Quando a primeira temporada de “Expresso do Amanhã” estreou na Netflix, escrevi neste espaço: “é uma trama com ambientação excelente e muitas histórias boas para contar, o problema é que nem sempre o faz”. De fato, a série que adapta o filme de Bong Joon-Ho para a Netflix cria diversas boas possibilidades de história, com bons personagens, mas nunca com a urgência do material original (o filme de Joon-Ho ou a HQ de Jacques Lob e Jean-Marc Rochette).
A temporada inicial tem altos e baixos, mas se encerra em grande nível, com uma grande surpresa que por si só já justificaria uma continuação da história e despertaria o interesse do público em voltar àquele universo.
O primeiro episódio da segunda temporada tem início exatamente onde terminou o décimo da primeira - com Melanie (Jennifer Connelly) do lado de fora do Snowpiercer, que agora tem o Big Alice atracado a ele. Do lado de dentro, Alex (Rowan Blanchard), filha de Melanie, é o braço direito do trem comandado pelo senhor Wilford (Sean Bean), que finalmente dá as caras.
Enquanto a primeira temporada despertava uma imediata comparação com o filme de Bong Joon-Ho, a segunda se permite seguir caminhos mais distintos. As duas primeiras temporadas foram filmadas ao mesmo tempo, o que faz com que a nova tenha início com o mesmo bom ritmo que encerra a anterior. Após a revolução, os fundistas comandados por Andre Layton (Daveed Diggs) estão no comando do Snowpiercer. O problema é que o Big Alice, um trem bem menor, ameaça desligar o aquecimento do Snowpiercer e matar todos congelados - o trem comandado pelo Sr. Wilford é uma espécie de parasita que consome as riquezas produzidas por seu hospedeiro.
As metáforas continuam nada sutis: apesar de maioria, a população do Snowpiercer é explorada. Há recursos para todos, mas a elite se recusa a pensar uma divisão. Há, ainda, os iludidos com a chegada do Sr. Wilford, um salvador, um messias para salvá-los da ascensão dos menos favorecidos e devolver à sociedade a estrutura de antes, com poucos ricos e muitos miseráveis.
“Expresso do Amanhã”, em sua segunda temporada, ganha diversas possibilidades, mas ainda carece de um rumo. Há o arco de Andre, o de Melanie e sua filha, o do Sr. Wilford, além, claro, de diversas histórias menores que podem ser mais desenvolvidas, como a da Miss Audrey. A revolução, o foco tanto do filme quanto da HQ, já é passado, e, por isso, falta um destino à narrativa. O que vemos agora é a reestruturação daquela sociedade e a possibilidade de o mundo externo ao trem ainda existir - há até arcos que se passam fora do trem, um refresco à trama que às vezes parece não ir a lugar algum.
O formato de episódio semanal pode afastar o espectador acostumado às maratonas, que talvez não tenha tanto interesse em voltar a ela semana após semana. Vale lembrar que a série é uma coprodução entre Netflix e TNT, então a gigante do streaming não toma todas as decisões em relação a ela.
De qualquer forma, “Expresso do Amanhã” continua sendo uma série com potencial, misturando bons elementos de ficção científica a uma trama de sobrevivência às vezes procedural. Voltando ao texto sobre a primeira temporada, o encerro dizendo: “é uma série com boas histórias para contar, o problema é que nem sempre o faz” - pelo menos a princípio, pode-se dizer que a segunda temporada de “Expresso do Amanhã” agora pelo menos ensaia contar essas histórias. Com uma terceira temporada já confirmada, há bastante material a ser explorado, mas o texto precisa de um ponto a que anseia chegar.
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