Meu texto sobre a primeira temporada de “Jack Ryan”, série da Amazon disponível no Prime Video, começava com uma contextualização: quem é o personagem criado pelo escritor Tom Clancy que ganhou filmes e uma série para chamar de sua? Bem, Ryan era um ex-soldado transformado em burocrata, mas que acaba voltando à ação de vez em quando para salvar o mundo - na verdade os EUA e aliados, ou seja, o que os americanos consideram ser “mundo”.
Na primeira temporada, acompanhamos o analista Jack Ryan (John Krasinski) às voltas com um possível “novo 11 de setembro” enquanto também vemos, mesmo superficialmente, um pouco de sua vida social. Na segunda temporada, disponibilizada pela Amazon na última quinta-feira (31), Ryan, como manda a tradição americana intervencionista, segue como analista para a Venezuela ao lado de um senador e antigo colega de farda (Benito Martinez). Chegando lá as coisas se complicam.
A situação política no país comandado pelo populista Nicolás Reyes (Jordi Mollà) é crítica. Eleito em uma onda nacionalista, o atual presidente desaparece com seus opositores e cada vez mais destrói a economia de um dos países com mais recursos minerais do mundo. Gloria Bonalde (Cristina Umaña), integrante de uma elite intelectual e econômica venezuelana. ameaça a popularidade do presidente nas eleições vindouras e Reyes, obviamente, não tem planos de abandonar o poder. O primeiro episódio é bem movimentado e traz algumas boas surpresas, por isso não vou entrar mais na trama além desse ponto.
Em sua segunda temporada, “Jack Ryan” continua sendo uma série de espionagem e ação - a diferença agora é que demora muito menos tempo para o protagonista pegar em armas. A espionagem fica por conta da relação de Ryan com a misteriosa Harriet (Noomi Rapace), uma linda mulher que insiste em cruzar seu caminho.
Tal qual Noomi, atriz que se sai bem tanto em momentos dramáticos quanto em cenas de ação, outra boa adição ao elenco é Michael Kelly (“House of Cards”), personagem que confere certa urgência à trama sempre com o rosto franzido e no comando das ações.
A série também continua abusando dos clichês do gênero, uma característica oriunda da literatura de Tom Clancy - se pensarmos que o autor ajudou a estabelecer essas narrativas, o uso delas não é tão equivocado.
“Jack Ryan” tinha uma qualidade na primeira temporada: seus vilões não eram necessariamente vilões (pelo menos até quase os episódios finais). Na atual leva as coisas são diferentes; Reyes é caricato desde o início e a sua humanização como um cara “família” não é suficiente para conquistar a simpatia do público. Ironicamente, o mesmo acontece com sua antagonista, Gloria Bonalde, construída como uma mãe carinhosa e uma política atenta à realidade do país, mas ainda assim parte de uma elite com a qual o povo - e o espectador - não se vê representado.
Para latino-americanos, como nós, fica ainda o discurso extremamente americanizado de intervenção para evitar o surgimento de um país, nas palavras da série, “pronto para ser controlado por uma China ou Rússia”, algo não divulgado porque “os poderosos não querem que o povo saiba”.
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Apesar das críticas presentes no texto, “Jack Ryan” continua sendo um bom entretenimento, com alto investimento, cenas de ação bem feitas e uma trama política intrincada, como manda o manual de roteiros de espionagem. Os episódios são ágeis e nunca gastam tempo além do necessário com nada (um respiro às vezes seria até bem-vindo). Seu maior problema é não apresentar novas dinâmicas ou um avanço narrativo, algo esperado em uma segunda temporada de uma série com tantos recursos.
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