Parece piada pronta e provavelmente vai ser usada em diversos textos, mas o grande mérito de “Clickbait”, nova minissérie da Netflix, é seu título, pois é justamente isso o que a coprodução entre EUA e Austrália oferece. Da mesma forma que os clickbaits da internet funcionam, a minissérie engana o espectador, levando-o a clicar nela em busca de algo que nunca é de fato oferecido.
A premissa é interessante. Nick (Adrian Grenier), um cara normal, com um bom emprego e uma bela família, desaparece a caminho do trabalho um dia após brigar com sua irmã, Pia (Zoe Kazan). Algumas horas depois, surge um vídeo em que Nick, aparentemente coagido, admite ter abusado de mulheres. O vídeo se encerra com ele afirmando que irá morrer assim que conseguir cinco milhões de visualizações de sua admissão de culpa.
O cenário está montado e, claro, faz com que os espectadores listem diversas perguntas. Pia e Sophie (Betty Gabriel), esposa de Nick, defendem o marido e tentam encontrar a verdade, mas seria Nick realmente inocente? Quem poderia estar armando algo contra ele? Será que ele era realmente a bondosa pessoa que aparentava ser?
“Clickbait” se esforça para responder a essas perguntas e ainda ensaia discussões sobre o sadismo da internet - Nick, afinal, morrerá quando a contagem bater cinco milhões, independente de ser culpado ou não. A estrutura narrativa da série não tem grandes arroubos criativos, com a família correndo contra o tempo, um detetive, Roshan (Phoenix Raei) tentando encontrar quem é o responsável pelo vídeo, e um repórter, Ben (Abraham Lim), fazendo sua própria investigação sobre o caso.
Em oito episódios de cerca de 45 minutos, a série gasta tempo demais com idas e vindas para não apresentar resultados satisfatórios. “Clickbait” é bem menos complicada do que pode parecer e também bem menos interessante. As seis horas de narrativa poderiam ser enxugadas em um filme ou em quatro episódios de uma série mais concisa.
O curioso é que, mesmo que sejamos capazes de deduzir desde o início que “Clikbait” não é lá grandes coisas, é difícil abandonar a série antes de seu fim. Os oito episódios são cheios de viradas nem sempre surpreendentes e de ganchos muito bem colocados ao final de cada um deles, um atrativo para que, obviamente, deixemos o próximo episódio ganhar a tela antes de pensarmos duas vezes.
Todos os personagens da série têm segredos e eles são explorados para fazer com que suspeitemos de cada um deles, algo que “Mare of Easttown” faz com maestria. Cada episódio traz o ponto de vista de um personagem sobre Nick e seu desaparecimento. O recurso funciona para confundir o espectador e direcioná-lo para novas teorias, mas, ironicamente, não faz com que o texto desenvolva os personagens. Alguns arcos até ganham certa profundidade, mas não demoram para ser abandonados, como o de Roshan. Outros, como os de Pia e Sophia, não vão além das conexões com Nick e como cada uma lida com o acontecimento.
É interessante como o texto tenta vilanizar as mídias, novas e velhas, mas age exatamente com os recursos dela, com a falsa notícia, a chamada exagerada… A série aponta o dedo em diversas direções, mas não parece se olhar no espelho. É difícil imaginar que isso seja intencional, pois “Clickbait” se leva a sério até demais, nunca se entendendo como parte do problema.
O lançamento da Netflix pelo menos é honesto em seu título. “Clickbait” se vende como um complexo “whodunnit”, mas só faz enganar o espectador com pistas falsas e narrativas vazias. Aos poucos, percebemos não nos importar com a resolução daquilo tudo, apenas queremos que tudo acabe logo antes que o texto tente nos enganar novamente com mais uma reviravolta que muda tudo o que foi visto até ali, menos o cansaço de quem está do outro lado da tela.
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