A premissa de “Desejo Obsessivo”, minissérie britânica lançada pela Netflix, não chega a ser uma novidade. William (Richard Armitage), um renomado cirurgião, se apaixona por sua futura nora, Anna (Charlie Murphy), dando início a uma relação complexa, cheia de regras, num jogo de poder sensual e perigoso.
Adaptação do livro “Damage”, de Josephine Hart, e já adaptado para o cinema no bom “Perdas e Danos”, com Juliette Binoche e Jeremy Irons, “Desejo Obsessivo” ganha força no formato minissérie, em quatro episódios de cerca de 40 minutos cada, que permite que o texto seja desenvolvido com um pouco mais de tempo.
“Desejo Obsessivo” é um suspense erótico sem grandes segredos: há bastante sexo, alguma nudez e um clima constante de perigo. Os coadjuvantes estão ali apenas para colocar o texto em movimento e reforçar a sensação de que William e Anna podem ser descobertos a qualquer instante. Assim, Jay (Rish Shah) e Ingrid (Indira Varma), filho e esposa de William, respectivamente, pouco fazem além de cumprir os papéis determinados por eles na trama, e o texto não pode nada além disso.
Armitage e Murphy têm química em tela, desenvolvendo uma tensão sexual constante entre seus personagens e funcionando muito bem no jogo que é a relação deles. “Desejo Obsessivo” é uma história de sexo, mas também é um jogo de poder, regras e obediência. Anna é uma mulher complexa, fria, que vive pela máxima “pessoas machucadas são perigosas, pois sabemos que elas podem sobreviver”. Quando conhecemos mais sobre o passado da personagem, entendemos o significado da frase e um pouco de suas estranhas motivações. Anna oferece a William o perigo, a fuga do controle - pela primeira vez, em um relacionamento ou na atuação profissional, não é ele quem dá as cartas -, e isso o deixa completamente obcecado por ela.
A trama sexy e com clima de perigo de “Desejo Obsessivo” é muito potencializada pela qualidade técnica da série. A iluminação das cenas, por exemplo, sempre deixa um clima de meia luz, um convite para algo mais íntimo, o mesmo acontece com a trilha sonora de Anne Dudley, utilizada para construir a tensão e a sensação de risco a cada momento em que os protagonistas estão juntos. Essa construção de clima é essencial para a série e a coloca em um patamar superior em relação a seus pares, criando um ambiente perfeito para que o espectador se envolva na história.
“Desejo Obsessivo” é quase uma tragédia grega em sua essência, e é quase cruel acompanharmos a construção desse drama tão intimamente. Após todo bom desenvolvimento dos três primeiros episódios, porém, o quarto parece um tanto atropelado - o final era algo inevitável pelo que foi apresentado antes, mas é a forma que incomoda. Todo o clima construído merecia um final mais envolvente, uma virada menos repentina e mais desenvolvimento dramático para o momento do clímax, que é quase um anticlímax.
Apesar do problema em seu arco final, “Desejo Obsessivo” é ótima, talvez a melhor obra do gênero na Netflix (não que a concorrência seja grande...). A jornada de William e Anna, o jogo de poder e sexo, com cenas muito bem filmadas, e o clima de estarmos acompanhando algo proibido prendem o espectador até o fim. Diante de tudo o que acompanhamos, uma frase de William ao fim é o que resume a crueldade e a obsessão: “eu faria tudo de novo”.
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