“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é um filme-evento, o primeiro da Marvel/Disney desde “Vingadores: Ultimato”, em 2019. Isso significa que a nova aventura do Cabeça de Teia é mais que um filme e não deve ser analisado somente pelo aspecto cinematográfico. O quê, afinal, leva pessoas a derrubarem sites de vendas de ingressos para uma pré-estreia ou as faz ir fantasiadas ao cinema? A experiência vai além da qualidade do filme, ela se torna uma recompensa pela dedicação de quem acompanha as adaptações do MCU desde o início - na verdade, desde antes do início.
Ser esse filme-evento, essa experiência, não faz da terceira aventura solo do Homem-Aranha no Universo Cinematográfico Marvel um filme descartável ou ruim, pelo contrário, sua qualidade apenas reforça o evento. Novamente dirigido por Jon Watts, o “Sem Volta Para Casa” tem início imediatamente após o filme anterior, com o segredo de Peter Parker sendo revelado para o mundo. Nos momentos seguintes, acompanhamos o jovem e seus amigos tendo que lidar com a indesejada fama.
Essa dinâmica segue até o momento que, como já vimos em todas as prévias, Peter procura o Doutor Estranho e o questiona sobre a possibilidade de fazer com que esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Algo dá errado, como os trailers também já revelaram, e logo o Aranha se depara com as consequências. E agora?
Este texto, vale ressaltar, não entrará em nenhum spoiler que não tenha sido revelado por trailers e cartazes. Dito isso, “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” continua sendo uma história de heróis, um filme Marvel, mas se transforma em uma espécie de filme de redenções. É curioso como o roteiro, ao mesmo tempo que segue a fórmula estabelecida pelo MCU, também subverte alguns conceitos (no que é possível “subverter” a Marvel, claro) e faz ótimo proveito dos vilões dos filmes de outros "universos", justamente o calcanhar de Aquiles de quase todos filmes Marvel/Disney.
A grande sacada é que o público já conhece aqueles vilões, ou seja, não é necessário reintroduzi-los além de um ou outro diálogo para refrescar a memória dos mais esquecidos - alguns deles ganham até mais profundidade. Além disso, é incrível como “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” se beneficia da presença de um ator do peso de Willem Dafoe ou de um personagem interessante e conflitante como o Dr. Octopus mesmo com Alfred Molina apenas protocolar.
O medo inicial - meu inclusive - era de que a presença desses vilões tornasse o filme uma grande bagunça sem foco - lembra de "Homem-Aranha 3", de Sam Raimi? Ele não é tão ruim quanto se prega hoje, mas a falta de foco minou o filme. A boa notícia é que isso não acontece na terceira aventura protagonizada por Tom Holland, ainda que um ou outro personagem acabe meio esquecido pelo texto. “De Volta Para Casa” é um filme que se resolve bem, com arcos bem definidos e todos eles com clímax próprios.
Desde o primeiro fotograma, Jon Watts entende estar realizando um evento e sabe da necessidade de recompensar um público que vai à sala de cinema esperando ser recompensado. Por isso, cada ato do novo “Homem-Aranha” tem sua(s) catarse(s) em uma ou outra cena que faz o público gritar e bater palmas; pode ser uma breve aparição, uma cena de ação, uma surpresa… A ideia é fazer com que o espectador saia do cinema dizendo exatamente as palavras proferidas por um rapaz atrás de mim: “Não tem como, é o melhor filme da Marvel”. Talvez nem mesmo ele acredite nisso daqui a dois dias, mas cinema é sensação, experiência e emoção, não apenas uma análise fria do que se vê em tela.
Analisando friamente, inclusive, “Sem Volta Para Casa” tem problemas - o Electro de Jamie Foxx nada acrescenta, o primeiro ponto de virada que faz a trama caminhar é bobo, algumas escolhas do personagem são estranhas e alguns diálogos beiram o constrangimento, mas nada disso realmente importa quando o filme te faz esquecer desses pontos instantes após torná-los notáveis.
Outro ponto negativo é o cansaço da fórmula dos heróis. Curiosamente, esse cansaço teria mais peso neste texto se este que vos escreve tivesse assistido ao filme em uma sessão para a imprensa, mas assisti-lo em uma sala cheia de fãs que se sentiram recompensados dão a estas palavras a mesma sensação da escrever sobre “Vingadores: Ultimato” após sair da sessão em plena madrugada. A empolgação vai baixar, o olhar crítico aumenta em uma segunda assistida ao filme, mas nada apaga a experiência.
É interessante como o texto se transforma com as sensações de cada arco. Toda a história do Multiverso é obviamente confusa, mas o roteiro lida com ela apenas dizendo “bem, é complicado” (e será aprofundada em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”). Os diálogos iniciais entre Doutor Estranho e Peter nos lembram de que o Homem-Aranha pode ter lutado contra o fim da humanidade, mas ainda é um adolescente, o único adolescente dos Vingadores. A questão em “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” não é o multiverso em si, é o fim da inocência de Peter, é sua compreensão do que significa ser o Homem-Aranha, algo já conhecido pelo público, que se emociona quando o herói se percebe neste caminho. As outras aventuras do personagem, justamente para introduzi-lo com certo frescor, uma decisão à época acertada, não davam conta dessa essência.
“Sem Volta Para Casa” é o filme mais grandioso do Homem-Aranha no Universo Marvel e desperta aquela sensação que o MCU ainda não causara no espectador em sua fase 4 (“Viúva Negra”, “Shang-Chi” e “Eternos”, além das séries do Disney+). Essa grandiosidade pode representar também que a Marvel tem planos mais ambiciosos para Jon Watts (o próximo “Vingadores”, talvez?). A semente para novas histórias está ali, assim como os pilares para a construção de Universo Cinematográfico Marvel renovado e sustentado em torno do Homem-Aranha.
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