A comparação é inevitável e os produtores nem fazem questão de afastá-la: “Din e o Dragão Genial” é uma atualização da clássica história de “Alladin”, personagem de “As Mil e Uma Noites” transformado em animação e, posteriormente, em live-action pela Disney. Lançado pela Netflix, a animação da Sony Pictures Animation leva a história para a China, transforma a lâmpada mágica em um bule de chá, e o gênio, em um dragão capaz de conceder os famosos três pedidos.
Na animação dirigida por Chris Appelhans, um talentosíssimo ilustrador em seu primeiro filme como diretor, Din (Jimmy Wong) é um jovem de uma família pobre que sonha se reencontrar com Li Na (Natasha Liu Bordizzo), sua amiga de infância que se mudou do bairro quando eles ainda eram crianças. O pai de Li Na construiu um império e a jovem se tornou uma modelo conhecida na cidade, reforçando ainda mais o distanciamento entre a jovem e o esforçado Din, que trabalha como entregador das sopas da mãe e ainda faz uns bicos para aumentar a renda e se tornar “digno” de encontrar Li Na novamente.
Em uma dessas entregas, Din esbarra com uma figura estranha que o paga pela sopa com um misterioso bule. Não demora e o jovem descobre que dentro do bule vive Long, um dragão milenar capaz de realizar três desejos - pode ser a única chance que Din terá de se reconectar com Li Na, mas um artefato tão poderoso obviamente também é procurado por uma turma de vilões.
“Din e o Dragão Genial” se divide em duas dinâmicas: a construção da relação de Din com Long e as sequências de ação dos capangas em busca do bule. Long não entende como seu novo mestre não deseja o mesmo de todos os outros que o despertaram, ou seja, fortunas e poderosos exércitos. Mas Din é um jovem simples, envolto em muito afeto na comunidade em que vive e disposto a ver sempre o lado bom da vida.
O dragão não era despertado há mais de mil anos, então boa parte do humor do roteiro se sustenta nos estranhamentos com a contemporaneidade - carros, aviões, ônibus, telefones celulares, costumes… Ajuda o fato de John Cho encarar o personagem com uma pegada meio Robin Williams, que viveu o gênio no “Alladin” de 1992, com um tempo de humor impecável e se permitindo ser ridículo mesmo quando se leva a sério.
“Din e o Dragão Genial” também se sai bem em seu outro pilar de sustentação, as lutas, com sequências capazes de orgulhar Jackie Chan, um dos produtores do filme e dublador de Long na versão original. A turma de vilões, mesmo sem nenhum desenvolvimento, tem carisma. O líder, um exímio lutador que (quase) nunca tira a mão do bolso, permanece o tempo todo com um ar ameaçador e misterioso, funcionando até melhor assim do que no momento em que tem mais tempo de tela.
O filme é uma tentativa da Sony/Netflix de abraçar o mercado asiático, a plataforma de streaming já havia acenado ano passado com "A Caminho da Lua", e curiosamente encontra em outro lançamento recente, “Raya e o Último Dragão”, uma temática parecida. Ao contrário do filme da Disney, uma jornada mais de encanto e aventura, “Din e o Dragão Genial” abraça lições contemporâneas de formações familiares e prioridades afetivas além de mostrar uma China moderna mesmo guardando suas tradições.
O problema do filme dirigido por Appelhans é sua falta de frescor. A inspiração em “Alladin” oferece conforto ao espectador, uma compreensão quase imediata da história, mas também arcos de poucas novidades para a maioria. Vale ressaltar que, ao contrário do gênio da lâmpada, Long ganha profundidade, uma história que o levou até aquele ponto; assim, se torna muito mais fácil entender toda a comoção e a identificação dele com os humanos. Essa história de fundo também torna o terceiro ato mais emotivo mesmo atropelado por sequências de luta que dão um ritmo de urgência à narrativa, mas nem sempre empolgam. Apesar do bom visual e dos embates criativos, falta ao filme um antagonista mais interessante.
Visualmente, “Din e o Dragão Genial” é bem eficaz. A animação é colorida, viva, e recria Xangai em detalhes, destacando os mundos distintos de Din e Li Na. Enquanto as periferias são mais calorosas, com tons mais quentes, o mundo dos mais afortunados é frio, cheio de tons metálicos que remetem a dispositivos tecnológicos e ao distanciamento.
“Din e o Dragão Genial” mistura piadas inteligentes a outras não muito sutis, mas que devem agradar à criançada. O filme é previsível e sua virada final não surpreende, mas ele não busca ser nada diferente disso - a história sobre o que realmente importa na vida garante conforto e desperta a memória afetiva oferecendo uma jornada interessante e atrativa.
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