Lançado em 2005, “Hooligans”, de Lexi Alexander, mostrava a violência de grupos hooligans na Inglaterra. O filme estrelado por Elijah Wood (“O Senhor dos Anéis”) e por um ainda desconhecido Charlie Hunnam (“Sons of Anarchy”) foca na histórica e violenta rivalidade entre os times londrinos West Ham e Milwall, mas é também um drama convencional e sem grandes surpresas. Ainda assim, o filme é o que vem imediatamente à mente ao falar de "Furioza", lançamento polonês da Netflix.
Furioza é o nome de um grupo hooligan que ocupa seu tempo em brigas organizadas com outros grupos, ameaçando os jogadores do time por resultados melhores e indo aos jogos apenas para causar confusão - o futebol fica em segundo plano tanto para a torcida quanto para o filme. “Furioza” é, em sua essência, um filme de máfia, uma história sobre honra, lealdade e vingança.
O filme tem um início meio estranho, com acontecimentos em um trem onde brevemente conhecemos Dawid (Mateusz Banasiuk). Com uma narrativa não-linear, o filme nos leva ao presente, quando o protagonista é recrutado pela ex-namorada, Dzika (Weronika Ksiazkiewicz), uma policial, para se infiltrar no Furioza a fim de investigar ligações do grupo com o tráfico de drogas. Tanto Dawid quanto Dzika são ex-hooligans e ex-membros da torcida agora comandada por Kaszub (Wojciech Zielinski), irmão de Dawid.
“Furioza” segue a estrutura de filmes policiais com um agente infiltrado, com Dawid mergulhando novamente nas práticas hooligans e se aproximando cada vez mais do risco de ser descoberto. O texto faz algumas escolhas arriscadas e que nem sempre funcionam, como a já citada cena de abertura, que só faz algum sentido lá pelo meio do filme, quando já nem nos importamos mais com ela. O curioso é que a cena em questão é boa e tem importância no filme, mas ela perde peso ao ser picotada.
Da mesma forma, o roteiro dá início ao terceiro ato com um acontecimento forte, mas que acaba atropelado pela narrativa, que necessita partir imediatamente para seu desfecho e não dá aos personagens - e ao protagonista - o tempo necessário para assimilar o que aconteceu.
A maneira como a violência é mostrada é um dos destaques de “Furioza”. Mesmo sem esconder sangue, o filme nunca é extremamente gráfico, mas sua violência é crua e muito próxima da realidade, característica reforçada pelos trabalhos de mixagem de edição de som.
Lembrando muito o filme italiano “Gomorra” (2008), o longa dirigido por Cyprian T. Olencki usa sons secos para socos, golpes de fação e tiros, deixando tudo mais crível; ainda, as coreografias não são tão elaboradas ao ponto de parecerem falsas, o que faz com que sintamos a intensidade e o peso dos golpes.
É interessante como, apesar do apressado ato final, no qual muita coisa acontece, o filme ainda consegue dar uma desacelerada antes de seu desfecho. “Furioza” chega perto de glamourizar os hooligans, a lealdade entre eles e o código moral, mas essa narrativa perde força quando se percebe que essas são características incentivadas ou refutadas pelas lideranças. Perto do fim, o roteiro reforça o peso das escolhas individuais e o preço a ser pago por elas.
“Furioza” é um bom filme policial, com ótimas cenas de ação, mas também um bom drama sobre cisões, sobre aquela trajetória iniciada em conjunto que, por um ou outro motivo, acaba separando os caminhos. Tem problemas de estrutura narrativa, mas eles são facilmente superados pela brutalidade do filme e pelo peso de seu desfecho.
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