"Tales From the Loop" é uma das séries mais ousadas dos últimos tempos. Adaptação para o Amazon Prime Video das obras do artista sueco Simon Stålenhag, a antologia que chega sexta, 3 de abril, à plataforma é no mínimo diferente. Primeiro, obviamente, por transformar pinturas em roteiros, e, depois, por deixar a ficção científica que invade a tela em segundo plano para contar histórias de pessoas.
Por telefone dos EUA, onde se encontra isolado em virtude do coronavírus, o criador da série, Nathaniel Halpern, conversou com a coluna para falar sobre o lançamento. Roteirista da bizarra e incrível "Legion", Halpern conta que foi atraído pelo aspecto emocional da obra de Stålenhag. "Fui absorvido pelo mundo que ele criou. É uma construção diferente, com uma estética especial. É atemporal e poderia ser qualquer lugar. É raro ver algo tão original na ficção científica", afirmou
Com oito episódios em sua primeira temporada, série se passa em uma cidade sob a qual um acelerador de partículas, o tal Loop, foi construído para explorar os mistérios do universo. Os habitantes de lá convivem normalmente com tudo o que os cerca, robôs, objetos flutuando, realidades alternativas... Nada é impossível.
A série conta no elenco com nomes como Johnathan Pryce ("Dois Papas"), Rebecca Hall ("Vicky Cristina Barcelona") e Daniel Zolghadri ("Oitava Série"). Em cada um dos oito episódios, encontramos uma história pessoal sobre um dos personagens que habitam aquela cidade. "A ideia é manter o senso de admiração em cada episódio", contou Halpern. "Com uma história continuada, corre-se o risco de o público se acostumar com o que vê", completou. Os episódios são dirigidos por cineastas como Mark Romanek, Jodie Foster e Andrew Stanton.
Confira a entrevista.
Olá, Nathaniel. Como você está? Você está isolado pelo coronavírus?
Sim, sim. Estou bem, mas estou isolado. E você?
Estou trabalhando de casa há duas semanas.
E como está sendo?
É muito quente aqui nesta época do ano, mas estamos fazendo o que podemos, certo?
Claro. Nós vamos superar isso.
Vamos falar de "Tales from the Loop". Eu assisti aos episódios 1, 4 e 6 e achei incrível. É único, um mundo único, com histórias encantadoras. Como você teve contato com o livro do Simon?
Foi o diretor Matt Reeves (produtor da série e responsável pelo novo Batman) que me mostrou as pinturas do Simon. Fui completamente absorvido por ele, como acredito que a maioria das pessoas tenha sido. É uma construção de mundo diferente, com uma estética especial. É raro ver algo tão original no mundo da ficção científica. Além disso, eu a vi como muito pungente, com um aspecto emocional que também mexeu muito comigo. Essa combinação de um mundo especial e da emoção que ele produz foi algo que me atraiu bastante. A possibilidade de adaptar pinturas para um programa de TV também era bem única. Então eu estava bem empolgado para participar do projeto e torná-lo possível.
Então foi o Matt que te levou para o projeto?
Sim. Quase cinco anos atrás, difícil de acreditar, né?
O livro é de 2013...
É, mas as pinturas já circulavam on-line antes de serem reunidas em um livro. Ele também tem um outro livro, "Things from the Flood", que eu também usei de inspiração.
Como a Amazon entrou na jogada?
Basicamente começou com o pedido para ser fiel ao mundo criado por Simon. Tem duas coisas que ditam a estrutura da série, do que você vê em tela. Primeiro eu queria manter aquele senso de admiração vivo. Já participei de séries com uma narrativa mais linear, então nesta eu queria que cada hora (episódio) reiniciasse o encanto do público com um novo elemento de ficção científica. Acredito que isso mantém a série interessante e a admiração viva em quem a assiste. A outra razão é que eu queria contar essas histórias emocionantes sobre pessoas em quem a gente pode se enxergar. As pessoas são normais, mas coisas fora do normal as circulam, acontecem com elas. Há outras histórias que são maravilhosas, mas com as quais o público não se relaciona por serem muito extraordinárias. Isso foi o que me guiou a criar a estrutura com personagens diferentes como protagonistas de cada episódio para ter sua história contada. Assim, tentei manter um equilíbrio e fazer com que nos enxerguemos nesses personagens e participemos dessa jornada.
