Em resumo, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é um espetáculo ambicioso e grandioso. Desde a sequência de abertura, situada no universo da Gwen Stacy Mulher-Aranha (Hailee Steinfeld) que conhecemos no primeiro filme, o impacto visual é imediato, com um estilo artístico meio surreal, cheio de detalhes que te fazem querer analisar o filme quadro a quadro. É durante essa abertura que somos brevemente apresentados a Miguel O’Hara (Oscar Isaac), o Homem-Aranha 2099, e a Jessica Drew (Issa Rae), agentes da Sociedade Aranha, organização que reúne (quase) todos os Aranhas do multiverso para o controle de anomalias.
Quando Miles Morales (Shameik Moore) volta à tela, ele já está bem mais habituado aos poderes do que vimos no filme anterior. A caminho de uma reunião com os pais na escola, ele se depara com um vilão meio mequetrefe, o Mancha (Jason Schwartzman), que abre pequenos portais e oferece uma dinâmica de combate interessantíssima. Miles não se dá conta é de que Mancha não é um apenas um “vilão da vez”, mas uma ameaça à estabilidade do multiverso que chama a atenção da Sociedade Aranha e leva Gwen de volta àquele mundo.
Dirigido por Joaquim Dos Santos, Kemp Powers (“Soul”) e Justin K. Thompson, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é uma jornada divertida, frenética e quase psicodélica por todos os universos do personagem. Com a premissa dos diferentes universos, o filme se conecta com os quadrinhos, as animações, live-action e até os jogos sem dificuldade alguma. Da mesma forma que o filme de 2018 faz, “Através do Aranhaverso” respeita as diferentes características de cada Aranha – personagens são animados com diferentes estilos, com taxas de quadros diferentes, cada universo tem suas características próprias.
É interessante que a grande missão da Sociedade Aranha seja “manter o cânone intacto”, ou seja, alguns acontecimentos são inevitáveis nas vidas dos Aranhas. O texto é ótimo ao introduzir esse conceito naturalmente, junto com o Homem-Aranha indiano, antes da devida explicação, que funciona como um complemento para o espectador. Se o cânone não for respeitado, todo o universo pode desaparecer.
É fácil traçar o paralelo do filme com os universos cinematográficos dos heróis, mas por que tudo deve ser sempre igual? Principalmente, por que é justamente o Homem-Aranha negro e latino a exceção? “Através do Aranhaverso” antagoniza Miles Morales e o cânone do Homem-Aranha, com Miguel O’Hara e a Sociedade Aranha representando o pragmatismo, o conservadorismo de fazer tudo sempre igual, de executar sem questionar apenas porque “sempre foi assim”. Miles é o ponto fora da curva, a anomalia naquele universo e não cogita abaixar a cabeça e seguir as regras apenas por seguir, como fizeram alguns de seus pares. Sem entrar em spoilers, a sequência de Miles dentro do Aranhaverso é incrível, com diversas aparições e incontáveis versões diferentes do personagem (são 240 personagens no filme).
“Através do Aranhaverso” tem bom texto, diálogos ricos, ótimas piadas e um estilo de cinema só possível nas animações. Visualmente, o filme está entre os mais incríveis já feitos. É curioso como o filme é muito superior a tudo o que já foi feito com o personagem nos cinemas e, ainda assim, se relacione com tudo isso. As conexões com o primeiro filme funcionam, com bons personagens retornando, e até a ligação com os filmes do herói é natural e de fácil compreensão.
Dito isso e diante de todo o encantamento, “Através do Aranhaverso” é um filme incompleto e relativamente atropelado. O roteiro constrói bem o Mancha como vilão, o conectando ao universo de Miles e ao de tudo o que foi feito nos dois filmes, mas se esquece dele quando se aproxima do clímax. Quando o fim se aproxima, o espectador percebe não haver mais tempo para que aquela história seja finalizada – é frustrante, mesmo diante da certeza de mais um filme, pois “Além do Aranhaverso” já está confirmado com previsão de estreia em 2024.
O problema é que o gancho oferece uma quebra repentina, uma pausa em um momento da aventura que não deveria oferecer essa parada, como se percebessem, durante a produção, que o filme estava longo demais. É frustrante que após 140 minutos de puro encantamento, diversão e emoção, um dos melhores filmes do ano se encerre com um certo vazio, perdendo o momento.
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