Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Chris Hemsworth fala à coluna sobre "Resgate 2", motivações e pausa na carreira

Ao lado do diretor Sam Hargrave, Chris Hemsworth veio ao Brasil divulgar "Resgate 2". Me sentei com eles para falar sobre o filme e até sobre uma possível sequência por aqui

Vitória
Publicado em 17/06/2023 às 12h43
Bastidores do filme
Chris Hemsworth e Sam Hargraves durante as filmagens de  "Resgate 2". Crédito: Jasin Boland/Netflix

Ao entrar na sala da entrevista, em um luxuoso hotel em São Paulo, a impressão era de estarmos prestes a encontrar algum chefe de estado. Salas de gravação, assessores, regras (muitas regras) e um ambiente meio escuro, com iluminação devidamente preparada para que o astro do dia, Chris Hemsworth, se destacasse. À mesa, Hemsworth e o diretor Sam Hargraves, de “Resgate 2”, pareciam bem humorados ao receber o pequeno grupo de jornalistas de diferentes cantos do Brasil.

Responsável pela primeira pergunta graças ao nome do veículo (A Gazeta), me sentei ao lado do ator, que brincava com os jornalistas: “podem se sentar eu não mordo. Não nos tema”, dizia. Para quebrar o gelo, respondi “vocês é que devem nos temer, nós somos jornalistas”. Hemsworth riu e brincou: “somos aliados, deveríamos estar jogando cartas”.

Obviamente, a dupla estava no Brasil para falar de “Resgate 2”, que seria lançado pela Netflix um dia após a entrevista. Tal qual o primeiro filme, trata-se de uma obra de ação como pouco se viu antes, com cenas impressionantes. Dirijo a primeira pergunta a Hargraves, pois queria saber se ele se sentiu pressionado para fazer um filme maior e mais surpreendente que o primeiro.

“Cem por cento! Tinha uma pressão para entregar aquilo que o público gostou no primeiro, mas fazer com que este filme fosse único. Essa é a parte difícil. Nesse espaço do cinema de ação há muitos excelentes filmes e diretores, então como eu poderia me diferenciar deles, como eu elevaria a barra de comparação e colocaria o gênero eu outro patamar?”

Filme
"Resgate 2" é ainda mais ambicioso que o filme anterior em suas cenas de ação. Crédito: Jasin Boland/Netflix

O papo continuou, entre perguntas e risadas, com a maior parte das perguntas direcionadas a Chris Hemsworth, que parecia empolgado com o lançamento do filme e com as novidades que seu personagem, o mercenário Tyler Rake, ganhou na continuação do sucesso de 2020. “A expectativa é que seja um filme de ação, com socos, chutes e balas voando, mas a parte divertida para mim é a jornada criativa. A ação é divertida, mas eu comecei a atuar pelo estudos de personagens, de pessoas interessantes e de diferentes emoções”, pontuou, questionado sobre como foi voltar a um personagem que ele ajudou a criar.

Não, Hemsworth não falou de Thor ou do universo Marvel, mesmo que algumas perguntas dessem margem para que ele entrasse naturalmente no assunto – os jornalistas foram orientados a falar apenas de “Resgate 2”, filme que, afinal, o trouxe ao Brasil.

Ainda assim, a entrevista teve ótimos momentos, como quando Hemsworth falou sobre a presença de sua família no set de filmagens ou sobre o já famoso plano sequência de 21 minutos e sete segundos (Hargraves fez questão de ressaltar os segundos) envolvendo 400 figurantes, perseguição de carros, um trem e um helicóptero. Da mesma forma, Sam Hargrave fala empolgado sobre seu estilo de cinema de ação, com movimentos mais fluidos e menos cortes. Confira abaixo a entrevista na íntegra e tenha uma boa leitura.

Você sentiu a pressão de fazer um filme maior, cenários maiores, um plano sequência maior a mais ambicioso?

Sam Hargrave: Cem por cento! O público parece ter gostado muito do primeiro filme, com base no sucesso que teve. Você nunca sabe, com um filme como esse. Será que as pessoas vão gostar da sua versão do que a história pode ser? No segundo tinha uma pressão para entregar aquilo que o público gostou no primeiro, mas fazer com que o filme fosse único. Essa é a parte difícil, não apenas em uma sequência. Nesse espaço do cinema de ação há muitos excelentes filmes e diretores, então como eu poderia me diferenciar deles, como eu elevaria a barra de comparação e colocaria o gênero eu outro patamar?

