Estarmos diante de uma segunda temporada de “Hunters” é a prova de que a Amazon Prime Video não funciona pelas mesmas métricas da Netflix. Lançada em fevereiro de 2020, a série em que Al Pacino comanda um grupo de caçadores de nazistas tem início muito bom, mas não mantém o ritmo ao longo da temporada de estreia. Ao fim, tanto público quanto crítica tiveram uma recepção bem morna à série - acostumado aos cortes da principal concorrente do Prime Video, acreditava que dificilmente a produção da Amazon teria novas temporadas.
Eis que, quase dois anos depois, “Hunters” está de volta com mais oito episódios e até bem disposta a mudar algumas impressões deixadas pela temporada inicial. A série é retomada algum tempo após os acontecimentos da temporada anterior e se desenvolve agora em duas linhas temporais. Uma delas, na metade dos anos 1970, mostra como Meyer Offerman (Al Pacino) chegou ao ponto de criar a equipe que caçava sobreviventes nazistas após o fim da Segunda Guerra. Mesmo um pouco descolado do resto da série (por motivos óbvios para quem viu a primeira temporada), o arco de Meyer oferece estofo à série e concentra boa parte do drama da temporada, além de oferecer a Al Pacino mais tempo de tela.
Em sua linha “principal”, “Hunters” traz de volta os outros caçadores. Quando os reencontramos, cada um seguiu sua vida; Jonah (Logan Lerman) se dedica aos estudos na França, mas continua caçando nazistas nas horas vagas. Nos EUA, a agente do FBI Millie Morris (Jerrika Hinton) tenta punir ex-nazistas, mas pela força da lei, mas percebe que a justiça nem sempre é tão justa assim. Assim, Jonah e Millie decidem reunir os caçadores após uma pista de que Hitler está vivo e vivendo na Argentina (destino de muitos nazistas fugidos dos julgamentos pós-guerra).
“Hunters” tem uma certa mudança de tom na segunda temporada. Algumas fetichizações da violência são deixadas de lado, assim como o tom lúdico de alguns episódios da primeira temporada. Todo o desenvolvimento narrativo de Meyer funciona como um estudo de personagem e dá a ele mais profundidade, levando o espectador a entender melhor suas escolhas na temporada anterior, principalmente na virada final. Por mais que seja ótimo ter mais Al Pacino em tela, um nome que já justifica a existência da série, seu arco nunca se conecta de fato ao principal, o que a série deixou em aberto no final da temporada passada.
No arco dos caçadores, “Hunters” continua com pegada pop. A remontagem da equipe, no segundo episódio, funciona bem, dando à série um ar de narrativa de assalto. O texto de David Weil (neto de um casal de poloneses sobreviventes do Holocausto), criador da série, tem uma ironia que nem sempre funciona, mas que dá o tom do roteiro e contrabalanceia a dura violência dos assassinatos de nazistas com uma dose de humor.
Logan Lerman segura bem a série e seu Jonah é o coração de “Hunters”. É interessante como o texto busca reumanizar Jonah após ter parte da primeira temporada desenvolvida com a simetria dele estar ou não se tornando aquilo que caça. O personagem ganha uma namorada e uma vida pessoal que sacrifica em prol do que considera ser um bem maior; é também em sua relação com os outros personagens que a série tem arcos dramáticos em sua linha principal.
Ao fim, “Hunters” é uma série cheia de boas ideias, mas com a execução nem tão boa a organizar essas ideias. Mesmo assim, superando as falhas narrativas e a perda de foco, o final oferece boas resoluções para os personagens e, principalmente, uma sensação de satisfação que deixa a impressão de a jornada ter sido mais prazerosa.
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