Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Cobra Kai": 5ª temporada corrige rumos e diverte bastante

Em nova temporada na Netflix, "Cobra Kai" mostra ter aprendido com erros do passado, introduz novidades e promete rumo interessante para o futuro

Vitória
Publicado em 06/09/2022 às 18h03
Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

A primeira coisa a ser levada em consideração ao analisar “Cobra Kai” é o fato de a série ser uma grande comédia de “Sessão da Tarde”. Após duas temporadas discretas, ainda produzidas como série original YouTube, o derivado de “Karate Kid” se tornou um fenômeno na Netflix (que comprou os direitos da série) ao atingir em cheio a nostalgia e o fácil consumo. A fórmula busca sempre a referência anterior, se conectando com os filmes, mas também criando novos arcos para novos personagens e principalmente para o núcleo adolescente.

Em alguns momentos, como na quarta temporada, a série passa do ponto - John Kreese (Martin Krove) é um personagem unidimensional e caricato demais para ser desenvolvido com destaque, uma tentativa do texto humanizar o principal vilão da franquia. Essa escolha rouba tempo de tela e roteiro de arcos mais interessantes, com os dos jovens, com os quais o texto várias vezes parece não saber ao certo o que fazer.

A boa notícia é que a quinta temporada de “Cobra Kai”, que chega sexta (9) à Netflix com 10 episódios, aprende com erros anteriores da série e busca algum frescor, mesmo que nem sempre o alcance.

A nova temporada começa com todos lidando com os acontecimentos do fim da anterior e com uma incontrolável expansão do Cobra Kai no Vale de São Fernando. Assistimos a uma propaganda modernosa, falando das academias com discurso inspirador, de olho no futuro, agora com a gestão de Terry Silver (Thomas Ian Griffith), um milionário “que quer transformar vidas”.

Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

Não demora para Daniel (Ralph Macchio) e Amanda (Courtney Henggeler) contextualizarem o espectador sobre o que aconteceu desde que os deixamos pela última vez - Daniel levou seu ex-rival Chozen (Yuji Okumoto), de “Karate Kid 3”, para morar com eles e o relacionamento do casal vive uma crise.

Para o núcleo jovem, a temporada tem início com Miguel (Xolo Maridueña) chegando ao México em busca de seu pai. O México de “Cobra Kai” é tão caricato quanto tudo na série, com filtro amarelo, pessoas suadas, bares suspeitos e pessoas perigosas em cada esquina. Johnny (William Zabka), com a desculpa de uma viagem para se aproximar do filho, Robbie (Tanner Buchanan), parte em busca de Miguel em uma road trip pelas estradas mexicanas.

Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

Todo arco do México se desenvolve e é resolvido rapidamente, com encontros inusitados e soluções repentinas - a ideia nunca foi dar profundidade a Miguel, tanto que o ocorrido no México não tem influência nenhuma na trama, mas sim oferecer à série um refresco, uma troca de cenário ainda que breve. A ideia funciona se lembrarmos da afirmação inicial do texto: “Cobra Kai” é uma grande “Sessão da Tarde” e não se deve cobrar muito além disso.

É interessante como a série tem plena ciência dessa característica e brinca com ela o tempo todo ao potencializar situações e repetir arcos que reforcem isso. A quinta temporada, porém, dá um refresco na já tão explorada rivalidade de Daniel e Johnny e busca novos ares. Terry Silver é um vilão mais interessante do que Kreese justamente por ser menos maniqueísta; o bondoso milionário tem mais recursos além da pancadaria, o que o torna um adversário mais difícil de ser derrotado.

Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

Em sua quinta temporada, “Cobra Kai” acerta também ao manipular a expectativa do público sobre aparições e novos arcos. Quando a história parece caminhar para um caminho de humanização de Kreese, por exemplo, algo já ensaiado desde a terceira temporada, mas não muito bem recebido, o texto dá uma guinada. Da mesma forma, um personagem misterioso que vinha sendo tratado como possível novo vilão tem função bem diferente no roteiro justamente para quebrar esse maniqueísmo e mostrar o poder de transformação das pessoas.

Os novos episódios têm nessa transformação sua “mensagem” e busca reforçar como o Cobra Kai transforma as pessoas negativamente - várias vezes a frase “você se lembra como é ser um Cobra Kai” é utilizada por personagens distintos para justificar o comportamento de algum outro e para deixar claro o foco da temporada.

Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

“Cobra Kai” tem plena ciência de quão ridículo é o fato de todos os envolvidos levarem campeonatos regionais de caratê entre adolescentes como a coisa mais importante do mundo. É cômica a maneira como os personagens acreditam estar em uma luta do bem contra o mal, enfrentando um adversário que representa uma grande ameaça, quando, na verdade, o Vale de São Fernando não passa de um grande bairro.

A quinta temporada de “Cobra Kai” se repete, tem algumas muletas de roteiro ao buscar sempre a conexão com algum filme “Karate Kid”, mas a série diverte como poucas. A dinâmica entre Daniel e Johnny é ótima e fica claro que são eles quem sustentam a narrativa com boas piadas e alguns dramas da vida adulta nem sempre levados a sério. Em contrapartida, a série segue sem saber o que fazer com o núcleo jovem com encontros e desencontros no intuito de conferir alguma novidade, mas entregando uma repetição de arcos.

Quinta temporada da série
Quinta temporada da série "Cobra Kai", da Netflix. Crédito: Curtis Bonds Baker/Netflix

Por fim, é interessante como “Cobra Kai” ruma para uma bem-vinda ampliação de escopo, caminho que deveria ter sido introduzido na temporada anterior, mas que funciona muito bem nos novos episódios para que o texto olhe para o futuro. A série pode não ser a história mais interessante ou a narrativa mais inovadora do mundo, mas ela nunca falha em entregar diversão mergulhada em nostalgia.

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