Já em seus créditos de abertura, “Conferência Mortal” mostra ter algo diferente. Nomes dos envolvidos são apresentados enquanto a câmera passeia pela maquete de um grande empreendimento, um shopping, talvez, mas um cenário cheio de corpos, sangue e destruição. A elegante abertura logo dá lugar a uma trama que se assemelha a um episódio de “The Office” ou “Parks and Recreation”, com humor levemente constrangedor de ambiente de trabalho, mas também com um assassino solto pela região.
Adaptação do livro de Mats Strandberg, o filme dirigido por Patrik Eklund acompanha um grupo de colegas de trabalho em uma “conferência” em uma pequena cidade onde eles liberaram a construção de um shopping. Meio perdida, Lina (Katia Winter) retorna de uma licença de saúde e não entende direito o que está acontecendo, pois tudo seguiu rumos estranhos desde que se ausentou.
O grupo é variado, de veteranos já cansados, dispostos a aproveitar a folga da viagem, a uma dupla ambiciosa que com certeza assistiu a “O Lobo de Wall Street” (2013) e achou que Jordan Belfort, personagem de Leonardo DiCaprio, era um herói. “Conferência Mortal” faz algumas escolhas interessantes no desenvolvimento dos personagens – na falta de tempo para se aprofundar em Lina, por exemplo, o texto opta por fazer o público desgostar de alguns de seus colegas. Assim, não nos importamos de fato com a protagonista, mas ficamos satisfeitos quando alguns coadjuvantes são mortos de maneira bem criativa.
Essa escolha é curiosa porque demonstra, na verdade, que o filme não tem bem um antagonista. Sim, temos um assassino fantasiado matando todo mundo, mas ele é quase sub-chefe. O grande vilão do filme do livro de Strandberg e do filme de Eklund é a ânsia capitalista de destruir uma pequena comunidade com a construção de um estabelecimento e lucrar em cima da destruição e da especulação imobiliária da região.
Essa construção narrativa é muito reforçada mais adiante, quando a matança realmente sai do controle e “Conferência Mortal” se torna um slasher mais convencional. À medida que os corpos vão se acumulando, percebemos algumas similaridades entre os sobreviventes e os heróis, as pessoas que tentam por um fim àquela situação. A própria maneira como o texto lida com o assassino, sem rosto, representado pela figura de um mascote do empreendimento, ajuda nessa interpretação.
“Conferência Mortal” se vende como uma comédia de terror, mas é muito diferente de uma obra tipo “Totally Killer: Dezesseis Facadas”, para ficar em um bom exemplo recente do gênero. O filme sueco tem humor nos diálogos e no comportamento intencionalmente exagerado de alguns personagens, voltando, novamente, a remeter a “The Office”, mas é muito mais um terror slasher do que uma comédia. Mesmo que exista situações engraçadas, a risada que ela desperta é muito mais de nervoso ou constrangimento.
Mais uma ótima produção sueca da Netflix, ao lado de séries como "Gente Ansiosa", "Dinheiro Fácil", "Som na Faixa", "Young Roylas", entre outros, o filme não traz grandes novidades para o gênero de terror, mas consegue extrair o que ele tem de melhor. “Conferência Mortal” é esteticamente interessante, se afastando dos filmes genéricos com mortes criativas, boas atuações, e um bom vilão inserido em um bom subtexto. Ao fim, ainda há um retrogosto agridoce quando as motivações do assassino são apresentadas em um cenário em que é impossível vencer.
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