“Homecoming” é a melhor série que pouca gente vê. Levada para as telas por Sam Esmail (“Mr. Robot”) em parceria com Micah Bloomberg e Eli Holowitz, criadores do podcast que inspirou a série, a primeira temporada, lançada em 2018, usava o podcast como base para uma história esquisita, com uma estética única, dimensão de tela variável e enquadramentos ousados - por mais que tudo fosse estranho, a trama ia ganhando sentido à medida que a temporada caminhava com doses de suspense, mistério e uma atuação gigante de Julia Roberts.
Enquanto o podcast já tinha duas temporadas à época, “Homecoming”, a série, juntou as histórias em uma leva de 10 episódios de cerca de 30 minutos cada, um formato incomum para uma série de suspense. A ideia era não ter uma segunda temporada, mas o resultado e a recepção da crítica foram tão incríveis que uma nova história se tornou inevitável.
Eis aqui, então, a segunda temporada de “Homecoming”. Sem Julia Roberts, que assina como produtora executiva, a série agora tem Janelle Monaé como atração principal. Invertendo os papéis narrativos da trama, Janelle vive uma militar que acorda sozinha em um barco sem se lembrar de nada o que aconteceu. Sai a terapeuta, entra a paciente.
Ela chega à margem e passa a seguir qualquer pista que encontra em busca de ao menos descobrir quem é e o que aconteceu a ela. As pistas aos poucos a levam ao programa Homecoming e a alguns acontecimentos e personagens da primeira temporada.
O começo da nova temporada, disponível a partir de sexta-feira (22) no Amazon Prime Video, é tenso e linear. Enquanto no primeiro ano tínhamos linhas narrativas diferentes, “Homecoming” agora é mais simples ao acompanhar a jornada da personagem de Janelle Monaé e suas descobertas.
O roteiro é afiado, com ótimas sacadas e com tudo muito bem amarrado ao longo de sete episódios que parecem ter sido pensados para uma pequena maratona. O texto nos leva de volta àquele universo, mas amplia o que conhecemos até então - o projeto ainda está lá, mas agora percebemos sua real dimensão.
“Homecoming” continua tecnicamente interessante, mas agora se apresenta menos estranha, com enquadramentos mais convencionais e sem a já citada dimensão de tela variável, algo que funcionava a favor da narrativa e talvez não tivesse o mesmo impacto sem o fator novidade. Os episódios agora ficam a cargo de Kyle Patrick Alvarez, que acertadamente não tenta imitar a estética de Sam Esmail - o diretor abusa de takes longos e alguns planos-sequência, mas o destaque fica por conta da ambientação e da construção do suspense.
Os primeiros episódios são incríveis, com um mistério crescente que já prende o espectador de cara, algo que demora a acontecer na primeira temporada. Tendo conquistado e desorientado seu público, “Homecoming” então puxa o tapete de quem acredita ter entendido alguma coisa e reconstrói novamente sua narrativa principal até chegar em seu clímax catártico.
É interessante ver como o roteiro foge do que já foi construído no podcast, mas ainda se mantém fiel ao que foi contado na primeira temporada. As histórias se cruzam, personagens conhecidos dão as caras, ganham destaque e se tornam protagonistas. Nada disso seria possível com atuações medianas, mas Janelle Monaé, Chris Cooper e Stephan James seguram bem a trama - vale ressaltar a personagem de Joan Cusack, cujo nome, Francine Bunda, ganha significado especial e vira piada de tiozão no Brasil.
Em sua segunda temporada, “Homecoming” se torna mais convencional sem perder o encanto e a qualidade. Com uma narrativa mais linear, a série prende alguns fios soltos e praticamente encerra a possibilidade de seguir com uma nova história no universo que criou. O final não é apenas bom, ele é recompensador e faz valer o tempo investido pelo público na história.
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