Na desesperada busca dos estúdios por um universo compartilhado para chamar de seu, a Legendary/Warner apostou no sucesso do excelente “Godzilla” (2014), de Gareth Evans, para criar o seu universo de monstros, o MonsterVerse. Em 2015, a Legendary anunciou que “Kong: A Ilha da Caveira” (2017) seria lançado pela Warner, e não pela Universal, como inicialmente planejado. O motivo da troca era simples: a possibilidade de Godzilla e Kong se enfrentarem no futuro.
Os dois filmes têm tons distintos. “Godzilla” aposta no drama humano de pessoas lidando com uma ameaça poderosa, desconhecida e pouco revelada durante a maior parte do filme - não à toa foi comparado ao clássico “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg. Já “Kong: Ilha da Caveira” é um filme de ação de puro entretenimento, um espetáculo visual cheio de boas referências e que fazia a conexão entre os dois titãs. Como seria o encontro desses universos tão distintos?
“Godzilla: 2 Rei dos Monstros” (2019) não chega perto dos filmes anteriores. A qualidade visual continua lá, mas o roteiro não acompanha o nível. O resultado é um filme pouco criativo de kaijus brigando durante duas horas, algo que, vale ressaltar, Guillermo Del Toro já havia feito com muito mais qualidade em “Círculo de Fogo” (2013). A recepção de crítica e público foi morna, mas, felizmente, o apelo pop dos personagens e o anseio pelo embate entre eles foi o suficiente para que “Godzilla vs. Kong”, o epítome desse universo, chegasse às telas.
O filme dirigido por Adam Wingard, responsável por obras de qualidade duvidosa como “Bruxa de Blair” (2016) e o live-action de “Death Note” (2017), não tem o tom de “Godzilla”, mas tampouco abraça a galhofa de “Godzilla 2: O Rei dos Monstros”. “Godzilla vs. Kong” se aproxima mais de “Kong: A Ilha da Caveira”, mas sabe aproveitar elementos para construir a tensão e expectativa para o inevitável conflito.
Com o universo já estabelecido, a existência dos “titãs” já é de conhecimento mundial, mas os monstros deram uma paz à população. Isso, claro, até Godzilla inexplicavelmente atacar as instalações da Apex Cybernetics, uma empresa de tecnologia sobre a qual pairam diversas dúvidas.
A aparição de Godzilla coloca em questão também a mudança de Kong, agora bem maior do que a versão que conhecemos na Ilha da Caveira em 1973. A ideia é levá-lo para o centro da Terra, à Terra Oca. Conhece a teoria? Várias vezes exploradas pela cultura pop, como em “Viagem ao Centro da Terra”, de Jules Verne, a teoria diz que a Terra é oca e que há criaturas e populações inteiras vivendo em seu interior, um prato cheio para a ficção científica.
Segundo a equipe comandada por Ilene (Rebecca Hall) e Nathan (Alesxander Skarsgard), Kong conseguiria viver livremente lá e ainda ser acompanhado, pois, aparentemente, há mais sinal de telefone por lá do que em outros lugares pelo qual o filme passa. O problema é que, como o roteiro faz questão de reforçar desde o início, existe a crença de que “só pode haver um alfa” e, por isso, Godzilla sentiria a presença e tentaria eliminar Kong.
“Kong vs. Godzilla” é bom em mise-en-scene, em preparar o cenário para o porradeiro entre os monstros. Após o primeiro encontro, já entendemos o que pode acontecer no inevitável segundo embate e conhecemos também o poder de ambos. O roteiro trata Godzilla como a imparável e inexplicável força da natureza que é, mas trata Kong com reverência e o humaniza em sua relação com a pequena Jia (Kaylee Hottle). Muda, a jovem aprendeu a se comunicar com o gorila via linguagem de sinais.
A carga dramática do filme fica toda com seu protagonista, uma vez que o núcleo humano é desinteressante e funciona apenas para explicar (em excesso) o texto e como ocasional alívio cômico. Claro, é interessante ter os personagens de Millie Bobby Brown e Kyle Chandler de volta, mas eles poderiam ser substituídos por quaisquer outros que não fariam diferença alguma.
Mas e a ação, o que verdadeiramente importa para os fãs? Os personagens de “Godzilla vs. Kong” não têm o peso dos do já citado “Círculo de Fogo” no cenário, mas também não decepcionam, protagonizando muita pancadaria e destruição. Há algumas escolhas quase risíveis, mas fica claro que elas são parte do que Adam Wingard e a Legendary querem para a franquia: transformar suas criaturas em super-heróis. Não é coincidência, assim, a escolha por não vilanizar nenhum dos dois.
“Godzilla vs. Kong” é o que se propõe a ser, um blockbuster totalmente voltado para o entretenimento e nada mais. Não cobre lógica alguma do roteiro, pois não há, é absurdo seguido por absurdo, quando você acha que ter dois monstros gigantes brigando é absurdo, o roteiro vai lá e te surpreende.
Já lançado nos cinemas de diversos mercados mundo afora e fazendo sucesso, o filme de Adam Wingard ainda deve demorar um pouco para chegar ao Brasil. Após ser remarcado para março, agora ganhou nova data: 29 de abril, data em que a Warner acredita ter mais chances de levar espectadores aos cinemas. Aos mais ansiosos pelo filme, é possível assisti-lo utilizando VPN via HBO Max, pois “Godzilla vs. Kong” é parte da estratégia da Warner de lançar filmes simultaneamente nos cinemas e na plataforma de streaming em 2021.
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