Os filmes de ação dos anos 90 eram muito pautados no trauma e nas guerras, sempre muitas guerras. Hoje o cinema de ação mergulha no mundo dos militares, mas nos problemas pessoais e políticos. Como funciona para vocês?

Chris Hemsworth: Chegando ao segundo filme, percebemos que não havíamos chegado à ponta do iceberg a respeito de quem era esse sujeito (Tyler Rake) e qual o passado dele. Nós tínhamos a oportunidade, uma nova chance, de ampliar a história porque não resolvemos todas as histórias no primeiro filme. Indo profundo nos problemas emocionais, algo que possa ressoar com a audiência, algo com que as pessoas possam se identificar, possam ter empatia, e entender porque há essa dor, esses problemas, essas dificuldades em uma pessoa que se vende como 'casca grossa'. É uma jornada criativa muito interessante que acaba complementando a ação. Quando você vê as cenas de ação e entende quem é aquela pessoa, por que ele se coloca naquela situação e pelo que está lutando, você se identifica. É curioso... Na edição, originalmente tínhamos o filme começando pelo plano sequência, mas optamos por mudar para mostrar quem eram as pessoas envolvidas naquela situação.

Houve alguma cena que você achou que não conseguiria fazer?

Sam: Quando fazemos algo desse tipo, você pensa em novas cenas e novas locações, mas cabe a mim decidir como vai ser a execução. Não houve nada que eu acreditei ser impossível porque eu tento ver tudo como possível, até aquele plano-sequência de 21 minutos e sete segundos, que foi muito desafiador. Você pode olhar no papel e dizer que é impossível, mas é minha função tornar aquilo possível. É parte do desafio e da diversão, tornar o impossível algo corriqueiro.

Bastidores do filme
Bastidores do filme "Resgate 2". Crédito: Jasin Boland/Netflix

O que "Resgate 2" tem de diferente do primeiro filme?

Chris: Nós expandimos e elevamos ação em relação ao primeiro filme, mas também algo único no cinema de ação. Sam e o time de dublês pensaram e coreografaram sequências que eu nunca tinha visto em tela, em particular aquele plano-sequência. Eram quase 400 figurantes em que cada pessoa tinha que estar totalmente em sincronia porque havia apenas uma câmera, e depois tem a cena do trem, com ação em cima do trem, pessoas pulando de um trem em 80 km/h, helicópteros voando de costas... Nós subimos a barra, mas o lado emocional é mais profundo, e é isso que se conecta com o público, o que separa o filme de outros do gênero atualmente e outros dos anos 1980 e 90. Você não via um herói vulnerável, se abrindo. É empolgante fazer isso.

As cenas de ação são intensas e você até se machucou. Você se preocupou em se machucar gravemente e interromper as gravações?

Chris: Nós tínhamos uma agenda muito apertada, complicada, então, se acontecesse algo, tudo sairia dos trilhos. Houve alguns machucados e eu lidei com eles, da mesma forma que Sam e todo o resto. Foi uma experiência cheia de colaboração, todos na "zona de guerra", por assim dizer, e em um cenário divertidamente competitivo. Às vezes eu olhava para o Sam e ele estava correndo pelas cenas, segurando uma câmera, e olhava pra mim dizendo "mais uma?", eu só respondia "beleza, mais uma". Isso ajudou o filme. Sempre há risco envolvido, sempre da maneira mais segura, mas é parte da diversão da energia visceral que você vê em tela.

O primeiro filme nos apresenta à personalidade complexa do Tyler e aos problemas do passado com os quais ele lidava. Como foi pra você voltar ao personagem, mas também entregar avanços na personalidade dele?

Chris: (pensativo) É importante entender quem é aquele personagem. Sempre houve muita discussão sobre isso, desde o primeiro filme, mas dessa vez era importante que fosse algo pessoal e não apenas apresentar um novo vilão, um novo cara mau que não se conectasse com Tyler pessoalmente. Isso permite que a audiência se mantenha conectada ao filme, não é uma ideia nova a ser introduzida para o público. Se você viu o primeiro filme, nós vamos além, mas se você não viu, você pode se conectar com o novo. Novamente, a ideia é criar um personagem tridimensional, e é assim com todos os meus personagens, mas principalmente com esse. A expectativa é que seja um filme de ação, com socos, chutes e balas voando, mas a parte divertida para mim é a jornada criativa. A ação é divertida, mas eu comecei a atuar pelos estudos de personagens, de pessoas interessantes e de diferentes emoções.

