“Dupla Jornada”, lançado pela Netflix nesta sexta (12), é óbvio em suas intenções. Escrito pelo iniciante Tyler Tice e dirigido pelo ex-dublê J. J. Perry, o filme busca referências no universo de John Wick, com o diretor e também ex-dublê Chad Stahelski assinando como produtor e o roteirista Shay Hatten (“John Wick 3”) colaborando no texto. Assim, por mais que a premissa pareça distante daquela da franquia estrelada por Keanu Reeves, a construção de universo é bem similar.
O filme do diretor estreante J. J. Perry tem Jamie Foxx como Bud, um sujeito que finge ser limpador de piscinas, mas na verdade é um caçador de vampiros independente. Ele descobre e mata as criaturas para vender suas presas ilegalmente e assim ganhar algum dinheiro para sustentar a filha, Paige (Zion Broadnax). O problema é que o dinheiro anda curto e a ex-esposa de Bud, Jocelyn (Meagan Good), quer se mudar para a distante Flórida. Por isso Bud precisa conseguir dinheiro rápido para bancar os gastos da família e evitar a mudança.
Logo descobrimos que Bud é indisciplinado e que foi expulso do sindicato de caçadores de vampiros para o qual agora precisa retornar com o apoio do amigo e lendário caçador de vampiros Big John (Snoop Dogg). Mas agora Bud terá que trabalhar com o certinho Seth (Dave Franco), um burocrata conhecedor de todas as leis do mundo de caçadores de vampiros, mas que nunca viu a ação na prática.
“Dupla Jornada” usa a estrutura de mundo de “John Wick”, com o sindicato e suas regras, para contar uma história de dupla improvável ao estilo “Máquina Mortífera”. Não é novidade alguma, mas tem alguns bons momentos principalmente quando deixa os péssimos diálogos de lado e parte para a ação.
Dublê de filmes como “Velozes e Furiosos” e “John Wick”, J. J. Perry consegue imprimir a seu trabalho um ritmo interessante e boas sequências de luta, com coreografias criativas nas cenas de luta e participações muito boas como a de Scott Adkins na ótima cena invasão a um ninho. O filme também tenta transmitir um senso de grandiosidade que depende um pouco do espectador comprar o absurdo - uma boa cena de perseguição é quase arruinada se pararmos para pensar como tudo é conveniente, como se o cineasta soubesse exatamente o que queria para cada cena, mas não exatamente como fazer o texto chegar até elas.
É justamente no roteiro que “Dupla Jornada” intencionalmente abusa dos clichês. O texto até se esforça para parecer mais profundo, falando sobre diferentes tipos de vampiros, mas nunca sai desse esforço inicial. Praticamente todos os vampiros servem apenas para serem eliminados aos montes nas cenas de ação, como hordas de zumbis.
Há também os vilões “chefes”, como Audrey (Karla Souza), uma vampira mexicana que pretende dominar a Califórnia e transformar todos em vampiros sob seu comando - uma personagem até meio problemática em um contexto social que parte da sociedade dos EUA repele imigrantes mexicanos. Além dela, há o capanga Klaus (Oliver Masucci, de “Dark”), que serve apenas como adversário para os coadjuvantes na batalha final.
O texto traz uma virada repentina e promissora no início do terceiro ato, mas a resolve de forma covarde, ignorando tudo o que havia sido mostrado pelo filme até então e até a própria dinâmica pré-estabelecida no universo construído pelo filme.
Outro problema reside em algumas piadas de gosto muito duvidoso (recomendação para um vampiro não se alimentar de uma obesa por “ter muito colesterol) e de uma artificialidade na dinâmica dos protagonistas. Dave Franco não se sai mal no papel, mas também não se destaca; da mesma forma, Jamie Foxx carrega sua marca de vencedor do Oscar no piloto automático - qualquer outro teria feito exatamente o mesmo papel com competência.
Apesar dos muitos problemas, o saldo final de “Dupla Jornada” é positivo justamente pelo filme nunca se levar a sério. Violento, ágil e sempre em movimento, o lançamento da Netflix tem ótimas cenas de ação e é divertido ao ridicularizar alguns de seus próprios conceitos como se estivesse levando tudo a sério. Talvez você não se lembre dele após 20 minutos de seu fim, mas isso não significa que os 110 minutos anteriores não tenham sido divertidos.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.