Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Feel Good" é a tentativa da Netflix ter sua própria "Fleabag"

"Feel Good", série lançada pela Netflix, conta a história semi-biográfica da comediante canadense Mae Martin. Apesar de engraçada, série mergulha em assuntos bem pesados

Publicado em 16/04/2020 às 12h27
Atualizado em 16/04/2020 às 12h44
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Série "Feel Good", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Fleabag”, série original da Amazon, precisou conquistar praticamente todos os prêmios possíveis para que o público prestasse atenção nela. A série genialmente criada e estrelada por Phoebe Waller-Bridge tem humor peculiar, autodepreciativo e com tons dramáticos, além de narrativa de fácil consumo, com apenas seis episódios de cerca de 20 minutos por temporada.

Em busca de uma “Fleabag” para chamar de sua, a Netflix lançou há pouco tempo a série “Feel Good”, com quase todos os pré-requisitos preenchidos (inclusive um nome de pronúncia similar): humor autodepreciativo, uma protagonista complicada e engraçada, seis episódios de 20 minutos… Temos então uma nova “Fleabag”?

“Feel Good” é um veículo para o talento da comediante canadense Mae Martin e o texto da série é uma versão do que poderia ter sido sua vida. Radicada na Inglaterra, com problemas passados com cocaína e acostumada a namorar mulheres que normalmente se identificam como heterossexuais, Mae se recria em cena como uma versão fictícia.

Ela leva a vida como comediante stand-up em um pequeno clube onde um dia conhece George (Charlotte Richie). Logo no primeiro episódio, as duas se apaixonam e engatam um relacionamento aparentemente adorável, mas os problemas também não demoram a surgir. Mae esconde da namorada seu grave histórico com drogas, enquanto George esconde Mae de todos os seus amigos e familiares por vergonha de assumir um relacionamento com outra mulher.

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Série "Feel Good", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Feel Good”, ao contrário do que sugere o título, não é uma série leve, para cima, que te faça “se sentir bem”. A série é pesada, lidando bem com temas como depressão, vícios não apenas em drogas, aceitação e relações familiares.

A versão de Mae que vemos em tela, descrita pela própria comediante como um pouco mais “surtada” que a versão real, é complexa, insegura e, por vezes, irritante. A série faz um excelente trabalho desenvolvendo as personagens de maneira à primeira vista impossível para um roteiro tão enxuto - até alguns coadjuvantes são bem desenvolvidos.

Martin é engraçada, esperta, mas também passa a impressão de carregar todo o peso do mundo nas costas. A química entre ela e Charlotte funciona muito bem, tornando as cenas do relacionamento ainda mais interessantes.

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Série "Feel Good", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Feel Good” é uma história de amor torta e não convencional na qual mergulhamos em dramas com os quais boa parte da audiência não está acostumada a lidar. É também uma série sobre descobertas e amadurecimento, sobre deixar para rever amizades e conceitos - você tem amigos ou pessoas com quem passa o tempo?

Não é uma nova “Fleabag”, mas pode cair no gosto do mesmo público tendo identidade própria. A série de Mae Martin é ágil, enxuta e precisa; ela acerta onde precisa… e dói.

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