
À época de seu lançamento nos cinemas do Brasil, "Dora e a Cidade Perdida" impressionou pela péssima escolha da data, distante das férias escolares. A versão live action das aventuras da pequena Dora, a aventureira, desenho animado de sucesso entre crianças chegou ao Brasil em novembro de 2019, durante período escolar, o que raramente funciona para um filme de público infantojuvenil. Assim, a notícia da chegada do filme à Netflix é mais uma possibilidade para o filme que é surpreendentemente divertido.
Dirigido pelo bom James Bobin (“Flight of the Concords”, “Muppets 2: Procurados e Amados”), “Dora e a Cidade Perdida” tira Dora (Isabela Moner) da selva amazônica, onde vive com os pais (Michael Peña e Eva Longoria), e a leva para a cidade. No selvagem colegial americano, ela precisa fazer novos amigos e entender como é a vida longe de suas aventuras e do macaco Botas, seu fiel escudeiro. Isso, claro, antes de se ver envolvida na busca pela cidade perdida de Parapata, um bem guardado tesouro da civilização Inca, para salvar a vida de seus pais.
Após uma breve introdução ao universo de Dora, quando encontramos ela ainda criança (como no desenho animado) brincando ao lado de Botas e do primo Diego, o filme logo a transporta para a adolescência. Com 16 anos e tendo vivido boa parte da vida na floresta, Dora é genial, mas pouco conhece sobre a vida urbana. É nesse choque cultural que o primeiro ato de “Dora e a Cidade Perdida” se sustenta; a breve interação da protagonista com seus colegas de escola e com os costumes urbanos é divertidíssima, mas o filme logo muda de tom.

Quando a jovem, acompanhada de Randy (Nicholas Coombe), Sammy (Madeleine Madden) e Diego (Jeff Wahlberg, sobrinho de Mark Wahlberg), volta à densa floresta sul-americana, o filme ganha uma pegada bem parecida com a da versão 2017 de “Jumanji”: aventura sempre pontuada por bom humor, gags físicas e novas descobertas.
Dora, apesar de agora ser uma adolescente, é a mesma criança da animação; hiperativa, ela canta o tempo todo, além de ser extremamente positiva e ingênua. O filme ainda tem uma divertida sequência que homenageia o desenho de forma criativa e sem exageros.
Vale destacar o elenco, que diverte todo o tempo. Michael Peña garante ótimas risadas (a cena da rave é incrível, pena ter se perdido na dublagem) e os jovens também estão bem, destaque para Moner, que parece se divertir horrores, sempre ligada no 220v, e Coomber, um nerd, uma espécie de Dora dos videogames.
“Dora e a Cidade Perdida” também se mostra um filme conectado com a realidade, com discurso inclusivo, que chega até a resvalar na crescente paranoia por segurança dos grandes centros.
Os elogios deste texto talvez venham da surpresa ao encontrar um filme divertido e subestimado ao invés de uma aventura juvenil genérica, mas o longa também tem seus problemas. Os vilões são mal-desenvolvidos e aparecem do nada, algo bem irritante se você já jogou algum “Uncharted” na vida. O Raposo (voz de Benício del Toro), principal antagonista da personagem no desenho, perde destaque, apesar de protagonizar algumas boas sequências. O roteiro é amarradinho, mas peca pelo excesso de coincidências e pelas viradas previsíveis. Detalhes obviamente ignorados pelo público alvo.
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“Dora e a Cidade Perdida” teria sido o filme perfeito para os cinemas lançarem no período de férias escolares. A bilheteria nos cinemas do Brasil foi inferior a de mercados bem menores, como Peru, e mais próxima de mercados de menos importância, como o Panamá, do que de outros que se equiparam ao potencial do Brasil, como o México. Agora, na Netflix, o público brasileiro ganha uma nova oportunidade para se divertir com uma adorável aventura sobre se conhecer, enfrentar desafios, entender o outro e fazer o certo.
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