Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Fenômeno sexy nos anos 1990, Anna Nicole Smith vira filme irregular na Netflix

Documentário “Anna Nicole Smith: Vocês Não me Conhecem” reconta a história do furacão Anna Nicole Smith criando uma figura trágica para conquistar o espectador

Vitória
Publicado em 17/05/2023 às 01h18
Filme
Anna Nicole Smith foi um fenômeno nos anos 1990. Crédito: Netflix/Divulgação

Na segunda metade dos anos 1990, Anna Nicole Smith era um dínamo, uma potência cultural. Vendendo um charme de menina ingênua, aquele tipo que poderia ser sua vizinha ou a menina bonita da cidade pequena, sempre teve plena ciência do impacto que causava nos homens e do que seria necessário para alcançar o sucesso. Se casou cedo, aos 18 anos, e teve um filho um ano depois; com o término do casamento, se tornou dançarina em uma boate de strip tease e, segundo relatos, garota de programa quando a grana apertava.

Foi na boate que conheceu o bilionário J. Howard Marshall II, um senhor de 89 anos, 63 a mais que ela, que passou a sustentá-la e ofereceu a ela condições de mudar de vida. Anna se tornou modelo e ficou famosa ao posar para a revista “Playboy” em um ensaio que reverenciava Marilyn Monroe. Howard e ela se casaram (ele em uma cadeira de rodas) e o assunto era tratado como piada – uma das mulheres mais desejadas dos EUA, uma ex-stripper, casada com um bilionário com pouquíssimos anos restantes. Mesmo casada, Anna marcava presença em festas regadas a álcool e drogas, sempre acompanhada, sem grandes preocupações. Foi com a morte de seu marido que sua vida ganhou ares mais dramáticos.

A longa introdução dos parágrafos anteriores serve para apresentar ao leitor, talvez uma criança à época, uma das celebridades mais inexplicáveis da indústria. Anna Nicole Smith não era talentosa, não era carismática, engraçada ou nem mesmo interessante, Anna Nicole Smith era um corpo, um pedaço de carne para um público ávido por seu consumo. Sua vida é contada no documentário “Anna Nicole Smith: Vocês Não me Conhecem”, lançado pela Netflix, uma obra que, ao contrário do título, reforça justamente tudo o que já se sabia da vida da biografada.

Com bastante material de arquivo e conduzido por entrevistas de familiares, amigos e outras pessoas que foram próximas à modelo, o filme da diretora Ursula Macfarlane reconta a trajetória de Anna Nicole Smith sem entrar em muitos detalhes, mas com uma boa construção de uma figura trágica.

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Anna Nicole Smith foi um fenômeno nos anos 1990. Crédito: Netflix/Divulgação

Após um breve início na pequena Mexia, no Texas, já somos levados a conhece a Anna Nicole Smith dos holofotes, das campanhas publicitárias, amada por paparazzis. O roteiro faz questão de mostrar sua relação com J. Howard Marshall II como uma construção afetuosa, cheia de carinho de ambos os lados, mesmo que não carnal. O texto também se aproveita dos fatos para construir uma Anna fadada à tragédia, o que funciona para quem já conhece sua trajetória. É curioso como ela é sempre mostrada como uma grande estrela mesmo que não o tenha sido – Anna Nicole Smith era uma celebridade que vivia de revistas de fofocas e polêmicas vazias, o que hoje chamaríamos tranquilamente de uma subcelebridade.

“Anna Nicole Smith: Vocês Não me Conhecem”, como toda biografia convencional, se esforça para oferecer mais camadas à biografada. Assim, a modelo ganha força e até uma profundidade que suscita boas discussões quando o filme deixa a entender que a modelo sabia que dependia de seu corpo e de sua beleza. Toda essa questão, da necessidade de ser sempre linda, dá à Anna Nicole Smith do filme uma característica de vítima – o consumo de droga, por exemplo, sempre aparece justificado por essas questões, principalmente quando falamos de drogas lícitas. O roteiro leva o espectador para o lado da biografada, mesmo quando que ela não seja uma figura necessariamente simpática, quando traz trechos de programas especulando e até fazendo apostas sobre seu peso.

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Anna Nicole Smith foi um fenômeno nos anos 1990. Crédito: Netflix/Divulgação

É interessante quando, perto do fim e após construir Anna Nicole Smith como uma mulher sofrida, o filme faz uma mea culpa sobre a personalidade da modelo, o que não é o suficiente para fazer o espectador se esquecer de tudo o que o filme relevou. Anna Nicole Smith não é questionada como uma possível golpista ou uma alpinista social disposta a tudo pela fama, mas como uma vítima da obsessão das pessoas e da mídia por essas figuras. Ao fim, na verdade, acompanhamos passagens da vida, mas continuamos sem conhecer a biografada de “Anna Nicole Smith: Vocês Não me Conhecem”.

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Anna Nicole Smith foi um fenômeno nos anos 1990. Crédito: Netflix/Divulgação

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