Lançado em 2002 no Brasil, a comédia alemã “Formiga nas Calças” contava a história de um adolescente que acorda um dia e descobre que seu pênis pode falar com ele. Na onda de filmes como “American Pie”, o filme do roteirista Granz Henman lidava com a adolescência e da descoberta da sexualidade com um olhar da época, ou seja, uma visão bem sexista e preconceituosa. O filme foi um sucesso e até teve uma continuação, que nunca chegou por aqui, mas envelheceu muito mal.
“Hormônios à Flor da Pele”, lançado pela Netflix, reimagina o filme de 2002, mas busca um olhar mais contemporâneo. Escrito e dirigido pelo mesmo Henman, o filme repete a fórmula que deu certo (ao menos na bilheteria) décadas atrás. Desde a infância, Charly (Tobias Schäfer) sofre bullying relacionado ao tamanho de seu pênis, o que fica claro na sequência de abertura. Nada popular na escola, Charly tem em Paula (Cosima Henman) sua melhor amiga – eles foram criados juntos e possuem um relacionamento quase de irmãos, pelo menos é o que dizem...
Um dia, após quase ser atingido por um raio na noite anterior, Charly acorda excitado e com um pênis falante que só pensa em uma coisa: sexo. A premissa, então, é a mesmíssima do filme original? Mais ou menos… Paula estava junto com Charly no momento do raio e, por isso, também acorda com uma vulva falante e obcecada em perder a virgindade.
“Hormônios à Flor da Pele” busca se atualizar, mas nem sempre acerta. Não há piadas com a orientação sexual dos personagens e até coloca homens gays entre os mais populares da escola. Da mesma forma, busca a naturalidade quando uma personagem se declara bissexual, nunca fazendo disso o conflito do roteiro. Essa desconstrução, no entanto, ainda não impede que todos os jovens se encaixem no antigo padrão de beleza com corpos impecáveis exalando sensualidade.
Não há espaço para sutilezas no filme de Henman, até porque as duas genitálias falantes representam os hormônios, o desejo e o impulso que a racionalidade esconde. Essa representação fica clara na sequência da festa, na qual, à medida que fica mais bêbado, Charly passa a falar exatamente as mesmas frases de seu pênis. Toda essa descoberta sexual serve como pano de fundo para que Charly e Paula se entendam também além da amizade.
É curioso como Henman busca a tal atualização de conteúdo, mas não se preocupa em atualizar também o estilo do filme. “Hormônios à Flor da Pele” recorre a diversos clichês das comédias americanas dos anos 1990 e 2000, com adolescentes mal desenvolvidos, encaixados em formas, e adultos unidimensionais utilizados basicamente para constranger os jovens.
Em sua essência, “Hormônios à Flor da Pele” é uma comédia romântica padrão, sem nenhuma ousadia narrativa. Quando busca uma dinâmica similar à da animação “Big Mouth”, com muita verborragia e absurdos sendo pensados/ditos pelas genitálias falantes, “Hormônios à Flor da Pele” tem momentos engraçados. O filme atinge mais um público que não se relaciona tanto com aqueles personagens e parece ter sido feito para as mesmas pessoas que curtiam “American Pie” no final do século passado. É fácil prever as viradas do texto no exato momento em que elas se desenham, restando pouco a se aproveitar do filme além de suas piadas nem sempre de bom gosto.
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