Chris Hemsworth

Ator

"A ação é divertida, mas eu comecei a atuar pelo estudos de personagens, de pessoas interessantes e de diferentes emoções"

Sam, sua experiência como dublê ajuda a tornar "Resgate 2" um filme melhor? Em alguns filmes de ação as cenas são confusas, com cortes rápidos, e a gente não entende ao certo o que acontece, mas no seu trabalho a ação é fluida e a gente sempre percebe o que está acontecendo.

Tendo um background como dublê de ação, e até mesmo com um pouco de atuação, não como esse cara (aponta para Chris), acho que ajuda. Mas como um fã de cinema de ação, os que me prenderam têm cenas de ação claras, nas quais conseguimos distinguir quem é quem, o que estão fazendo e apreciar a beleza da ação. Isso acontece em filmes de Jackie Chan, Jet Li, que formaram o meu olhar de ação. Então, quando eu faço um filme, eu quero que a audiência saiba o que está acontecendo, que possa apreciar o trabalho duro que atores como Chris têm para o entretenimento do público. Quando você esconde tudo com alguns close-ups e cortes rápidos, você não tem a mesma sensação de uma cena mais ampla que te mostra que é realmente Chris Hemsworth fazendo todas aquelas cenas físicas dificílimas e impressionantes, isso te puxo para o filme. Você pensa "caramba, esse cara realmente está fazendo isso".

Os dois filmes trazem histórias sobre família. Você levou sua família ao set. Como foi isso?

É ótimo. Meus filhos, os gêmeos, estão com nove anos, e minha filha tem 11. Tá ficando difícil levá-los ao redor do mundo, em locações, então eles estiveram comigo por alguns dias. Eu queria que estivessem todos os dias, mas não dava. Era difícil tirá-los do set, especialmente em cenas de ação, porque eles ficavam empolgados, dando socos e chutes no ar... Sam tinha que segurá-los porque eles ficavam muito empolgados, eles são muito ativos. A empolgação deles faz com que eu pense "massa, eles gostam de mim" (risos), eles ficam impressionados (risos). E muitas vezes parece que você é a última coisa que interessa a eles (risos). Essa é a única razão pela qual eu os levo aos sets, para fazer com que eles gostem de mim (risos). Eles acham incrível antes, mas hoje é só "boring".

E se vocês tivessem que filmar Extraction 3 in Brasil? Como seria?

Uhhhh. Seria incrível. Dependendo de como o segundo filme for recebido, se tivermos a oportunidade de ter um terceiro filme, Brasil seria um lugar muito interessante. Nós tentamos fazer com que cada filme tenha um visual único, uma identidade singular, como se a locação fosse quase um personagem. Nós fizemos Índia e Tailândia (no primeiro filme), e agora Praga e Viena... Quem sabe quais serão as próximas locações? Brasil é um lugar lindo e interessante, com muita gente maravilhosa.

Bastidores do filme
Sam Hargrave durante aa filmagens de "Resgate 2". Crédito: Jasin Boland/Netflix

Chris, você recentemente anunciou uma pausa. Você tem uma data pra essa pausa?

Eu precisava tirar uma folga, eu estava exausto. Passei os últimos dez ou doze anos pulando de projeto em projeto. Eu amei, mas a vida vai voando, mas eu precisava quietar um pouco e me reencontrar. Eu tive muitos meses de descanso e agora eu me sinto revigorado, reenergizado, com muita energia criativa e querendo estar de volta em algum projeto. Ainda não sei o que será, mas estou lendo vários roteiros diferentes e conversando com vários diretores para encontrar aquele algo que se conecte comigo em um nível mais profundo.

Sam, quais são seus critérios para procurar locações e decidir quais serão elas?

Sam: Nós temos um mundo incrível e filmes são oportunidades de levar o público a lugares aos quais ele nunca foi antes, de mostrar a eles algo nunca visto. Então, pra gente, com a franquia, estamos mostrando lados únicos de lugares que eles podem ou não já ter visitado, um ponto de vista único. Na Índia, a gente procurou os lugares mais tensos, grandes favelas que se encaixavam na história. A locação tem que estar conectada ao que o personagem sente, à história. Para o segundo filme, acabamos na República Tcheca, que se passou pela Geórgia, porque era um lugar de fácil produção, mas que oferecia muitas vistas incríveis. Como era inverno, dava um tom muito diferente do primeiro filme, a gente queria algo visualmente diferente do primeiro filme. Mais importante, tem que estar conectada à história que queremos contar. É uma oportunidade para nós, como cineastas, mostrarmos o mundo incrível em que vivemos.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Netflix entrevista Rafael Braz Thor Streaming Marvel

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.