Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Enola Holmes 2": filme da Netflix é diversão segura e previsível

Enola Holmes, a irmã de Sherlock, volta para mais uma aventura na Netflix. O carisma de Millie Bobby Brown garante charme ao filme que parece escrito por robôs

Vitória
Publicado em 04/11/2022 às 07h04
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Filme "Enola Holmes 2", da Netflix. Crédito: Alex Bailey/Netflix

“‘Enola Holmes’ não é um filmaço, mas é divertido e um ótimo entretenimento”, escrevi, quando do lançamento do filme, há cerca de dois anos. Dirigida por Harry Bradbeer, a trama sobre a irmã do detetive mais famoso da história entende seu público com a assinatura da literatura de aventura para jovens adultos, a descoberta do amor e a busca por pertencimento, mas também torna tudo mais pop com a quebra da quarta parede repopularizada por “Fleabag”. O filme, porém, era mais charmoso e divertido do que, de fato, bom.

Após o enorme sucesso do primeiro filme, Enola Holmes está de volta. Millie Bobby Brown mais uma vez dá vida à personagem que agora abre sua própria agência de investigação para encontrar pessoas desaparecidas, mas logo percebe que uma jovem e independente mulher não tem muito espaço na Inglaterra Vitoriana. Os negócios vão bem para Enola, como descobrimos na ótima montagem sobre seus últimos possíveis clientes, mas, pouco antes de fechar as portas, ela é contratada pela jovem Bessie Chapman (Serrana Su-Ling Bliss) na esperança de encontrar a irmã desaparecida, Sarah. Não demora e Enola mergulha de cabeça na complicada investigação que vai revelar algo muito maior que resultou no sumiço de Sarah.

“Alguns acontecimentos a seguir são reais. Pelo menos as partes mais importantes”, anuncia o filme, em seu início. “Enola Holmes 2” se ambienta bem no período em que situa sua trama, misturando pessoas (Sarah Chapman ainda hoje é considerada um ícone na luta por igualdade de gêneros) e acontecimentos reais (um surto de febre tifoide) a eventos e personagens totalmente fictícios.

É curioso que “Enola Holmes”, o filme, dê tanto destaque à independência da sua personagem título em relação ao irmão famoso, mas não consegue se livrar da marca pop que é Sherlock e do sucesso que foi Henry Cavill como o personagem no primeiro filme - Bradbeer ouviu os fãs e deu mais tempo de tela ao irmão famoso de Enola. Ao menos, desta vez, o personagem é introduzido de forma mais orgânica, quando a investigação a qual ele se dedica no momento se cruza com a da irmã.

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Filme "Enola Holmes 2", da Netflix. Crédito: Alex Bailey/Netflix

Henry Cavill e Millie Bobby Brown têm muita química e um tempo de humor que possibilita uma dinâmica atrativa entre Sherlock e Enola. As cenas com os dois juntos funcionam bem, mas o filme acaba se dedicando tempo demais ao personagem de Cavill, tempo este que poderia ser mais bem aproveitado em outros arcos e em tornar os novos personagens mais interessantes. - David Thewlis e Sharon Duncan-Brewster são subaproveitados e um deles foi claramente introduzido apenas para ser utilizado adiante na franquia. Por outro lado, “Enola Holmes 2” aproveita melhor Helena Bonham Carter como Eudoria Holmes, a mãe da protagonista, em boas cenas da personagem ao lado de Enola e até em uma surpreendente sequência de ação.

“Enola Holmes 2”, vale dizer, tem ótimas cenas de ação, com coreografias criativas e divertidas. Arthur Conan Doyle, criador do personagem, sempre afirmou que Sherlock era um grande boxeador e adepto de artes marciais; da mesma forma, Enola aprendeu a lutar com a mãe. Harry Bradbeer, assim, abusa das cenas de ação, que ganham até mais destaque do que os momentos mais cerebrais dos Holmes, podendo causar incômodo aos fãs mais tradicionais de Sherlock.

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Filme "Enola Holmes 2", da Netflix. Crédito: Alex Bailey/Netflix

O filme sofre com a previsibilidade do roteiro e com as escolhas feitas por ele. Algumas viradas e revelações ganham as telas cedo demais e tiram força do terceiro ato, principalmente se o espectador já tiver um mínimo conhecimento de aventuras prévias de Sherlock Holmes - novamente, por mais que Enola Holmes, a personagem, tente se ver livre de seu irmão, “Enola Holmes”, o filme, a conecta cada vez mais a ele.

Ao fim, “Enola Holmes 2” é uma aventura familiar esperta e totalmente segura, com bastante ação, charme e algumas surpresas. Impulsionada pela força e pelo carisma de Millie Bobby Brown, atriz em quem a Netflix aposta bastante, a franquia até consegue reinventar Sherlock pelo olhar de sua irmã. Porém, é difícil deixar de pensar que “Enola Holmes” é a franquia “perfeita”, produzida sob encomenda de pesquisas e números do que funciona com o público e do que o desagrada, com atores de baixa rejeição, direção moderninha e roteiro com um pouco de realidade aqui, uma crítica social acolá, tudo totalmente em função de uma fórmula e com um texto que poderia ter sido escrito por robôs.

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