O fenômeno literário Harlan Coben parece estar dando frutos para a Netflix. O milionário acordo para a adaptação de 14 livros do autor americano na plataforma de streaming acaba de ganhar em “Desaparecido Para Sempre” o seu quinto produto em menos de dois anos. Antes, já haviam sido produzidas as boas “Não Fale com Estranhos” (Inglaterra) e “O Inocente” (Espanha), além das razoáveis “Safe” (Inglaterra) e “Silêncio na Floresta” (Polônia).
Produção francesa, “Desaparecido Para Sempre” adapta o livro homônimo originalmente lançado em 2002 (chegou ao Brasil em 2010) para o formato de uma minissérie em cinco episódios. A adaptação, vale ressaltar, é bem livre e as mudanças vão além da ambientação que deixa os EUA e passeia entre França, Itália e Espanha.
Na trama da série, Guillaume (Finnegan Oldfield) viu sua ex-namorada, Sonia (Garance Marillier), e seu irmão, Fred (Nicolas Duvauchelle), morrerem no mesmo dia em um crime nunca solucionado. Dez anos depois, é a vez de a atual namorada de Guillaume, Judith (Nailia Harzoune), desaparecer sem deixar pista alguma. Sem entender ao certo o que está acontecendo, o jovem se junta ao amigo Daco (Guillaume Gouix) para solucionar o desaparecimento de Judith.
Mesmo com diversas diferenças em relação ao livro, “Desaparecido Para Sempre”, a série, é um texto de Harlan Coben, ou seja, todas as marcas do autor estão presentes - histórias mal contadas, mortes mal explicadas, telefonemas misteriosos, figuras meio sinistras aparecendo em segundo plano, e por aí vai.
A narrativa opta por explorar personagens distintos em cada um dos cinco episódios, o que confere profundidade a eles, mas nem sempre funciona bem com o arco principal. Daco, por exemplo, ganha um passado complexo e que nos faz até entender alguns de seus atos no presente, mas eles pouco importam para a jornada de Guillaume, o mesmo vale para o desenvolvimento de Inês, outra personagem que pouco acrescenta à série além de ser utilizada como recurso para uma virada importante do roteiro.
Esses arcos secundários acabam roubando tempo da trama principal e a deixando um tanto apressada em uma história já curta. Assim, o texto recorre a soluções repentinas que tiram o peso das decisões e descobertas dos personagens. O texto entrega um tom um tanto moralista em uma das muitas reviravoltas e constrói a narrativa de forma que o espectador não seja totalmente surpreendido quando elas ganham a tela.
“Desaparecido Para Sempre” é a mais brega adaptação de Coben para a Netflix e também a mais fraca. Ela não tem a carga dramática de “Não Fale com Estranhos” ou o festival de viradas impactantes de “O Inocente”, longe disso, é uma série previsível desde os momentos iniciais do primeiro episódio. Ainda, falta à minissérie um maior cuidado na produção - as tatuagens de alguns personagens são facilmente identificadas como adesivos e as cenas de luta têm coreografias e edição sofríveis.
Vale destacar a ambientação da história. A litorânea Nice oferece um belo cenário para o texto e também questões não presentes no livro de Coben, como a imigração e o racismo, que é levemente abordado, mas logo deixado de lado. Algumas alterações em relação ao material original fazem sentido, dado que a utilização da premissa original deixaria a nova série da Netflix muito próxima de “O Inocente” mesmo que ambas tenham mistérios diferentes em suas essências.
“Desaparecido Para Sempre”, ao fim, é uma experiência decepcionante que não faz jus ao nome de Harlan Coben e não faz valer a ousadia de modificar bastante o texto do livro do autor, podendo irritar os fãs do material original e não conquistar novos. A minissérie francesa carece de peso na narrativa e sofre com sub-tramas não necessariamente ruins, mas descartáveis, um erro que compromete uma série de narrativa curta e picotada entre idas e vindas.
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