Se você pensar com carinho, o apocalipse pode ser uma oportunidade para se reinventar. A antiga ordem vigente já não existe mais e o mesmo acontece com a hierarquia. Tudo pode acontecer no que restou do mundo… Ou mais ou menos isso. Em “Daybreak”, que chega à Netflix quinta-feira (24/10), o jovem Josh Wheeler (Colin Ford) apresenta a trama dizendo que “ditadores com um grande ego podem lançar uma bomba nuclear com um tuíte… E um dia eles lançaram (...) O apocalipse foi a melhor coisa que já me aconteceu”.
Após a explosão da bomba, todas as pessoas com mais de 18 anos evaporaram ou foram transformadas em um tipo de zumbis que repete as últimas frases ditas em vida. O visual pouco ameaçador, no entanto, esconde a sede por sangue desses “ghoulies”.
Alguns meses depois da destruição, a sociedade se reorganizou em castas: os esportistas, os nerds, as garotas populares… cada grupo com sua área de controle em Glendale, onde se passa a trama. Josh, no entanto, é um solitário. Por mais que afirme gostar do apocalipse, ele passa seu tempo procurando a namorada, Sam Dean (Sophie Simnett), a garota mais adorável do mundo. Em sua jornada, seu caminho se cruza com o de Wesley Fists (Austin Crute), um ex-atleta agora dedicado aos ensinamentos samurais, e Angelica (Alyvia Alyn Lind), uma adolescente tão genial quanto geniosa, sempre querendo incendiar alguma coisa.
Por mais que estejamos saturados de histórias de zumbis, “Daybreak” traz renovação ao gênero. Nos cinco episódios disponibilizados pela Netflix (a temporada tem 10), a série se apresenta como um dos mais interessantes produtos originais da empresa de streaming.
A série baseada no homônimo quadrinho cult de Brian Ralph expande o universo das páginas e torna tudo mais grandioso. Enquanto os quadrinhos se limitam à visão de Josh, a série divide o protagonismo com Wesley e Angelica, acrescentando profundidade a ambos; a trama também deixa o Canadá e se muda para a pacata Glendale, na Califórnia.
A grande sacada de “Daybreak” é a linguagem, além do humor ácido e das referências à cultura pop. A influência mais imediata é “Mad Max” (todos passam a se vestir como no filme de George Miller) e o cinema de John Hughes, principalmente o clássico “Curtindo a Vida Adoidado” - a série inclusive traz Matthew Broderick, o eterno Ferris Bueller, como o diretor boa praça da escola de Glendale.
A constante quebra da quarta parede coloca o espectador dentro da ação, outro elemento a ser destacado. A série é violenta e com momentos “gore”, com tudo estilizado de uma maneira cômica; os próprios efeitos de computação não tentam ser perfeitos ou se encaixar naqueles ambientes.
“Daybreak”, à sua maneira, também toca em assuntos sociais, em questões de sexualidade, racismo, solidão e principalmente no não-pertencimento, algo comum aos protagonistas. O texto consegue fazer humor politicamente correto mesmo se permitindo cruzar a linha em alguns momentos (na maioria das vezes como recurso narrativo).
É interessante perceber que pelo menos nos cinco primeiros episódios a série não se repete. Ela às vezes têm uma pegada meio Martin Scorsese (quando narrada por Angelica), outro traz o rapper RZA narrando a jornada de Wesley como um samurai. Quando muda a dinâmica, a série se aproxima muito de “Community”, série que deu visibilidade aos irmãos Joe a Anthony Russo, diretores dos últimos “Vingadores”.
Este vídeo pode te interessar
Os episódios disponibilizados encerram um arco, mas deixam muitas pontas abertas para serem exploradas na segunda metade da temporada. Podem acusar a série de muito estilo e pouco conteúdo, mas “Daybreak” deve ser analisada pelo que é: entretenimento. A série é divertida e ainda assim consegue tocar em assuntos delicados sem ser panfletária. Uma das melhores séries originais da Netflix.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.