Há algo de especial em “Dark”, aquele tipo de especial que não se explica, não se analisa e nem sequer se entende ao certo. A série alemã lançada em 2017 pela Netflix chegou meio sem hype, aparentando ser uma série de mistério e terror, sobre o desaparecimento de crianças - algo talvez na pegada de Stephen King, uma vez que o remake de “It - A Coisa” estava em alta na época.
A primeira temporada, porém, era surpreendentemente ousada, com ciclos, viagens temporais e discussões sobre livre arbítrio, tudo envolto em uma camada de tensão. Em alguns momentos, parecia criar o suspense apenas pelo suspense, sem caminhar para lugar algum, ledo engano.
Ao longo da segunda temporada, “Dark” mostrou saber exatamente aonde queria chegar, solucionando vários mistérios criados no primeiro ano e criando novos. Ao final do oitavo episódio da segunda temporada, o espectador via o arco se fechando, o fim do mundo chegando, e foi justamente neste momento que o showrunner Baran Boodar e os roteiristas da série puxaram o tapete de todo mundo. Não estávamos presenciando apenas viagens temporais, mas também outros universos, outros mundos, uma realidade alternativa. Quantas existem? Já fomos lá em algum momento? Qual o papel do Sic Mundus em tudo isso? Será que estou entendendo alguma coisa? Talvez não, talvez sim...
Na terceira e última temporada, que chega neste sábado (27) à Netflix, justamente no dia do apocalipse anunciado pela série (27/06/2020), temos todas as respostas para tais anseios. Bem, talvez você continue sem entender alguma coisa, mas tudo bem, de verdade, o desconhecimento e a não-compreensão de algo até ajudam “Dark” a manter sua aura cult, além de fomentar as discussões nas redes sociais. A partir deste ponto, o texto pode conter spoilers mínimos, apenas para contextualização, nada que vá comprometer a experiência, garanto!
Destarte, uma afirmação: nem tudo será respondido. Por mais que isso possa incomodar, algumas questões permanecerão em aberto ao final da jornada das famílias Kahnwald, Nielsen, Doppler, Tiedemann e alguns outros habitantes de Winden, mas o final é bem satisfatório.
É interessante como “Dark” deixou de ser uma série sobre mistérios para se tornar uma trama sobre jornadas, amor e escolhas. A terceira temporada nos apresenta novas regras do “jogo” da viagem no tempo e mostra a real importância de personagens até então incompreendidos. As coisas giram em torno de Adam e Eve, Adão e Eva, a criação, o início daquele ciclo. Ele precisa ser interrompido e é passível de tal interrupção? A temporada te dirá.
A narrativa da terceira temporada é eficaz o suficiente para atender as demandas por respostas e inserir novos elementos para facilitar o processo. Estão lá o Paradoxo de Bootstrap (ainda mais detalhado) e o experimento do Gato de Schrödinger, mas, ao fim, eles servem apenas como um estofo gourmet para toda a jornada.
Em sua temporada final, “Dark” novamente mostra sua capacidade de expandir seu universo para em seguida se fechar e se tornar algo mais íntimo - talvez não seja sobre viagem no tempo, afinal. Há, sim, momentos em que o espectador se sente perdido, sem saber exatamente quem é quem, mas eles pouco importam para a compreensão final. Mesmo com alguns episódios que pouco acrescentam, a série é enxuta e encerra seu “último ciclo” de maneira bem satisfatória.
Mesmo não sendo tão didáticoou tão “mind-blowing” quanto alguns espectadores talvez esperem, o final de tudo é de fácil compreensão - daqui a uns quatro anos ninguém dirá “entendi, eles estavam todos mortos”. Essa é a grande diferença de uma narrativa pensada com início, meio e fim, entender o ponto de partida para saber, assim, aonde quer chegar, mesmo que no caso de “Dark”, como o próprio trailer diz, “o começo é o fim e o fim é o começo”.
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