Como recriar um clássico e torná-lo, de certa forma, contemporâneo? Steven Moffat e Mark Gatiss têm experiência na área; eles são os responsáveis por “Sherlock”, série da BBC que traz para os dias de hoje o detetive Sherlock Holmes criado por Arthur Conan Doyle. A série fez sucesso mundo afora e deu notoriedade para Benedict Cumberbatch, hoje um ator da primeira prateleira de Hollywood. Moffat, ainda, assina como produtor e roteirista a retomada de “Doctor Who” a partir de 2005, ou seja, ele levou um ícone britânico para o mundo. A dupla agora assina “Drácula”, minissérie em três capítulos feita em parceria pela BBC e pela Netflix, que abriga os episódios desde o último sábado (4).
A série, obviamente baseada no clássico de Bram Stoker, começa devagar, com uma espécie de entrevista do advogado inglês Johnathan Harker (John Heffernan) a duas freiras em um convento. Em suas falas, ele se lembra como foi de Londres para a Romênia cuidar de um contrato para o conde Drácula (Claes Bang, de “The Square”). Chegando ao imponente e macabro castelo do conde, as coisas não correm como o esperado.
Durante a primeira parte do primeiro episódio, acompanhamos a jornada de Harker no castelo e vamos conhecendo a verdadeira faceta do protagonista à medida que a história se desenrola. O ritmo, a princípio, incomoda - com uma cadência britânica e utilizando bem o tempo disponível (cada episódio tem cerca de 90 minutos), os produtores não se apressam para mostrar como o advogado saiu dali para chegar ao convento.
O segundo episódio tem ritmo parecido, desenvolvendo o drama para em seguida entregar a ação e o terror. Na terceira parte, porém, tudo muda. Sem entregar spoiler algum, a minissérie ganha nova dinâmica e a produção assume um risco após um início tão classudo - as respostas dos fãs a tal ousadia têm sido mistas.
Ao ser analisada como um todo, a minissérie tem mais qualidades que defeitos. A narrativa tem elementos de terror que fazem lembrar alguns episódios mais sérios de “Doctor Who”, mas também tem muito de “Sherlock” na maneira como se desenrola. Talvez seja justamente por ser tão “britânica” que a série não tenha vingado de imediato - os longos episódios também não devem ter ajudado.
Na maior parte do tempo, “Drácula” não tem o apuro estético que hoje domina a indústria. A série aposta na simplicidade para deixar que seu texto comande a ação. Os embates intelectuais entre Drácula e a freira Agatha (Dolly Wells) têm ótimos diálogos e as cenas de ação, mesmo que não tão comuns, acompanham a qualidade com tensão na medida certa e efeitos práticos.
“Drácula” talvez não tenha agradado por não entregar exatamente o que o público esperava dela. A minissérie não traz vampiros jovens e bonitos desfilando com classe pela noite fingindo profundidade intelectual; tampouco tem belas presas com pescoços à mostra esperando por uma sexualizada versão do conde Drácula. Ao invés disso, a série pega o texto clássico de Bram Stoker e o atualiza com alguns riscos. O Drácula da série é canastrão, nada profundo e arrogante como deve ser um imortal - na verdade é até poética a desromantização do ícone do terror. O resultado final, mesmo que não seja perfeito, é interessante e ousado.
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