É fácil entender como “Esquadrão Trovão” saiu do papel. Com super-heróis (ainda) em alta, mesmo enfrentando um desgaste da fórmula, há bastante a ser explorado até mesmo fora dos universos Marvel e DC. Curiosamente, enquanto a Amazon Prime conseguiu abraçar esse nicho com séries como “The Boys” e “Invencível”, a Netflix ainda não tem um produto de herói para chamar de seu.
Sim, “Titãs” está no catálogo, assim como “Arrow”, mas não são conteúdos originais; o mais próximo de sucesso com heróis na Netflix é “The Umbrella Academy”, mas a série é mais um fantasioso drama familiar do que uma história de heróis. Assim, enquanto “O Legado de Júpiter”, adaptada da HQ de Mark Millar, não chega (em 7 de maio), a plataforma tem em “Esquadrão Trovão” algo próximo de uma história de origem de super-heróis.
“Esquadrão Trovão” é, acima de tudo, um filme de Melissa McCarthy, o que já é quase uma categoria própria de filmes. Após se aventurar pelo drama no bom “Poderia me Perdoar?”, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, a atriz retorna à sua zona de conforto em uma comédia com muito humor físico.
No mundo do filme, um enorme pulso de raios cósmicos interestelares atingiu a Terra e desencadeou mudanças genéticas em algumas pessoas que obviamente desenvolveram superpoderes, mas essas mudanças só aconteceram em indivíduos “geneticamente predispostos a serem sociopatas”. Surgiram assim vários super vilões, os chamados Meliantes, mas nenhum super-herói para combatê-los.
Somos logo apresentados a Lydia e Emily, duas pré-adolescentes sem nada em comum. Enquanto a primeira se preocupa com shows de rock, confrontar professores e bater nos valentões, Emily tem um objetivo claro na vida: terminar o trabalho dos pais, dois geneticistas que buscavam maneiras para desenvolver superpoderes também em pessoas “boas” para, assim, combater os vilões. A semelhança da pequena Lydia com Melissa McCarthy é justificada: a atriz Vivian Falcone é filha de Melissa e do diretor Ben Falcone.
Quando somos levados ao presente, Lydia (Melissa McCarthy) e Emily (Octavia Spencer) se afastaram. Emily deu seguimento a seus planos e se tornou uma famosa geneticista, já Lydia dirige empilhadeiras e bebe cerveja. No dia de uma reunião da escola, Lydia resolve buscar a ex-colega e, atrapalhada, se envolve no experimento final, ou seja, sem querer, adquiriu parte dos superpoderes que Emily planejava adquirir.
“Esquadrão Trovão” é mais divertido quando não se leva a sério, assim como Melissa McCarthy faz durante todo o filme. O conflito do roteiro de Ben Falcone está na diferença de personalidade entre as duas protagonistas. O problema é que enquanto Melissa se encaixa como uma luva nesse humor, Octavia Spencer, acostumada a papéis mais sérios, parece completamente deslocada - uma coisa é funcionar como alívio cômico em alguns filmes mais sérios, outra é estrelar uma comédia escrachada sobre super-heróis.
Como obra de ação, o filme tem problemas de desenvolvimento, apostando em fórmulas estabelecidas e obviedades. Como comédia, no entanto, “Esquadrão Trovão” funciona devido à entrega Melissa McCarthy ao ridículo que o roteiro pede. O texto também ensaia alguns momentos de mais afeto, principalmente na relação de Emily com sua filha, Tracy (Taylor Mosby), e as transformações que Lydia leva a esse núcleo familiar.
O roteiro também cria boas possibilidades dramáticas com o vilão Caranguejo (Jason Bateman), o personagem mais interessante do filme. Alterado geneticamente, o vilão afirma nunca querer ter sido vilão, mas não viu outra saída após a mutação, como se a sociedade o empurrasse para esse estigma. Essa discussão, no entanto, nunca é aprofundada.
“Esquadrão Trovão” oferece algumas boas e honestas risadas se o espectador comprar sua ideia e se divertir como os atores parecem ter se divertido durante as filmagens. Não é um filmaço, mas nem pretende ser. Às vezes tudo o que o público quer é uma comédia leve e sem o menor compromisso com nada - para esse público, o lançamento da Netflix encaixa como uma luva.
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