A popular e tradicional franquia “Star Trek” se encontrava em um limbo quando o diretor J. J. Abrams resolveu fazer um reboot dela. Lançado em 2009, “Star Trek” foi um sopro de novidade, trazendo a história para uma nova geração, com uma nova linguagem, mas com os personagens clássicos a bordo da USS Entreprise.
O filme não foi um sucesso de bilheteria, mas foi bem recebido pela crítica. Abrams, então, se preparou para o próximo passo, expandir a franquia. O longa seguinte, “Star Trek: Além da Escuridão” (2013), é divertido, mas em diversos aspectos é quase um remake de “A Ira de Khan” (1982), segunda aventura da franquia nos cinemas. A nostalgia não bastou e, mais uma vez, os resultados de bilheteria não foram os esperados.
Em uma terceira chance de sucesso, Abrams se tornou produtor e escolheu Justin Lin para comandar “Star Trek: Sem Fronteiras” (2016). Lin, responsável pelo renascimento da franquia “Velozes e Furiosos” (dirigiu o quinto e o sexto filme da saga), transformou as aventuras de Kirk, Spock, Uhura e cia. em um filme de muita ação. Mais um bom filme que não vingou totalmente. E agora, para onde levar a franquia?
Rumo à telinha
Bem, a decisão da Paramount, enquanto muito se falava em um possível “Star Trek” dirigido por Quentin Tarantino, foi levar a saga para a TV, ou pelo que se entende por TV hoje em dia. “Star Trek Discovery”, disponível na Netflix, é uma série que mantém a estrutura original, com intrigas espaciais, klingons, Spock e incursões pelo desconhecido. Apesar de algumas enrolações, a série é muito boa.
Agora, com o lançamento de “Star Trek: Picard” no Amazon Prime Video, a tal “jornada nas estrelas” ganha uma nova cara, algo bem similar ao que aconteceu com o lançamento de “Star Trek: Nova Geração” lá em 1987. O rosto, na verdade, é antigo - Patrick Stewart volta a viver o lendário capitão Jean-Luc Picard agora envelhecido e amargurado pelas experiências que o fizeram deixar a Frota Estelar.
Picard vive tranquilo em seu vinhedo, na França, cercado de parreiras e vinhos, mas sonhos e lembranças o atormentam. As coisas se complicam ainda mais quando a jovem Dahj (Isa Briones) chega até ele sem saber ao certo o porquê. Percebendo que a história dos dois está muito mais conectada do que parece, o ex-capitão parte em busca de explicações.
Mesmo que os produtores neguem, a série tem conexões fortes com “Star Trek: Nêmesis” (2002) e até cita alguns de seus acontecimentos. Mesmo assim, é completamente desfrutável para quem não assistiu ao filme ou até mesmo à série protagonizada por Picard - logo já se entende quem são os romulanos, os borgs etc. Para quem tiver interesse, "Star Trek: a Nova Geração" está toda disponível na Netflix.
O que torna “Star Trek: Picard” interessante é sua narrativa, muito distante do que se espera para uma série de ficção científica. A comparação mais honesta seria uma espécie de “Old Picard”, ou seja, como “Logan”, que introduziu um Wolverine com o peso da idade. A série entende a idade de seu protagonista e por isso não o coloca no centro da ação - sim, há boas cenas de ação nos três episódios liberados pela Amazon/CBS à imprensa. A idade, porém, não atrapalhou a inteligência e perspicácia de Jean-Luc, sempre com algum plano na manga e capaz de pensar fora da caixinha.
Pelo que foi disponibilizado, “Star Trek: Picard” em algum momento colocará o ex-capitão novamente a bordo de uma nave, mas o roteiro não se apressa em fazer isso. Em boa parte dos três episódios, acompanhamos a trama ganhando forma e novos personagens sendo introduzidos. Vale destacar que tudo na série é muito bem feito, com estética e efeitos visuais que lembram muito mais um filme do que um programa de TV.
É bom ver uma franquia tão tradicional se aventurar por uma nova jornada narrativa. “Picard” tem ritmo cadenciado, faz referência ao clássico, mas sempre olha pra frente. Ao contrário do que nos acostumamos a ver nas outras seis séries e em todos os filmes já realizados neste universo, a nova atração coloca o protagonista em outra posição, a do sujeito que contesta as instituições - talvez um reflexo ao governo Trump, pois é fácil contextualizar alguns momentos da trama na situação política mundial atual.
Com um episódio lançado por semana a partir desta sexta (24), “Star Trek: Picard” parece se assimilar a “Battlestar Galactica”, mas dentro de seu próprio universo. A série da Amazon entende os novos tempos e as possibilidades narrativas que eles proporcionam. Não sei, obviamente, se os outros sete episódios da temporada manterão o nível dos primeiros três, mas o início é bem empolgante.
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