O que você busca em um filme de terror? Susto, medo, aquela agonia que faz com que você feche os olhos e se encolha no sofá ou uma boa história? Por mais simplista que pareça, a pergunta inicial é essencial para entender se você é ou não o público alvo de “Escolha ou Morra”, lançado pela Netflix. A verdade é que, se você não liga muito para uma história bem construída e está mais preocupado com o terror em si, o filme dirigido por Toby Meakins, em seu primeiro longa-metragem, pode ser uma boa pedida.
A trama, misturando nostalgia e terror, é totalmente fantasiosa. O roteiro segue a estrutura básica de filmes de terror, iniciar com um impacto e depois partir para a história. Assim, conhecemos uma família cujo pai é um colecionador de artefatos dos anos 1980. Enquanto a família está na sala, ele começa a jogar uma espécie de RPG chamado “CURS>R”, mas o jogo curiosamente parece estar observando seus passos e logo o cobra por uma decisão cruel em relação o filho ou a esposa. Como diz o título do filme, ele tem duas opções: escolher ou morrer.
Logo depois o filme nos apresenta à sua protagonista, Kayla (Iona Evans), uma jovem e genial programadora que abandonou a faculdade para arrumar um emprego e cuidar da mãe, às voltas com o vício em drogas. Um dia, ela e o amigo Isaac (Asa Butterfield, de “Sex Education”) colocam as mãos em tal jogo e descobrem haver uma recompensa de US$ 250 mil para quem o completar - será que essa recompensa ainda vale quase 40 anos depois? Obviamente eles começam a jogar e as consequências são terríveis, mas este texto não revelará spoiler algum.
A ideia é simples e sem grandes ousadias: a cada dia, Kayla deve jogar e fazer suas escolhas, ou ela morrerá. O início do filme surpreende por sua eficácia - “Escolha ou Morra” é sádico e faz com que o espectador presencie algumas cenas daquelas de tapar o rosto. Mesmo exigindo uma óbvia suspensão da descrença com o que se vê em tela, o roteiro é simples e direto, construindo uma boa tensão inicial reforçado por uma ambientação marcada pela tecnologia retrô e pelo clima de terror oitentista.
O desenvolvimento da trama, no entanto, abandona um pouco a tensão inicialmente construída. Todo o sadismo e a brutalidade do ato inicial dá lugar a um texto expositivo e à opção por dar “profundidade” ao jogo e, consequentemente, à trama. É irônico, também, que o jogo pareça ser menos cruel quando se aproxima de seu fim devido à necessidade de tentar desenvolver os protagonistas. Além disso, toda a trama que envolve a mãe de Kayla e o traficante/sujeito que comanda o prédio em que ela mora é desnecessária, servindo apenas para entregar alguma recompensa ao público em certo momento do filme.
Com boa química em tela, tanto Iola Evans quanto Asa Butterfield (em menor proporção) se saem bem quando o texto pede um sensação que mistura medo e descrença. O tal pai de família do prólogo, vivido por Eddie Marsan, também merece muito destaque - é inicialmente com ele que temos noção do peso das decisões do jogo. Outro destaque é para a perturbadora e pesada trilha sonora de Liam Howlett, da banda Prodigy, que dá peso às batidas oitentistas.
É uma pena, assim, que “Escolha ou Morra” gradualmente se esqueça do sadismo e da estranheza que oferece em seus primeiros 30 minutos. O texto funcionaria melhor se tivesse o desconhecido como protagonista, elencando mortes e desafios, uma linguagem similar à que fez sucesso com “Jogos Mortais”, mas opta por explicações que não apenas tiram peso do filme, mas também o tornam bem menos atrativo.
Ao fim, “Escolha ou Morra” é um terror razoável, com uma boa premissa e um início excelente, mas que o filme não consegue sustentar por muito tempo. Talvez desperte alguma nostalgia para quem foi criança nos anos 1980, com os jogos de aventura de texto, mas, com um roteiro problemático e uma narrativa que se torna comum, o resultado é bem mais esquecível do que memorável.
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