Criado em 1956, o Festival Eurovison da Canção reúne representantes de praticamente todos os países da Europa (os que fazem parte da União Europeia de Radiodifusão) e é exibido anualmente para todoo continente por rádio e TV. Nem sempre seus vencedores ganham o mundo ou algum destaque além da competição, mas ele já teve vencedores como Céline Dion e Abba.
É justamente com a apresentação do grupo sueco com a canção “Waterloo”, no festival de 1974, que tem início “Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars”, lançado nesta sexta-feira (26) pela Netflix. Com família e amigos reunidos em casa, numa pequena cidade da Islândia, o jovem Lars se encanta com o que vê em tela e ganha a companhia de Sigrit para dividir aquela recém-descoberta paixão. Décadas depois, encontramos os dois, agora interpretados por Will Ferrell e Rachel McAdams, ainda morando na tal cidadezinha islandesa, mas formando o duo Fire Saga e sonhando em chegar ao festival e vencê-lo.
Adultos, enquanto Sigrit dá aulas para crianças e tem uma vida própria, Lars continua firme no sonho de ganhar o Eurovision e não faz nada da vida além de apresentações da banda no único bar da cidade. Em uma daquelas viradas doidas do destino, o Fire Saga é escolhido para representar a Islândia no festival; é a grande chance da vida de Lars.
Dirigido por David Dobkin (“Penetras Bons de Bico”), “Festival Eurovision da Canção” é uma comédia na linha do que Will Ferrell se acostumou a fazer ao longo dos anos; sai a patinação artística de “Escorregando para a Glória” (2007) ou o automobilismo de “Ricky Bobby, a Toda Velocidade” (2006) e entra a competição musical. A estrutura, porém, permanece intocada.
O roteiro, escrito por Ferrell e Andrew Steele, é contestável - ao mesmo tempo em que entende a importância do evento para os europeus (Ferrell é casado com uma sueca e se tornou espectador assíduo da competição) e o trata com grandiosidade, o texto ridiculariza toda a estética o que envolve o Eurovision, um festival realmente cercado de uma pompa que confere a ele um ar brega, ultrapassado.
O filme se utiliza dessa estética ridicularizada para mostrar que a obsessão de Lars é injustificada e o faz deixar de aproveitar a vida de outras maneiras, deixar de enxergar Sigrit, por exemplo. Will Ferrell e Rachel McAdams entram nos personagens e compram as ideias do texto, que constrói toda sua narrativa sobre uma estrutura clássica de comédia romântica, porque, ao final, é isso que “Eurovision” é.
Com pouco mais de duas horas de duração, o filme é bem maior do que o necessário, uma característica dos trabalhos de Ferrell. Isso é resultado (ou a causa) de alguns números musicais prolongados que servem para aparições de ex-competidores do Eurovision, como Conchita Wurst, drag queen austríaca que ficou famosa na por vencer a edição de 2014, ou a ucraniana Jamala. Há também espaço para a americana Demi Lovato mostrar seus dotes como uma cantora grega com papel até relevante à trama. O filme, como dito, mesmo fazendo graça, trata o festival com reverência e tem até Graham Norton, apresentador britânico do festival, interpretando ele mesmo.
O texto, vale ressaltar, tem algumas questões interessantes. Ele não se esconde, por exemplo, de criticar a homofobia na Rússia - Alexander (Dan Stevens), o competidor russo, explica muito bem em determinado momento -, mas, por outro lado, ignora as questões de racismo que envolvem o festival.
“Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars” é um filme divertido, com algumas piadas de roteiro muito boas, mas que se torna cansativo ao insistir em algumas dinâmicas; ao fim, é um filme de Will Ferrell, goste do estilo do ator ou não. Trata-se de uma comédia romântica com pano de fundo musical protagonizada por dois atores que entendem quão ridículos são seus personagens. Apesar de toda a roupagem esquisitona reforçada pelo material de divulgação, o filme segue padrões e fórmulas bem estabelecidas; é um filme leve e que garante algumas boas gargalhadas, mas com uns 20 minutos a mais do que deveria ter.
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