Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Exército de Ladrões" fracassa em criar franquia, mas diverte

"Exército de Ladrões: Invasão da Europa" chega à Netflix como prelúdio desnecessário para o filme de zumbis "Army of the Dead", de Zack Snyder

Vitória
Publicado em 29/10/2021 às 22h11
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Filme "Exército de Ladrões: Invasão da Europa", da Netflix. Crédito: Stanislav Honzik/Netflix

“Exército de Ladrões: Invasão da Europa” é um filme que chama a atenção não necessariamente por bons motivos. O prelúdio de “Army of the Dead: Invasão de Las Vegas” é totalmente desnecessário e nada acrescenta ao universo do filme de Zack Snyder, mas isso não impede o filme de buscar uma experiência divertida e às vezes eficaz como trama de assalto.

Não se deixe enganar pelo “Invasão da Europa” como subtítulo do filme no Brasil, “Exército de Ladrões” não é um filme sobre zumbis invadindo cartões postais europeus. Dirigido e estrelado por Matthias Schweighöfer, que viveu o arrombador de cofres Dieter no filme de Snyder, o novo lançamento da Netflix é um filme de assalto com a particularidade de ser situado na Europa nos momentos em que os zumbis se espalhavam por Las Vegas naqueles primeiros momentos de “Army of the Dead”.

No novo filme, acompanhamos Ludwig Dieter quando ainda se chamava Sebastian e trabalhava como bancário enquanto gravava vídeos sobre cofres que ninguém via no YouTube. Um dia, uma mensagem o convida para testar essas habilidades e a misteriosa Gwen (Nathalie Emmanuel) entra em sua vida. Surge então a promessa de deixar a vida pacata e solitária para viver grandes aventuras. Quem pode resistir? Nada, a partir daquele momento, será o mesmo para o alemão.

Ao lado da equipe de Gwen, que ainda conta com a hacker brasileira Korina (Ruby O. Fee, atriz porto-riquenha que cresceu no Brasil), o bad boy metido a galã Brad Cage (Stuart Martin) e o motorista de fuga Rolph (Guz Khan), Dieter participa de uma série de assaltos aos cofres desenvolvidos por Hans Wagner (Christian Steyer), objeto de estudo de seus vídeos flopados no YouTube. Isso, claro, enquanto fogem da interpol e lidam com as notícias de um apocalipse zumbi do outro lado do oceano.

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Filme "Exército de Ladrões: Invasão da Europa", da Netflix. Crédito: Stanislav Honzik/Netflix

“Exército de Ladrões” tem estilo e alguns bons momentos. O filme usa arte gráfica para apresentar personagens e locais ao espectador; da mesma forma, faz lembrar “A Invenção de Hugo Cabret” (2011) quando parte para as entranhas dos cofres, com foco nas engrenagens, enquanto Dieter tenta abri-los.

Schweighöfer é ótimo como o protagonista e funciona bem ao lado de Nathalie Emmanuel; Korina e Rolph também são personagens interessantes, mas com pouco tempo para desenvolvimento. Em contrapartida, Brad Cage é raso, talvez intencionalmente, como a justificativa para seu nome, e é possível perceber a jornada do personagem desde cedo - ele tem um papel definido na trama, mas acaba totalmente descartável, assim como o arco dos agentes da Interpol. É curioso que o texto até dê indícios de desenvolver dois agentes, mas nunca segue por esse caminho.

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Filme "Exército de Ladrões: Invasão da Europa", da Netflix. Crédito: Stanislav Honzik/Netflix

Descartável também é toda e qualquer menção a zumbis nos EUA. “Exército de Ladrões” seria muito mais legal sem fazer parte de uma franquia ou um universo compartilhado - Dieter nem sequer era um personagem tão marcante no primeiro filme para ganhar um prelúdio. Sem a necessidade de dialogar com o filme de Zack Snyder, o novo lançamento da Netflix poderia gastar mais tempo com as relações entre seus personagens e trabalhar melhor sua narrativa.

Em mais de duas horas de projeção, a impressão que fica é que “Exército de Ladrões” não tem um clímax - o tão alardeado roubo ao último cofre não tem nada de mais. É até curioso, pois já vimos Dieter abrir o Götterdämmerung no filme de Zack Snyder, o que torna toda desnecessária (mais uma vez esse adjetivo…) a expectativa criada acerca de sua capacidade.

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Filme "Exército de Ladrões: Invasão da Europa", da Netflix. Crédito: Stanislav Honzik/Netflix

Há, é claro, uma ou outra tentativa de mexer com o emocional do espectador, mas não estamos suficientemente envolvidos com aqueles personagens para lamentar qualquer destino conferido a eles - o filme é até bem moralista nesse sentido, fazendo questão de reforçar que Dieter não “é um bandido” e, por isso, não merece a mesma punição que seus colegas. Obviamente, se o protagonista acabasse preso, o filme o impossibilitaria de estar nos EUA para os eventos de “Army of the Dead”.

“Exército de Ladrões: Invasão da Europa” é ruim? Não, mas tampouco é bom. A ideia de uma franquia é forçada e empurrada a fórceps no público, que não pediu por isso ou criou a expectativa de voltar ao universo de zumbis idealizado por Snyder. Trata-se de um filme bem feito, com alguns momentos divertidos, mas nada além disso.

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