Simon teve alguma participação na criação?
Claro! Nos encontramos logo no início da produção e ele foi muito gentil e generoso comigo. Ele me apoiou muito contando um tipo de histórias que eu queria contar. Ele é um artista maravilhoso. Há elementos na série que não estavam nas pinturas e eu perguntava a ele como eles seriam pintados se estivessem lá. Por exemplo, o personagem com o braço biônico... Eu perguntei a ele como um braço biônico seria criado naquele mundo, e ele desenhou para mim. Eu levei para o time de efeitos especiais e eles entenderam como criar aquele braço. Há outros elementos similares. Ele foi maravilhoso na colaboração e é um grande apoiador da série.
Nathaniel Halpern
Roteirista e criador de "Tales From the Loop"
"A ficção científica oferece um mundo de possibilidades visuais maravilhosas a serem criadas. Eu sempre fui atraído por essas possibilidades."
Você vem de uma série de narrativa única, "Legion", e agora cria outra com um universo bem particular. Essas histórias diferentes de atraem?
Sim... O que eu amo na ficção científica é que sou muito visual na maneira como penso. A ficção científica oferece um mundo de possibilidades visuais maravilhosas a serem criadas. Eu sempre fui atraído por essas possibilidades. Além disso, eu acho que a ficção científica, em certo nível, te possibilita contar histórias com uma carga emocional que talvez não fosse possível contar em um drama normal. Há algo na ficção científica que dá à audiência um senso de segurança que permite que eles se divirtam com emoções que poderiam ser rejeitadas em um drama. Há muitas possibilidades no gênero que me fazem voltar a ele com frequência.
Quão difícil foi transformar pinturas em uma série de oito episódios?
Com certeza foi difícil, mas acho que a parte mais difícil é criar um universo de contos que valha a pena ser assistido. Eu já tinha isso no trabalho no Simon, então foi um presente desde o início. Depois disso, criando o tom, a pegada e a essência da série, foi uma questão de envolver centenas de pessoas na criação desse universo, com as mesmas ideias. Também foi um desafio manter a estética sempre forte a cada hora, a cada episódio, mesmo que eles contem histórias muito diferentes. Acho que essa foi a parte mais difícil, manter todo mundo no mesmo foco do que estávamos fazendo.
Por que você optou por criar a série como uma espécie de antologia?
É um pouco do que estávamos falando antes, sobre criar um novo senso de admiração a cada episódio ao invés de nos tornamos familiares com os elementos de ficção científica. Ao mesmo tempo, queria manter os personagens como pessoas com as quais podemos nos identificar emocionalmente. Como resultado, cheguei a essa estrutura. Sabia que seriam todas na mesma cidade, mas com personagens e desejos diferentes. Esses desejos é que ditam a estrutura da série.
Apesar de episódios distintos, são todos mais ou menos centrados em torno de uma família e de alguns personagens específicos...
Nós mais ou menos seguimos essa família na primeira temporada. Você vai ver esses personagens pela cidade nas outras histórias em uma cena ou outra. Isso confere uma realidade à série, aquele é um lugar onde aqueles personagens realmente vivem. Pode ser a história deles ou eles podem apenas aparecer no episódio do outro.
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Você escolheu os diretores da temporada?
Com alguns eu já havia trabalhado antes, mas escolhi cada um deles a dedo. Pra mim era muito importante ter uma qualidade cinematográfica na série e eu sabia que precisaria de cineastas com senso visual apurado, pois as histórias não se sustentariam só nos diálogos. Então eu quis diretores de cinema muito sensíveis e tive muita sorte de ter esses oito cineastas. O valor deles foi incalculável no processo de trazer tanta arte à mesa.
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