A carreira de Greta Gerwig é bem interessante. Como atriz, ela se tornou uma musa dos filmes indie após trabalhar com o marido, Noah Baumbach, em “Greenberg” (2010) e, posteriormente, “Frances Ha” (2012), filme corroteirizado por ela. Chegou a fazer outros papéis de destaque, como no subestimado “Mulheres do Século 20” (2016), de Mike Mills, mas foi como diretora que ela se mostrou uma força em Hollywood. Seu primeiro filme solo, “Lady Bird” (2017), foi indicado a cinco Oscar incluindo Roteiro e Direção, ambas indicações para Greta. Seu novo filme, “Adoráveis Mulheres”, chega à temporada de premiações circulando pelas beiradas nos prêmios principais.
Em “Adoráveis Mulheres” Greta Gerwig reinventa um clássico da literatura americana. O livro publicado por Louisa May Alcott entre 1868 e 1869 (em dois volumes) já foi adaptado cinco vezes para o cinema e outras duas para a televisão - a adaptação mais famosa é a de 1994, dirigida por Gillian Armstrong e com Winona Ryder, Claire Danes, Kirsten Dunst e Christian Bale no elenco. Ao escolher uma obra tão clássica e tradicional, um livro de mais de dois séculos, para adaptar, Greta assumiu um desafio não só de dar frescor a uma história tão popular, mas de não se tornar conhecida por apenas por sua zona de conforto, o cinema independente.
Isso não significa, porém, que Gerwig entregue um “Adoráveis Mulheres” tradicional. Com um elenco estelar encabeçado por Saoirse Ronan, Florence Pugh, Emma Watson, Laura Dern, Timothée Chalamet, Eliza Scanlen e Meryl Streep, o novo “Adoráveis Mulheres” é atual tanto no discurso quanto na linguagem.
Greta Gerwig reconta o drama familiar sobre mulheres em busca de um lugar do mundo com respeito ao original, mas compreendendo o fato dele ter sido escrito no século 19. Desde os primeiros momentos o filme acompanha Jo March (Saoirse Ronan) em sua batalha para ser levada a sério como escritora. O roteiro logo nos apresenta ao resto das irmãs March - Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen) - além da matriarca, Marmee (Laura Dern). Quem também não demora a surgir em tela é Laurie (Timothée Chalamet), um vizinho que se torna amigo das meninas e praticamente parte da família.
“Adoráveis Mulheres”, apesar de roupagem clássica, tem ritmo pop. Greta usa a pegada do cinema independente para construir suas personagens de forma que cada uma das irmãs tenha identidade própria e facilmente identificável. Com a trama dividida entre duas linhas temporais (nada complicado), logo entendemos também a dinâmica entre elas e o papel do jovem Laurie naquela engrenagem.
Ao contrário do filme de 94, que se sustenta no melodrama, o “Adoráveis Mulheres” de Greta Gerwig não é dramalhão. Desde o início do filme já se sabe o destino de uma personagem, mas não é isso que conduz a trama. A nova versão se sustenta no poder de escolha das protagonistas e nos sonhos de cada uma delas, tudo sustentado por atuações de destaque e uma edição ágil. A cineasta entende bem quando pode acelerar a história e quando deve oferecer um respiro ao espectador - assim, os 135 minutos de projeção não parecem muito.
Saoirse Ronan está brilhante como Jo - forte, determinada e sem se importar muito com as regras da sociedade, mas também cheia de dúvidas e inseguranças. Alter ego de Louisa May Alcott na obra original, a personagem está sempre no centro da ação, mas não ofusca suas coadjuvantes. Florence Pugh consegue tornar sua Amy adorável, mas irritante, enquanto Laura Dern constrói uma matriarca em que é possível enxergar de onde saíram as personalidades das filhas. Discreta, mas não menos importante, a Meg de Emma Watson é o equilíbrio da casa.
Mesmo que seja uma história centrada nas mulheres, vale destacar também Timothée Chalamet, que talvez tenha nascido para o papel. Laurie é irresistivelmente charmoso e levemente irresponsável - um elemento catalisador na família March.
“Adoráveis Mulheres” é um filme afetuoso, divertido e com muita personalidade. Greta Gerwig é de uma delicadeza ímpar em uma direção que caminha entre o clássico e o pop sem nunca se perder. Sem levantar bandeira alguma, a cineasta consegue homenagear a obra de Alcott e atualizá-la para novos conceitos sem alterar em nada a sua essência.
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