O diretor Tom Hooper deve ser do time que defende que o último “O Rei Leão” não é um live-action, mas uma animação realista - e ele tem razão. O problema é que o cineasta inglês responsável por filmes como “O Discurso do Rei” (2012), pelo qual ganhou um Oscar, e “Maldito Futebol Clube” (2009) acreditou, também, que seria uma excelente ideia fazer um live-action de verdade para adaptar o musical “Cats”, da Broadway. O resultado é um dos filmes mais constrangedores da história do cinema.
O espetáculo criado por Andrew Lloyd Webber estreou em 1981 e continua até hoje em cartaz mundo afora com diversas adaptações para os palcos - é o quarto show da Broadway mais longevo e o sexto da West End, em Londres. A razão desse sucesso? “Cats” funciona nos palcos, com atores devidamente fantasiados e maquiados, cantando e dançando na mesma plataforma para a qual foi adaptado com sucesso o já citado “O Rei Leão”. Imagina agora se Jon Favreau tivesse resolvido realmente fazer um live-action da aventura de Simba, Timão, Pumba, etc. ao invés de utilizar tecnologia realista? É mais ou menos isso que “Cats”, o filme de Tom Hooper, faz.
Em cartaz a partir do dia 25 nos cinemas, “Cats” chega a provocar vergonha. Hooper optou por não utilizar os mesmos recursos do teatro, ou seja, ele filmou os atores sem indumentárias de gatos para que eles tivessem mais liberdade para dançar e cantar. O resultado é uma computação gráfica esquisita e que parece não acompanhar os movimentos dos atores, que não se parecem com gatos e tampouco são humanos. É realmente esquisito.
Outro ponto que afasta o espectador é o uso em excesso de fundos criados sobre chroma key, o famoso fundo verde. Claro que o recurso abre um campo de possibilidades criativas para o diretor, mas ele também potencializa o que há de estranho ali, como se já não bastassem aqueles gatos...
A trama é a mesma do espetáculo: em uma rotina anual, uma tribo de gatos precisa tomar uma grande decisão em uma noite especial: escolher um dos gatos para uma nova vida. Assim, cada um dos gatos conta a sua história para seu líder, a velha Deuteronomy (Judi Dench), na tentativa de ser o escolhido. O roteiro do filme inova com a presença de Victoria (Francesca Hoyward), uma gata novata tentando entender tudo o que acontece na bagunçada trama (também é assim no teatro) e que faz as vezes do espectador dentro do filme. Outra novidade é o tom do vilanesco Macavity (Idris Elba), que ganha aqui contornos mais malvados em uma tentativa de conferir ameça e conflito à trama.
A sorte do filme (e de Hooper) é que os atores parecem estar se divertindo enquanto cantam e saltam pela tela. O elenco tem nomes de peso como Taylor Swift, Ian McKellen, Rebel Wilson, Jennifer Hudson, Jason Derulo, além dos já citados Judi Dench, Idris Elba e Francesca Hoyward. Bailarina profissional, Francesca dança lindamente, com pouca ou nenhuma ajuda de cabos e computação adicional. Além dela, o destaque fica por conta de uma coadjuvante, Jennifer Hudson, uma gata rejeitada, que canta solo em dois momentos - e quando Vanessa Hudson canta, mesmo por baixo de toda aquela computação esquisita, o público se emociona.
“Cats” é brega, confuso e estranhamente desenvolvido, sua existência é quase inexplicável e nem o elenco estelar salva. Em tela, o espetáculo da Broadway perde charme e se transforma em uma grande bagunça visual e narrativa - e não são os anunciados “ajustes” na computação gráfica que irão “salvar” o filme.
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