discurso de ódio, haters, inveja e com o desespero pela fama a qualquer custo. Esteticamente, a série traz muitos elementos gráficos para representar o excesso de informação das redes e a relação de amor e ódio que os influenciadores despertam. A nova série da Netflix não deve decepcionar o fiel público de dramas coreanos da plataforma.
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