Quando Alice (Claudia Gusmano), a protagonista de “Guia Astrológico Para Corações Partidos”, indaga "por que crescemos vendo comédias românticas se histórias assim nunca acontecem na vida real?", a sensação é a de estarmos diante de mais uma história que vai se esforçar para subverter a fórmula do gênero. Ledo engano. A personagem, na verdade, não está cansada de ser enganada pelas comédias românticas, ela quer é viver a sua comédia romântica particular e encontrar um grande amor.
Nova série da Netflix, a italiana “Guia Astrológico Para Corações Partidos” leva para as telas o livro homônimo de Silvia Zucca e acompanha Alice, uma assistente de direção de TV na casa dos 30 e que acaba de receber a notícia de que seu ex se casará e vai ser pai. Para piorar um pouco o cenário, tanto o rapaz quanto sua nova companheira trabalham na mesma emissora que Alice.
A vida da protagonista muda quando ela conhece Tio (Lorenzo Adorni), ator de uma das novelas do canal e um autoproclamado especialista em astrologia. A princípio descrente da relação entre astros e personalidades, Alice passa a se interessar pelo assunto quando algumas dicas de Tio casam perfeitamente com a personalidade das pessoas com quem ela tem se relacionado.
Com episódios curtos e de narrativas ágeis, “Guia Astrológico Para Corações Partidos” oferece um entretenimento honesto, mesmo que nada original. As situações vividas por Alice poderiam ser perfeitamente encaixadas em alguma das personagens de “Valéria”. Alice é construída como Valéria, um perfil não muito diferente do popularizado por Helen Fielding com os livros de Bridget Jones, mas as séries se assemelham também na forma como filmam suas cidades (Madrid e Turim) como partes essenciais das histórias, com um olhar romântico de Espanha e Itália, respectivamente.
Como indica o título, a série faz da astrologia algo essencial para seu desenvolvimento. É interessante, assim, como o próprio texto cria um clima brega e meio místico para falar do assunto, quase como uma piada interna. O roteiro entende a brincadeira que está propondo e mergulha de cabeça nela, como o vídeo do Porta dos Fundos que um réu é julgado pelo assassinato que cometeu com base em seu signo e no da vítima.
É divertido quando o texto dialoga com o espectador e com experiências vividas pelas pessoas do outro lado da tela. Assim, uma piada sobre determinado signo pode não significar nada para um, mas é pontual para outro. Não é à toa que a série tem um episódio para cada signo, com seis na primeira temporada, já disponível na Netflix, e outros seis na segunda parte, que chega à plataforma no ano que vem.
Essa divisão das temporadas deixa uma sensação de que a série está incompleta, e de fato está. Os seis episódios iniciais não parecem ter sido pensados para formar um arco e encerrá-lo de maneira satisfatória. Assim, a impressão que temos ao final do sexto episódio, quando o botão “próximo episódio” não aparece, é de total frustração e falta de recompensa.
Se astrologia e signos não são sua praia, não tem problema, o texto é esperto o suficiente para tratar o assunto como um tempero, uma piada, algo divertido e nunca levado totalmente a sério. “Guia Astrológico Para Corações Partidos” é uma comédia romântica com tudo o que se espera de uma obra do gênero - corações quebrados, amizades, novos amores, encontros e desencontros - e funciona justamente por não tentar esconder isso.
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