Quem foi Judy Garland (1922 - 1969)? Famosa por viver a Dorothy do clássico “O Mágico de Oz” (1939), Garland não tinha a beleza padrão da época e, por isso, era ‘vendida’ pela MGM como a menina comum, que poderia ser a vizinha de quem assistia a seus filmes. A insegurança com a aparência deixou cicatrizes durante toda a vida da atriz e cantora. É nesse ponto de que “Judy - Muito Além do Arco-Íris” foca para criar uma espécie de cinebiografia de uma personagem lendária.
Sim, Judy Garland era uma personagem, como ela mesmo dizia: “sou Judy Garland apenas uma hora por noite. No resto do tempo eu sou parte de uma família”, afirmou em uma entrevista à TV britânica. O conflito entre o estrelato e as obrigações de uma mãe são o foco do filme de Rupert Goold que rendeu o Oscar de Melhor Atriz a Renée Zellweger.
Encontramos Judy em 1969, na reta final de sua carreira. Considerada um risco pelos estúdios (não aparecia nas filmagens eu chegava alterada) e bem distante dos dias de glória em Hollywood, ela relutava em partir para uma temporada de shows no Reino Unido.
Utilizando flashbacks com Judy adolescente (vivida por Darci Shaw), a narrativa traça diversos paralelos entre o início da carreira e a situação apresentada - acompanhamos de onde vem o vício em anfetaminas e calmantes, a preocupação estética, o alcoolismo, além de entender aspectos psicológicos da atriz.
A Judy de Renée é uma versão diferente, um mix entre atriz e personagem, duas mulheres que viveram o melhor e o pior na indústria. Zellweger não entrega uma atuação de imersão na personagem, como Marion Cotillard fez em “Piaf”, por exemplo, ao invés disso ela cria uma versão nova e se distancia do cosplay que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Rami Malek por “Bohemian Rhapsody” ano passado. Vale ressaltar, ainda, que a atriz canta nos números musicais do filme.
Teatro
Adaptado de uma peça de teatro, o roteiro passa a impressão de que funciona melhor no palco. O texto é redondo, abre espaço para pessoas que circularam pela vida de Judy com foco em Mickey Deans (Finn Wittrock), último marido da atriz e quem cuidou de sua carreira até os últimos dias.
O aspecto teatral de “Judy” transforma o filme mais em uma homenagem do que em uma cinebiografia. Conhecemos detalhes da vida da biografada, mas é tudo superficial, com pouca informação, encadeando momentos-chave como esquetes de um programa de TV.
A ideia de apresentar um recorte de um pequeno espaço de tempo garante a urgência, mas relega a notas de rodapé tudo o que aconteceu entre a adolescência e o momento escolhido - quase nada se tem de Liza Minnelli ou de três dos cinco maridos de Garland (apenas Sid Luft e Mickey Deans são mostrados).
Um ponto a se destacar é que o filme de Rupert Goold consegue criar a estrutura “apresentação - conflito - conclusão” com competência, mesmo que para isso faça uso de praticamente todos os clichês de biografias trágicas. O filme também consegue humanizar sua protagonista; Zellweger cria uma mulher complexa, que não entende ao certo a separação entre atuação e vida real.
“Judy” não é um filmaço, mas tampouco precisa ser. Com uma atriz que garante o filme, ele tem força para levar público aos cinemas e uma narrativa que segura pelo lado emocional. Mesmo extremamente brega em algumas sequências, “Judy” vai arrancar lágrimas de espectadores que buscam exatamente isso.
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